Um dos mais importantes estudos da antropologia é o da
"estética". Os valores estéticos são considerados de suma importância
para o ser humano. Assim, uma guerra só tem início depois que todos os
guerreiros da tribo fizeram todas as cerimônias e pinturas corporais e
colocaram os adereços próprios da arte plumária. Sem a cerimônia estética da
dança, da arte rupestre, da pintura corporal, da arte plumária a guerra não
pode começar. Modernamente vimos também os chamados "caras-pintadas" jovens
protestando com pinturas nos rostos simbolizando sua condição guerreira, tal
qual os indígenas norte-americanos.
Transpondo esses estudos para o mundo
empresarial temos uma realidade semelhante, com efeitos similares.
Uma empresa mal cuidada, suja, escura, com
pessoas mal vestidas, terá baixa qualidade de produtos e serviços. As pessoas
"respondem" ao meio-ambiente.
Da mesma forma, uma empresa limpa, bonita,
clara, iluminada, com mobiliário adequado, ar condicionado, plantas, etc.
produz colaboradores preocupados com qualidade.
O medíocre popular considera a valorização
estética uma "perda de dinheiro", uma "perfumaria"
desnecessária. A ignorância da magna caterva só consegue enxergar o
"conteúdo" e não compreende o valor do "continente".
O metrô de São Paulo é um exemplo emblemático
dos efeitos não-lineares da valorização estética. No metrô nada pode ficar
quebrado por muito tempo. Qualquer aparelho ou equipamento danificado é
consertado ou é retirado do local dentro do menor tempo possível. O resultado é
que o mesmo povo que destrói os orelhões, quebra as praças e emporcalha as ruas
de São Paulo, protege o metrô que é considerado um dos mais bem cuidados,
limpos e eficientes do mundo. Como explicar? São milhares de usuários que
diariamente "conservam" o metrô, porque dele sentem orgulho. Depredam
os ônibus e protegem o metrô!
A valorização estética aumenta a auto-estima das
pessoas. Trabalhar num ambiente bonito, limpo, climatizado, com pessoas bem
vestidas, perfumadas, etc., faz o homem sentir-se mais humano. Todos
estamos buscando desesperadamente melhor "qualidade de vida". E
não há nenhuma dúvida de que a qualidade de vida para o ser humano passa
necessariamente pela valorização estética.
Um dos maiores exemplos dos efeitos não-lineares
da valorização estética em urbanismo é a cidade de Curitiba. A partir da
valorização estética da cidade, o então prefeito Jaime Lerner conseguiu fazer
de Curitiba uma outra cidade. Atraiu um novo pólo automobilístico, fez da
cidade uma das mais belas e admiradas cidades da América Latina por sua
"qualidade de vida" e equipamentos urbanos de qualidade.
E tudo começou pela valorização estética.
O que está acontecendo, por exemplo, com
Sorocaba, no interior de São Paulo?
Por que inúmeros novos investimentos estão sendo
feitos naquela cidade?
Por que a cada dia pessoas ficam mais
"encantadas" com a cidade antes considerada uma cidade
"triste", "feia", "pobre", "pra baixo"?
Desde que assumiu a Prefeitura, o atual prefeito
Renato Amary demonstrou uma enorme preocupação estética com Sorocaba. Arrumou
os canteiros das principais avenidas, restaurou monumentos históricos, iluminou
prédios, pontes e viadutos, construiu praças com extremo bom gosto, construiu
parques centrais onde as pessoas são incentivadas a caminhar, a praticar
exercícios físicos de condicionamento saudável, etc. A própria forma de
trajar-se do atual prefeito sempre de terno escuro e gravatas de bom gosto trouxe
para Sorocaba efeitos não-lineares que o menos estudioso ou menos observador ou
menos afeito às ciências sociais não consegue enxergar e menos ainda
compreender.
Tenho encontrado empresários de São Paulo e
outras cidades visivelmente impressionados com a Sorocaba atual. Perguntam-me a
todo instante:
"- O que aconteceu com Sorocaba?".
Um grande empresário que está transferindo suas
empresas para Sorocaba disse-me que estava para escolher entre várias cidades.
E como sempre fazem as grandes empresas que necessitam mudar seus funcionários
com familiares para um novo local, alugou ônibus em vários fins de semana e
pediu aos diretores, gerentes e familiares que visitassem essas cidades e
dessem suas opiniões.
"- Sorocaba ganhou
disparado!" disse-me o empresário. As avenidas, os jardins, o shopping,
os parques, as lojas iluminadas, os bares, a vida noturna tudo simplesmente
"encantou" o meu pessoal, emendou ele. E quando souberam que a cidade
tem uma orquestra sinfônica, um belíssimo teatro, bons cinemas e restaurantes,
a escolha ficou irreversível. "Embora o terreno que tínhamos em vista em
Sorocaba fosse o mais caro e de mais difícil negociação, não tivemos como não
optar por Sorocaba".
Amigos e clientes ficam curiosos em saber a
razão de eu morar em uma chácara em Sorocaba sem ter clientes naquela cidade.
Tenho convidado amigos empresários para que nos visitem em finais de semana e
ficam todos simplesmente boquiabertos com a mudança estética que percebem. Até
os jardins das casas estão mais bem cuidados porque a Prefeitura tem dado o
exemplo em cuidar das áreas públicas. As lojas estão mais bonitas, pintadas,
iluminadas, porque a Prefeitura vem dando o exemplo de cuidar melhor do
patrimônio público e do meio-ambiente. E opiniões como essa vêm se repetindo
dia após dia.
Assim, empresas, empresários e executivos de São
Paulo estão pensando seriamente em mudar-se para o interior que vem sendo
esteticamente valorizado pelas administrações municipais mais lúcidas e
competentes como em Sorocaba.
Como nas cidades, a mesma realidade precisa ser compreendida
para a empresa.
E a valorização estética na empresa ultrapassa
os limites do ambiente físico e deve abranger a "ética", as
"boas maneiras" , a "polidez", atingindo aspectos de
valorização da cultura, da educação, das artes, da música.
Um dos grandes exemplos mundiais da valorização
estética e sua importância para o sucesso empresarial é a Disney. A atenção aos
detalhes na valorização estética em tudo é um dos pontos fundamentais da
fórmula do sucesso Disney.
É preciso compreender que a valorização estética
não é dinheiro "jogado fora". É
"investimento!" Ela traz e somente ela poderá trazer de
volta a auto-estima necessária para nossos funcionários, nossos clientes e
trazer até efeitos incrivelmente benéficos para a nossa
"marca". E "belo" não significa necessariamente
"caro". "Belo" não significa necessariamente
"supérfluo". Pelo contrário, a valorização estética aumentando a
nossa auto-estima, aumenta o nosso comprometimento com a empresa, aumenta o nosso
prazer em trabalhar e viver e o nosso orgulho em representar uma marca
e pertencer a uma empresa que compreende a importância da valorização
estética, do belo, do bom e do que nos faz "seres humanos".
Você empresário, pense nos detalhes estéticos da
sua empresa. Não estará a sua empresa "embrutecida" pelo descuido dos
detalhes estéticos? Como estão os jardins? Como está a pintura? As cores são
alegres, induzem limpeza? O ambiente interno é agradável? Os veículos são
limpos e cuidados? Como é a iluminação interna e externa? Os ambientes são
claros, bem iluminados? O café é bom? As xícaras são bonitas? Os móveis são
confortáveis e de qualidade? Como é o refeitório dos funcionários? E como são
os banheiros? Os luminosos da fachada estão com todas as lâmpadas acesas? Estão
limpos?
Faça você mesmo o seu check list e
lembre-se da importância dos efeitos não-lineares da valorização estética para
sua empresa.
Por Luiz Marins.