O discurso é
conhecido, as palavras soadas com emoção levam muitos as lágrimas, mas
convenhamos, essa postura politicamente correta sempre me pareceu uma grande
ilusão organizacional. Estou falando sobre a velha pregação de que aqui nessa
empresa fazemos parte de uma grande família, de que as pessoas são o que há de
mais importante. Caso fosse efetivamente o mais importante; salário não estaria
na coluna das despesas, mas sim na de investimentos, o departamento de Recursos
Humanos chamaria Desenvolvimento de Seres Humanos, e o processo de demissão
muito mais justo e somente ocorreria em último caso, afinal é difícil pai ou
mãe mandar filho embora, não é verdade?
Quero gerar uma
reflexão sobre o tema, e pelo amor de Deus, não pense que sou contra as pessoas
ou um desses capitalistas selvagens que só pensam no lucro a qualquer custo.
Muito pelo contrário! Somente quero colaborar para que essa grande ilusão afete
menos sua carreira, pois palavrinhas como segurança e estabilidade no emprego
praticamente já não existem mais, pelo menos para a grande maioria da
população. Pretendo somente ajudá-lo a entender que tudo tem o seu devido
lugar. Vamos aos pontos:
Pessoas não são o que
há de mais importante na organização. Na verdade o que
importa são a integração e o equilíbrio entre o modelo de negócio vigente, as
tecnologias e sistemas adotados, os relacionamentos com clientes, fornecedores
e comunidade e é claro as pessoas que trazem vida à essa empresa. Todos são
importantes! Funcionários e já ex-funcionários da Varig demonstraram
publicamente seu amor à empresa. Raça, uma enorme vontade em dar a volta por
cima, mas só isso não bastou. A empresa tem um modelo de negócio obsoleto, e
não conseguiu ao longo do tempo se adequar a uma nova realidade. Os resultados
todos sabem!
Esforço em demasia não
comove ninguém, empresas querem resultados. Trate de sempre pensar
em como melhorar o seu desempenho, e isso não é só bom para a empresa em que
você trabalha. E bom para você, para a sua vida! Nada de ficar estagnado sempre
usando as mesmas velhas soluções para os novos problemas. Busque o algo a mais!
Trabalhe com inteligência e use sua energia em algo que efetivamente trará algo
de bom e novo para sua organização. Crie sua própria sorte. Faça mais do que os
outros, mas sem acabar com sua saúde, relacionamentos amorosos ou boas
amizades.
Regras existem para
dar um rumo, mas não são verdades incontestáveis. O mundo está cheio de
regras e isso é bom! Mas em excesso cria bloqueios que com o tempo se tornam
intransponíveis. Permita-se quebrar algumas regras, fazer algo diferente.
Permita que as pessoas da sua equipe experimentem algo novo. Caso hoje fosse
proibido vender da forma como vendemos, como iríamos criar um novo processo de
vendas? E também perceba as regras que inibem ou tornam sua empresa mais lenta
e burocrática. Lembre-se de que regras existem para ajudar e não atrapalhar o
desenvolvimento das pessoas.
Pode ter certeza, um
dia você vai sentir raiva, medo, tristeza ou alegria. Você é um ser humano e
tem todo o direito de se sentir pressionado ou incomodado. Mas esses
sentimentos são seus. Perceba como você encara as situações adversas,
inconvenientes e a forma como reage. Isso é determinante para seu sucesso.
Tenha atividades que te levem para outro mundo onde possa esquecer de tudo por
alguns momentos. Importante: com pessoas de fora da empresa, assim você
aprimora o networking e muda um pouco de assunto e ares.
A sua família está na
sua casa e não na empresa. Mesmo que você
trabalhe em um ambiente familiar é importante saber distinguir a vida
profissional da pessoal, o relacionamento entre pais e filhos ou entre
parentes. A carreira é sua e ao final você vai perceber que tudo dependia de
como percebia, interpretava e reagia a cada situação. Tudo pode ser feito de
uma maneira diferente, mas somente no presente, o passado já era e o futuro
ninguém sabe. Mudanças são feitas no presente! Quem tem medo, vive pela metade.
Liberte-se do medo. Pergunte sempre: o que de pior pode acontecer se tudo der
errado? Mas sem esquecer de também perguntar: o que de melhor pode acontecer se
tudo der certo?
Pronto, fim de artigo.
Não se iluda com a sensação de que seu ambiente de trabalho é como aquela
família típica italiana barulhenta, briguenta, mas onde todos se amam. A grande
aldeia organizacional é diferente! Com quantos "irmãos" de seu primeiro emprego
você ainda se relaciona? E também não caia no papo de que as pessoas são o mais
importante, pois isso cria uma sensação de segurança que já não existe mais.
Como já escrevi, tudo é interdependente e você tem nada mais do que um contrato
de trabalho com sua empresa. Trate de cuidar bem do seu comportamento e
atitudes caso queira ter uma história com um final feliz. O importante não é só
descobrir os por quês, mas sim os para quês de sua carreira.
Por
Paulo Araújo