"Marcha com o pé direito para as tuas
obrigações
e com o pé esquerdo para os teus prazeres."
(Pitágoras)
Desde
minha adolescência sempre fui um praticante de esportes, usufruindo de seus
muitos benefícios. Da natação, que contribuiu para amenizar os efeitos de uma
bronquite alérgica, passando pelo basquetebol, que me ensinou a importância do
trabalho em equipe, até o taekwondo, arte marcial coreana que me auxiliou na
construção de uma postura autoconfiante e determinada, típica da cultura
oriental.
Também pratiquei canoagem e vela, desenvolvendo
a concentração para manter-me equilibrado e veloz dentro da embarcação;
paraquedismo, aprendendo a conhecer e superar limitações, respeitar o medo e
até enfrentar um acionamento de reserva; e esgrima, através da qual pude
exercitar foco e precisão, em detrimento de velocidade e explosão.
Porém, com o passar dos anos, engolido pelas
demandas profissionais e talvez pelo fato de sempre ter atuado de forma muito
competitiva em todas estas atividades, perdi o hábito da atividade física
entregando-me, muito a contragosto, ao sedentarismo.
Tomado pela consciência dos riscos e pelo
avançar da idade, tenho recorrentemente tentado retomar a prática esportiva.
Confesso que não é fácil, pois o que cabe em minha agenda são sessões eventuais
de musculação em uma academia - e este é o tipo de atividade que não me oferece
nenhum prazer. Apenas a título de ilustração, realizo a série de exercícios
fazendo contagem regressiva à espera de concluí-los com a maior brevidade
possível...
Dia destes encontrei um amigo na academia, eu
chegando, ele partindo. Perguntei-lhe: "Você vem todos os dias?", ao que ele
respondeu: "Se eu pudesse, viria. E você?". Disse-lhe: "Se eu pudesse, não
viria nunca!".
Isso nos traz uma importante reflexão. Há coisas
que fazemos por obrigação e há outras que fazemos por prazer. E algumas
trazem-nos prazer após serem feitas por obrigação. Por exemplo, escovar os
dentes não é algo prazeroso - nunca vi alguém que dissesse: "Preciso terminar
logo meu almoço, pois estou ansioso para o momento de escovar os dentes". Mas é
inegável a sensação de bem-estar que sentimos após a higiene bucal.
Passamos a
vida inteira fazendo muitas coisas por obrigação à espera do que nos
proporcionará prazer. Quando
crianças, temos que comer legumes e vegetais para, depois, saborear uma gostosa
sobremesa. Enquanto estudantes, a lição de casa precede os reconfortantes
momentos no videogame. Já adultos, temos uma densa agenda de compromissos
pessoais e profissionais a cumprir, e muitos projetam para o futuro os momentos
de alegria, seja um cinema no final de semana, as férias no final do ano, ou
uma nova e reluzente fase na carreira, muitas vezes chamada de "plano
B" - quando deveria
ser, na verdade, o "plano A".
Nosso maior desafio é conciliar obrigação e
prazer. Transformar uma tradicional reunião de trabalho em fonte de aprendizado;
uma protocolar visita familiar, em momento de descontração. Precisamos aprender
a fazer isso. Hoje e agora.
Por Tom Coelho