"No fim dá certo. Se não
deu, é porque não chegou ao fim."
(Fernando Sabino)
Quase cinco anos após o
falecimento de minha mãe, estou de volta a hospitais. Meu pai teve o que
parecia ser um AVC (acidente vascular cerebral), pois sofreu uma hemiplegia -
paralisação do lado esquerdo do corpo (braço e perna).
Transportado por UTI móvel até um hospital em
São Paulo, uma tomografia indicou algo pior. Não era um AVC, mas sim um edema
oriundo de metástase de um câncer posteriormente identificado em seus
pulmões.
Para quem jamais fumou um cigarro sequer, foi
uma grande surpresa. Sabe-se que 85% dos casos de câncer de pulmão acometem
pessoas com histórico de tabagismo. Portanto, restam outros 15%, grupo no qual
meu pai foi laureado. Mais intrigante ainda é que a doença não é recente.
Embora não seja possível precisar seu início, pode-se depreender que vem se
desenvolvendo há mais de dez anos! Isso me leva a rever drasticamente meu
conceito sobre a funcionalidade dos check-ups convencionais. Acabo de descobrir
que exames clínicos diversos e mesmo radiografias eventuais são insuficientes
para sinalizar uma doença silenciosa e perversa como esta.
Ao longo dos últimos 30 dias temos vivido uma
verdadeira maratona. Passamos por quatro hospitais, enfrentando uma burocracia
invejável, digna do mais áureo período do militarismo em nosso país, para obter
guias e autorizações. Todos os procedimentos são morosos e sua abreviação
depende da insistência e do monitoramento permanente de nós, familiares, junto
aos burocratas do sistema. A saúde, tal qual a educação, é um excelente
negócio...
Enquanto isso, assistir a meu pai, em seu
cotidiano, leva-me a reconhecer a fragilidade e brevidade de nossas vidas. Do
alto de seus 68 anos de idade, um homem ativo e falante tem limitações e
inquietações patrocinadas pela doença que o aproximam de um recém-nascido,
fazendo-o demandar auxílio para movimentar-se, alimentar-se,
higienizar-se.
Em paralelo, o tempo, que passa devagar num
leito de hospital, convida à reflexão. Paciente e acompanhante são tomados por
um senso de urgência e de valorização da vida. Lembranças que nos visitam a
mente, memórias de pessoas e eventos, coisas que fizemos e deixamos de fazer. A
sensibilidade floresce, de modo que basta ouvir a voz ou vislumbrar o semblante
de quem se gosta para que as lágrimas inundem os olhos.
Não é por acaso que quando abordo o conceito das
Sete Vidas, principio falando sobre a saúde. Sem integridade física e mental,
todo o mais carece de significado.
Podemos
sobreviver 50 dias sem comer, 100 horas sem beber água, 15 minutos sem
respirar, mas nem um único segundo sem fé. A certeza de que faremos mais do que
o possível, a segurança de que buscaremos todos os meios e recursos
necessários, a esperança de que o bem vencerá o mal. E a confiança de que, no
fim, tudo dará certo.
Por Tom Coelho