Empresários londrinenses que iniciaram sua carreira
como empregados e viram no segmento de mercado no qual atuavam uma oportunidade
de investir no próprio negócio afirmam que o planejamento associado à
persistência e dedicação são a base do sucesso.
Ary Sudan trabalhou por 25 anos e adquiriu ampla experiência no ramo de
baterias automotivas até decidir investir na sua própria empresa, a Rondopar,
fundada em 1984. "Trabalhávamos em uma empresa e embora fôssemos gestores,
não éramos os donos. Quando discordávamos de alguma questão administrativa,
brincávamos que um dia teríamos a nossa empresa e que seria diferente. A
brincadeira foi se repetindo e virou sonho pronto para se tornar
realidade", relembra Sudan. "No início fazíamos de tudo, até
descarregávamos o caminhão com matéria-prima porque não tinha
empilhadeira."
A empresa foi fundada em um período de crise severa, com uma inflação de 273%
ao ano e muitas incertezas no mercado. O Brasil estava sob o comando do FMI
(Fundo Monetário Internacional) e vinha cambaleando com os efeitos da crise do
petróleo. Dois anos antes, em 1982, o México havia quebrado e o Brasil era
apontado como o próximo da fila. "Muita gente dizia que éramos loucos por
colocar os poucos trocados que tínhamos em um novo negócio durante a
crise", conta Sudan. Para driblar os efeitos da inflação galopante nas
finanças da empresa, o balanço mensal era convertido em dólares. Só assim era
possível ter uma noção clara dos números. Tempos difíceis.
Mas acreditar na ideia foi fundamental. A empresa começou pequena, com apenas
sete funcionários, e muito planejamento. O sócio, Luís Carlos André, se
dedicava integralmente ao projeto enquanto Sudan, ainda empregado em uma
empresa, reservava à Rondopar os finais de tarde, horários de almoço e finais
de semana. A carga horária de ambos somava de dez a 12 horas diárias. "Aos
poucos fomos colocando em prática os nossos sonhos. Eu tinha trabalhado em boas
empresas, o Luís também. Eu era formado em economia e direito, tinha
pós-graduação. O Luís é químico. Tínhamos uma base boa e quando você tem essa
base, você consegue ver as coisas de uma forma diferente, o seu mundo é
maior", avalia Sudan. "Nosso orçamento era pequeno, mas a gestão era
de uma empresa grande."
Em 1986, com o Plano Cruzado, os produtos sumiram das prateleiras e foi aí que
os sócios aproveitaram para entrar mais fortemente no mercado. Com as marcas
mais conhecidas em falta, os consumidores começaram a comprar os produtos da
nova empresa e puderam atestar a sua qualidade. "Se para muitos o Plano
Cruzado foi uma dificuldade, para nós foi uma ajuda muito grande, lucramos,
demos um salto", relembra Sudan.
"A empresa cresce, vamos vencendo os desafios e chegamos no ponto mais
alto, que é o momento mais crítico, aí é que temos que nos reinventar. Tivemos
que fazer isso muitas vezes. Procuramos ter muito equilíbrio nas crises para
não entrar em parafuso e não fazer besteira. As crises foram várias",
ensina Sudan, que hoje comanda 200 funcionários e uma segunda empresa, a
Tamarana Metais, que atua no ramo da reciclagem.
CONSULTORIA
Trajetória semelhante teve Moacir Vieira dos Santos, fundador da Value, empresa
de consultoria empresarial criada em 2006. Ele era funcionário de uma
concessionária de máquinas agrícolas e enxergou uma oportunidade de transformar
os seus conhecimentos na área em consultoria. Entre a ideia inicial e o pedido
de demissão para iniciar o empreendimento, foi um ano e meio de planejamento.
"Meu sonho era ter uma empresa com todo o processo de gestão. Estava claro
que eu não queria ser um consultor autônomo. Não queria que contratassem o
Moacir, mas a minha empresa. Comecei com uma secretária, depois contratei uma
pessoa, em 2008 eu tinha um escritório pequeno", conta o empresário que
hoje emprega 25 funcionários diretos e indiretos e tem uma carteira de mais de
60 clientes em 14 estados.
"Foi uma decisão muito difícil a de me tornar empreendedor. Eu tinha um
salário fixo, já era casado, tinha um filho bebê, tinha uma certa estabilidade.
A primeira dificuldade era encarar uma instabilidade. A partir do momento em
que você tem um negócio seu, você é 100% responsável pela sua
remuneração", relembra Santos.
E a instabilidade financeira continua sendo um dos principais desafios e que
exigem muito esforço para driblá-lo. A Value mantém clientes desde 2006, mas os
contratos são sempre de curto e médio prazos, renovados todos os anos.
"Temos que estar sempre à frente no conhecimento, ter conhecimento técnico
para oferecer um diferencial no mercado."
Nos 11 anos à frente da própria empresa, Santos enfrentou crises. A mais severa
em 2015 e 2016. Mas afirma que alguns pilares foram importantes para conseguir
se sustentar no mercado e atravessar os períodos de turbulência. "A
questão da reputação, a confiança dos nossos clientes, que nos indicaram a
outros clientes, e ter uma equipe alinhada com os valores e objetivos da empresa.
Nos últimos dois anos, trabalhamos muito."
E se a crise trouxe dificuldades e novos desafios a vencer, como a
inadimplência, também abriu oportunidades. "Fiz contratações de uma forma
mais efetiva do que quando estava em época de vacas gordas. No ano passado
conseguimos fazer boas contratações", afirma Santos. "E o grande
ponto para vencer a crise é manter o princípio de prestar um serviço de muita
qualidade e confiança e fortalecer ainda mais a equipe."
Também foi necessário rever custos, preços e processos, se readequando ao
momento de crise. "Posso ter o melhor serviço, se as pessoas não têm
condição de comprar, não adianta."
Para 2018, as expectativas são as melhores. "Acredito que vai aumentar
mais a demanda do escritório e uma demanda maior vai necessitar estar mais
preparado para um possível crescimento. Continuo com vagas em aberto para
contratação."
Fonte: Folha de Londrina/Simoni
Saris