Agente
encontrado na gasolina pode causar problemas de saúde, inclusive câncer, em
frentistas e outros trabalhadores
Uma
prática comum em postos revendedores de combustíveis no Brasil está chamando a
atenção para um problema que entrou na mira dos auditores-fiscais do Ministério
do Trabalho (MTb). Frentistas que continuam enchendo o tanque dos veículos após
o travamento automático da bomba estão expostos a grandes quantidades de vapor
de gasolina, que contém benzeno - líquido incolor e cancerígeno. Mas completar
o tanque "até a boca" é apenas uma das atividades que causam essa exposição.
Por isso, em 2017, auditores fiscais do MTb realizaram 1.796 ações, verificando
o cumprimento de medidas para diminuir os riscos ocupacionais relacionados ao
benzeno nos postos.
As
medidas estão previstas no Anexo 2 da Norma Regulamentadora nº 09 (NR-09), de
setembro de 2016, que estabeleceu exigências relacionadas aos procedimentos, ao
treinamento dos trabalhadores e ao controle ambiental nos postos, entre
outras. Segundo o auditor-fiscal do Ministério do Trabalho e coordenador
da Comissão Nacional Permanente do Benzeno (CNPBz), Carlos Eduardo
Ferreira Domingues, a exposição ocupacional ao benzeno acontece por via aérea
ou por contato da gasolina com a pele. Um dos momentos de grande exposição
ocorre durante o abastecimento dos veículos, quando grande
quantidade de vapor de gasolina é liberada pelo bocal do tanque, atingindo
diretamente o frentista.
O
problema se agrava quando o trabalhador continua enchendo o tanque "até a
boca", após o travamento automático da bomba. "Nesse caso, ele precisa se
aproximar do bocal de abastecimento do tanque e a exposição ao vapor de
gasolina contendo benzeno é muito maior", explica Carlos Eduardo. "No
abastecimento normal, o sistema automático permite que o frentista se afaste do
bocal, mas ainda assim o benzeno continua no ar."
Flanela
- Outro risco para os frentistas é o uso de
flanela ou estopa para impedir respingos, ou para a limpeza após
extravasamentos de gasolina na lataria dos veículos. O tecido absorve o vapor
com benzeno, que chega ao trabalhador quando há contato com a pele.
Seu
uso já é proibido pela NR-09. A limpeza, nesses casos, deve ser feita com
tolhas de papel absorvente, desde que o trabalhador esteja com luvas
impermeáveis apropriadas. Para a proteção contra respingos, deve-se utilizar um
dispositivo desenhado para esse fim e adaptado ao bico de abastecimento.
O
Anexo 2 da NR-09 também diz que os empregadores são responsáveis pela
higienização semanal dos uniformes usados pelos trabalhadores. O
descumprimento desse item, no entanto, foi o maior motivo de autuações aos
postos nas fiscalizações do ano passado.
Tanques
- Outra atividade que causa grande exposição ao
benzeno é o descarregamento dos caminhões-tanque de combustível. Como o tanque
do posto está praticamente vazio nesse momento, os vapores de gasolina se
acumulam naquele espaço, saindo pelos respiros no momento em que ele é
preenchido com combustível. "Quando se enche o tanque de gasolina de um posto
revendedor de combustíveis, há uma grande emanação de vapores e a exposição ao
benzeno no ambiente é maior, porque o vapor de gasolina é mais pesado que o ar
e, mesmo lançado através dos respiros, retorna ao nível do solo", alerta Carlos
Eduardo.
Os
trabalhadores que realizam essa operação de descarga devem utilizar máscaras de
proteção respiratória de face inteira, com filtro para vapores orgânicos, além
de equipamentos de proteção para a pele. No entanto, os auditores-fiscais do
MTb constataram o descumprimento dessa norma em vários postos.
Recuperação
- Segundo Carlos Eduardo, a principal preocupação
dos donos de postos deve estar em impedir a emanação dos vapores emitidos pela
gasolina no ambiente de trabalho. A NR-09 prevê a instalação de um sistema de
recuperação nas bombas de abastecimento de gasolina, para captar o vapor e
devolvê-lo ao tanque do posto.
Depois
de uma negociação tripartite, foi estabelecido um prazo de seis anos a partir
de setembro 2016, para a substituição ou adaptação das bombas de gasolina mais
antigas e um escalonamento para as mais novas, chegando a até 15 anos para as
bombas instaladas entre 2016 e 2019. "O próximo passo será iniciar a discussão
sobre a recuperação de vapores de gasolina durante o descarregamento dos
caminhões-tanque nos postos", conta o coordenador da CNPBz.
Ele
explica que, além dos frentistas, outros trabalhadores, como os funcionários de
lojas de conveniência, também podem estar expostos aos vapores de
gasolina contendo benzeno. Já no caso dos usuários dos postos, segundo
ele, o risco é menor, pois eles ficam menos tempo em contato com o problema.
Saiba
mais:
Risco
de câncer
-
O benzeno é classificado na Categoria 1 (cancerígenos para humanos) pela
Agência Internacional para a Pesquisa sobre o Câncer (Iarc, na sigla em inglês)
da Organização Mundial da Saúde (OMS);
-
O combustível que tem benzeno na composição é a gasolina.
Maior
risco de exposição ao benzeno em postos de combustíveis*
-
Descarga dos caminhões-tanque;
-
Abastecimento de veículos;
-
Limpeza e manutenção das bombas de combustíveis, canaletas, sumps e outros
equipamentos e dispositivos dos postos;
-
Armazenamento irregular de amostras de gasolina em locais com trabalhadores;
-
Aparelhos de ar-condicionado com captação de ar em local inadequado.
*
A exposição a outros hidrocarbonetos ocorre também em outras atividades,
especialmente na troca de óleo.
Fiscalização
Em
2017, a fiscalização do Ministério do Trabalho autuou postos que não estavam
cumprindo medidas do Anexo 2 da Portaria 1.109. Os principais itens não
cumpridos foram:
-
A higienização dos uniformes será feita pelo empregador com frequência mínima
semanal;
-
Os trabalhadores com risco de exposição ao benzeno devem realizar, com
frequência mínima semestral, hemograma completo com contagem de plaquetas e
reticulócitos;
-
O empregador deve proibir a utilização de flanela, estopa e tecidos similares
para a contenção de respingos e extravasamentos. Só podem ser utilizados
materiais que tenham sido projetados para esta finalidade;
-
Os postos devem manter sinalização, na altura das bombas, indicando os riscos
do benzeno;
-
Os trabalhadores envolvidos na descarga de combustíveis de caminhões-tanque
devem utilizar equipamento de proteção respiratória de face inteira, com filtro
para vapores orgânicos, além de equipamentos de proteção para a pele.
Fonte:
Ministério do Trabalho/Assessoria
de Imprensa