As reflexões contabilísticas servem de guia referencial para a criação
de conceitos, teorias, e o conhecimento científico. É o ato ou efeito do
espírito de um cientista filósofo de refletir sobre o conhecimento, coisas,
atos e fatos, fenômenos, representações, ideias, paradigmas, paradoxos,
paralogismos, sofismas, falácias, petições de princípios e hipóteses análogas.
O valor justo na política contábil por ser uma utopia, é tido um
conceito cientificamente genérico e indefinido. Uma vez que o sistema
contabilístico internacional expõe razões para se considerar em uma
interpretação, a figura do valor justo, o qual apresenta como característica a
maior generalidade entre os conceitos, sem levar em
conta que os preços no mercado são manipulados.
Urge uma reflexão considerando para tal, importantes e clássicas fontes
da literatura.
O saudoso pensador Dr. Nepomuceno[1] já se pronunciou sobre a questão:
O
valor justo (fair value), assim, é uma peça-chave para a contabilidade
criativa, facilitando sobremaneira a maquiagem dos números, vorazmente
estimulada pelo top business men, cujo cenário econômico está
envolto numa nova forma de fazer negócios, a partir de novos instrumentos
financeiros, tais como: derivativos, swaps, além de outros,
voltados para o refinanciamento de um setor combalido pelas novas regras de
mercado.
O saudoso cientista Dr. Lopes[2] também já fez sua pronúncia sobre o
assunto:
Estão
escancaradas as portas para as vantagens que continuarão a levar os
especuladores, dentre estes alguns 'executivos' de grandes companhias, para a
consecução de vantagens bilionárias de natureza fraudulenta, escondendo a
realidade objetiva através da aplicação do subjetivismo na manipulação de
'demonstrativos' e 'fluxos' contábeis fantasiosos (pejorativamente denominados
de 'criativos'). O dito 'valor justo', hoje consagrado em nosso
País pelo poder público através de leis e medidas provisórias, tem sido parte
influente na maquiagem de balanços de empresas, ensejando esconder perdas e por
um passe de mágica as transformar em expressivos lucros. (.) Todavia, as
atribuições de valores fundamentadas em instrumentos de medição manipuláveis só
podem gerar como efeito 'manipulações'. (.) Que não se tome, pois, as normas
ditas internacionais como uma nova Contabilidade, nem como algo superior nesta
disciplina, mas, sim, como uma espada de Dâmocles sobre a cabeça de quem
necessita analisar empresas para nelas depositar confiança ou estimular que
terceiros nelas venham a confiar. (.) Não existe uma nova contabilidade,
existem riscos.
Afirmo que o valor justo de uma companhia calculado pelo método do fluxo
de caixa descontado é uma falácia. Uma vez que o analista pretende avaliar a
Cia tendo como referente base uma premissa não verdadeira, ou seja, as
predições e perspectivas econômicas futuras. Portanto, na essência, o valor
justo, exercício de adivinhação, pode estar acima ou abaixo do preço real. As
charadas de crescimento ou decrescimento do mercado, PIB, Selic, taxa de
desconto entre outras variáveis, são manipuláveis segundo as ideologias e os
interesses econômicos, que são a mola que propulsiona os negócios.
O que é justo? Uma precificação pelo fluxo de caixa descontado, evento
futuro e incerto; ou uma precificação com base no balanço de determinação, em
uma data bem próxima a da alienação, fusão incorporação ou cisão.
A nossa reflexão tem como escopo demonstrar a necessidade de serem
repensados os critérios de valoração de ativo e passivos, e ações/quotas, em
decorrência da aplicabilidade do conceito de "valor justo" nas hipóteses de
maquiagem de balanço.
Esta é uma reflexão vinculada à ambiência da perícia, de autoria do
professor e escritor: Wilson Alberto Zappa Hoog.
[1] NEPOMUCENO, Valério. Teoria da Contabilidade, uma Abordagem Histórico-Cultural.
Curitiba: Juruá, 2008. p. 30.
[2] SÁ, Antônio Lopes de. Matéria hospedada no sítio:
<http://www.zappahoog.com.br> menu notícias em dez. 2008.
Autor: Prof.
Me. Wilson Alberto Zappa Hoog