"O homem deve criar as
oportunidades
e não somente encontrá-las."
(Francis Bacon)
O relato a
seguir é um caso real que me foi narrado por meu amigo Flávio Maneira,
executivo da indústria farmacêutica.
Conta-me ele que em uma cidade interiorana havia um renomado médico famoso por
sua impessoalidade no tratamento aos propagandistas - nome dado aos executivos
de vendas de laboratórios.
O referido doutor recebia estes profissionais uma única vez por semana, num
intervalo de duas horas e mediante prévio agendamento. Os vendedores entravam
um a um em seu consultório e enquanto demonstravam seus produtos, o médico se
ocupava em navegar na internet e responder e-mails. Deixavam suas amostras e
partiam sem receber do digno catedrático um aperto de mãos, um agradecimento ou
mesmo um mero olhar.
Flávio me conta que em sua terceira visita a este médico pediu-lhe que parasse
de manusear o computador e o ouvisse por apenas um par de minutos. Começou
perguntando-lhe se sabia seu nome, recebendo uma resposta negativa, embora nas
ocasiões anteriores tivesse se apresentado e deixado seu cartão. Em seguida,
disse-lhe que não mais o visitaria, pois para deixar amostras de produtos
bastava enviar um mensageiro. Por fim, comentou com o cliente: "Você sabe qual
sua imagem em nosso meio? Absolutamente ninguém gosta de visitá-lo!"
Surpreendentemente, o médico olhou para Flávio, repetiu seu nome e pediu-lhe
que retornasse ao consultório, no dia seguinte, para conversarem. Neste
encontro, o clínico pacientemente ouviu todas suas considerações, acatando a
sugestão de promover cafés da manhã com os executivos de vendas para conhecer
com adequação seus produtos. Deste dia em diante, tornaram-se grandes amigos e
o tratamento ministrado pelo médico àqueles profissionais nunca mais foi o
mesmo de outrora.
Esta história certamente se repete no mundo corporativo e nos mais diversos
segmentos. Compradores atendem a um batalhão de vendedores, das mais variadas
empresas, oferecendo produtos e serviços múltiplos. Neste contexto, não é
improvável que você seja tomado como apenas "mais um", com grande dificuldade
para se destacar. O que pode ser feito?
Primeiro, conheça seu interlocutor. Identificar necessidades comerciais é fator
primordial para praticar uma boa venda consultiva. Porém, é
imprescindível ir além. Atente para características que possam conduzir a uma
relação mais amistosa. Descubra se o comprador tem filhos, qual o time do seu
coração, que tipo de música aprecia, seu prato predileto. Isso lhe permitirá
adotar um diálogo mais leve e fluido, falando sobre amenidades e quebrando
resistências. Assim se constrói uma venda relacional.
Lembre-se também de cuidar de seu marketing pessoal. Cabelos penteados, barba
feita ou maquiagem leve, trajes adequados, enfim, cultive uma aparência
agradável. Além disso, seja pontual e desenvolva a capacidade de falar com
moderação e ouvir com ponderação.
Por fim, repita seu nome e do seu interlocutor sempre que possível. Escutar o
próprio nome ser pronunciado funciona como música para os ouvidos. Assim,
durante o diálogo, repita o nome do seu ouvinte a cada oportunidade, fitando-lhe
nos olhos. E, claro, repita também o seu nome ao contar pequenas histórias ou
causos, para ajudá-lo a memorizar e lembrar-se de você futuramente.
Ao fazer tudo isso você ainda correrá o risco de não ser notado. Afinal, outros
seguirão o mesmo receituário. Por isso, espelhe-se no exemplo de meu amigo
Flávio, que poderia simplesmente ter se resignado diante do tratamento
recebido, mas que adotou uma atitude proativa, optando por agir e construir uma
nova e produtiva relação profissional e pessoal. A propósito, tempos depois
Flávio Maneira foi promovido - o que não foi por acaso...
Por Tom Coelho