"Não importa onde você trabalha, há mais de uma
forma de criar um projeto, onde o entusiasmo é palpável, onde algo que possa
fazer a diferença esteja ao virar a esquina."(Marcelo Costa)
Mobilidade.
Este é um dos maiores desafios de um mundo com sete bilhões de pessoas. E não
apenas para as grandes cidades.
Não é o direito, mas a capacidade de ir e vir
que está comprometida. Dia destes, devido a uma chuva intensa e prolongada,
levei quase duas horas para percorrer seis quilômetros.
A questão ambiental está em voga. Porém, poucos
percebem que um carro trafegando a uma velocidade média de pedestre consome
mais pneus e pastilhas de freio, aumenta sua depreciação e eleva o consumo de
combustível às alturas, despejando mais gases de efeito estufa e poluindo ainda
mais o ar.
A falta de transporte coletivo em quantidade e
de qualidade impede a integração do automóvel com as redes de ônibus, trem e
metrô. E mesmo as estações inauguradas recentemente não dispõem de
edifício-garagem para estimular o motorista a rodar menos com seu carro.
A mobilidade não é apenas um problema de
infraestrutura viária, mas de saúde pública. Afora a perda material, há efeitos
intangíveis e de difícil mensuração. Primeiro, o tempo das pessoas, que deixam
de cumprir compromissos e realizar tarefas diversas porque estão presas no
trânsito. Reuniões canceladas, clientes e pacientes não atendidos, produção que
deixa de ser gerada.
Segundo, o estresse. A paciência, a tolerância e
o equilíbrio emocional são colocados à prova ao extremo, trazendo à tona o que
há de pior nas pessoas. Motoristas que não dão passagem a pedestres e a outros
veículos, motociclistas que trafegam irresponsa-velmente em alta velocidade
pelo corredor formado entre as faixas de rolagem, gente que ocupa assentos
preferenciais no transporte coletivo e não os cedem a quem de direito.
Aliás, são os mais pobres os que mais sofrem. O
desenvolvimento econômico empurrou os trabalhadores para a periferia das
cidades, exigindo-lhes despertar no final da madrugada para se dirigirem ao
trabalho, desperdiçando até seis horas diárias para ir e voltar.
Nossa sociedade está privando as pessoas do
convívio familiar e minando a saúde de seus trabalhadores.Aumentam os acidentes
de trabalho, em decorrência do cansaço e da desatenção durante a atividade
laboral, bem como os acidentes de trajeto. Crescem o absenteísmo, o
presenteísmo, as doenças profissionais e psicossomáticas.
Enquanto os governos não fazem sua parte,
mitigando os já mencionados problemas de infraestrutura, é premente repensar as
relações de trabalho, incentivando o trabalho à distância, mediante uma gestão
por confiança capaz de prescindir da presença física dos colaboradores na sede
da empresa. Precisamos avançar na qualidade da conexão de banda larga para
estimular as videoconferências. São muitas as questões que podem e devem ser
resolvidas on-line ou por telefone. O trabalho SOHO (small office, home office) é uma
necessidade hoje e não do futuro.
É evidente que temos uma legião de trabalhadores
operacionais que jamais poderão ser incluídos neste sistema. Ainda nos anos de
1990 eu pretendia implantar uma jornada flexível, mas era impraticável dentro
de uma atividade industrial na qual o processo produtivo é sequencial. Se o
responsável pelo corte do aço decidisse chegar mais tarde, os soldadores não
teriam matéria-prima para trabalhar, comprometendo todo o sistema...
Por fim, cabe também um alerta aos
profissionais. Conheço uma empresa que oferece café e pão com manteiga às oito
horas da manhã aos seus vendedores apenas para exigir-lhes a presença no
escritório antes de saírem à rua para as visitas agendadas, impedindo que
alguns resolvam simplesmente dormir até depois das dez, expondo mais do que sua
falta de profissionalismo, a ausência de comprometimento.
Por Tom Coelho