O diretor político-parlamentar da Fenacon, Valdir
Pietrobon, reforça que a dinâmica do MEI é simples
O Microempreendedor
Individual (MEI) se consagrou como uma excelente porta de entrada ao mercado
formal. As responsabilidades tributárias entraram em uma condição simplificada
que reduziu em até 40% a carga em relação a condições normais do mercado. Mas
essas mesmas obrigações não existiam. A inserção funcionou, mas foi pouco.
Deixou o segmento solto e o pequeno, abandonado, ficou endividado. Mais de 50%
dos quase 7,5 milhões de MEIs no Brasil estão inadimplentes mesmo com a tarefa
de pagar um guia único, justamente porque o simples para eles ainda é complexo.
Para analistas do setor, falta organização. Outros consideram a carga dada
ainda como pesada que justifica o cenário adverso, principalmente por detalhes
adicionais que foram descontruindo o que era para ser fácil. A questão é que
esses empresários querem crescer, podem amenizar o desemprego, mas travam na
rigidez do sistema. Detalhe: muitos desconhecem os direitos e os deveres, mas
concordam que precisam de ajuda mais de perto nesse começo que mais parece uma
missão de guerra.
José Eraldo Ferreira é MEI e integra a primeira faixa do Simples Nacional,
programa que formaliza e garante direitos previdenciários, como aposentadoria,
licença maternidade e afins. Tenta se encaixar nesse sistema fácil de fazer rodar
o seu negócio. A obrigação mensal é de pagar R$ 52,85 por mês, mas precisou do
Sebrae para imprimir as 12 guias do ano para "não esquecer". "A gente
trabalhava, recebia e continuava o trabalho. Era isso e pronto. Com esse monte
de boleto, a gente tem que deixar fácil porque senão esquece", ressalta. "Tem
que pagar", repete.
Tem que pagar, mas não sabe para onde vai. "Se o senhor puder me explicar,
agradeço. É que eu entrei agora nesse sistema", respondeu ao ser questionado
sobre a "carga tributária" que passou a levar nas costas. Sozinho, vende e
instala antenas de TV por assinatura. "Por equanto. É que o emprego na
cana-de-açúcar não cobre o ano inteiro. Mas as vendas são baixas. Tem mês que
não sai nada. Quando melhorar, vou abrir uma lojinha e vender tudo. Roupa,
garrafa térmica. Quando eu estiver ganhando R$ 3 mil de lucro, aí vou poder
sustentar a família", planeja, citando ter esposa e dois filhos. Ao ser
questionado se sabe que precisa pagar o boleto mesmo sem vender nada, rebate:
"Acho que tem que pagar, né?".
O diretor político-parlamentar da Federação Nacional das Empresas de
Serviços Contábeis (Fenacon), Valdir Pietrobon, reforça que a dinâmica do
MEI é simples, inclusive na questão tributária. E falta atenção. "É pagar 5% do
salário mínimo todo mês. Se setorizar, paga outras taxas ao município ou ao
estado. Mas é tudo em um guia único", diz.
Para justificar a inadimplência alta, o diretor não acredita que a causa seja a
complexidade do sistema tributário, mas problemas como comunicação e responsabilidade.
"Muito MEI não sabe sequer o que tem que pagar. Mesmo sendo prático. É um grupo
que saiu da informalidade e tem assumido responsabilidades de empresa e que
ainda não deu a devida atenção", observou. "É muito alto ter 52% de
inadimplência nessa faixa", complementa.
Para Eva Fernandes, não é nada fácil. Ela deixou de ser funcionária para
comandar um salão de beleza. "Não dou conta de pagar os impostos. Não fazia
parte da minha vida e fiquei endividada. Tive que refinanciar os impostos e
tenho mais um ano de parcelas só da dívida, fora o normal todo mês. Além disso,
você negocia na quantidade de parcela que o sistema manda. Não é você que
escolhe. Complica mais ainda porque nem sempre dá no orçamento que varia com o
movimento. E se não pagar, entram multa, juros e é o caminho certo para fechar
o negócio", diz.
O mesmo vale para Moacir Costa, que trabalha vendendo óleo de gergelim. "O MEI
é uma ilusão. Só serve para fazer o povo entrar e pagar imposto, mas é cheio de
'verdades' escondidas. Dizem que dá direito a licença-saúde, aposentadoria, mas
não explicam que precisa de um ano pagando a guia e que não pode ter nada de
atraso. Quando precisei, com seis meses, não tive direito. Tive que antecipar
várias parcelas", explicou. "Até serve para o vendedor de coxinha ou de
cachorro-quente na esquina, mas quem vende um produto como o meu, para fora do
estado, entram novos impostos que a gente não controla e só chegam com a
cobrança dos atrasados, com juros e multas altíssimas. Impossível sustentar."
Segundo Pietrobon, já foram cogitadas algumas possibilidades para enfrentar o
alto índice de inadimplência tributária dos MEIs. "Ele não paga por falta de
informação. Dá pouco mais de R$ 500 por ano. É fácil e deve entrar no
planejamento. Dá para colocar em débito em conta, cadastrar uma conta e receber
o débito. Cogitaram colocar na conta de luz, mas havia o risco de, por conta do
imposto, o contribuinte não pagar a luz e ter a energia cortada", ressaltou.
Fonte: Diário de Pernambuco -
Por: André Clemente