"A escolha dos heróis diz muito
sobre a sociedade que os escolhe."
(Ricardo Bonalume Neto)
Quem é Neymar Jr.?
Para o mundo do futebol, é o maior jogador brasileiro da atualidade, com uma
habilidade ímpar, capaz de fazer a diferença entre a vitória e a derrota,
inclusive para a seleção canarinho.
Para a mídia, é um personagem tido como de elevado carisma, com 52 milhões de
seguidores no Facebook e 19 milhões no Twitter, garantindo repercussão às
marcas que o patrocinam.
De fato, ele pode ser tudo isso, mas definitivamente não é um herói tal como
postulado por aqueles que buscam em alguém com exposição pública uma
referência, uma pessoa notável capaz de influenciar e criar conceitos,
tornando-se um autêntico paradigma.
No universo
dos esportes, é fácil exemplificar este ideal a partir de Ayrton Senna. Mais de
vinte anos se passaram e não conseguimos eleger um representante à altura.
Um herói, por definição, carrega consigo valores dignos de admiração, como
integridade, generosidade e altruísmo. Neymar é um individualista por natureza,
com comportamentos tomados pela vaidade e o benefício próprio - basta observar
suas mensagens nas redes sociais, regadas por selfies e
campanhas publicitárias.
E a ética
não é um de seus fundamentos. Não me refiro apenas à sua contestada
transferência para o Barcelona, mas à sua postura em campo. Apenas para
exemplificar, recentemente, na final da Champions League, teve um gol anulado
pelo fato de a bola ter batido em sua mão. Durante a argumentação com o juiz,
tentou convencê-lo de que a bola havia tocado em seu ombro... É compreensível:
seu desejo de vencer o leva a acreditar que os fins justificam os meios.
Compreensível, mas não justificável.
Esta escassez de heróis evidentemente expande-se para outros cenários. Seja no
mundo corporativo, onde faltam líderes autênticos, passando pela vida pessoal,
onde os pais, os mais legítimos ícones para os próprios filhos, mostram-se cada
vez mais ausentes da educação dos mesmos. Falta convivência para instruir, faltam
exemplos para compartilhar.
No cenário político, os heróis seriam os chamados estadistas, pessoas capazes
de exercer a liderança acima de interesses pessoais e partidários. Entretanto,
o que temos hoje são apenas políticos preocupados exclusivamente com o próximo
pleito, seja para a reeleição, quando possível, ou para fazer seu sucessor. O
estadista pensa na próxima geração; o político, na próxima eleição. O estadista
edifica o futuro; o político, sua perpetuação no poder.
Precisamos de heróis. Não trajando fardas, capas e máscaras, mas sim
vestindo o manto do inconformismo, com um interesse genuíno em provocar
mudanças capazes de transformar positivamente o meio e deixar um legado.
Quem se habilita?
Por: Tom Coelho