Dois milhões de crianças nos Estados Unidos não
freqüentam escolas. São educadas pelos próprios pais em suas casas. Em 1999
eram 850 mil.
Esse dado espantoso da Home School Legal Defense
Association está deixando educadores e administradores do sistema educacional
americano realmente preocupados. Hoje, nos EUA, uma em cada 25 crianças está
fora da escola. Essas crianças são educadas em suas próprias casas.
O direito de ensinar seus filhos em suas próprias
casas, é hoje, legal em 50 estados americanos. Vinte e oito estados exigem que
essas crianças passem por algum teste oficial. Treze estados simplesmente
exigem que os pais informem o governo que estão educando seus filhos em casa.
No estado do Texas nada é exigido, nem mesmo um comunicado dos pais às
autoridades educacionais.
O mercado de material educacional especialmente
dirigido aos pais que ensinam seus filhos em casa soma hoje nada menos que 850
milhões de dólares por ano. Mais de 75% das universidades americanas têm hoje
algum tipo de política para lidar com estudantes advindos de sistemas
domésticos de educação.
Para resolver o problema do isolamento das crianças
que aprendem em suas próprias casas uma rede de novas instituições de apoio tem
surgido. Os pais têm à disposição laboratórios virtuais e físicos onde os
filhos podem participar de experiências em ciências, por exemplo. Times de
vários esportes são formados em várias comunidades, somente com crianças que
estudam em casa, etc.
Esse movimento de educação dos filhos em casa é
ainda mais impressionante quando analisamos dois fatos: (a) primeiro, o
comprometimento dos pais com a educação individualizada de seus filhos num país
onde o sistema educacional público é gratuito e em geral, de boa qualidade; (b)
o segundo é o fato de que para educar seus filhos em casa um dos pais
(geralmente a mãe) tem que abrir mão de uma renda extra - seu trabalho - para
ficar em casa e educar seus filhos. Isso num país onde o desemprego é baixo e
as oportunidades de emprego são, portanto, disponíveis.
O fenômeno de educação em casa está tão difundido
nos EUA que as lojas J.C.Penney (Lojas Renner, no Brasil), lançaram uma
camiseta com os dizeres "Home Schooled" (Educado em Casa) com a figura de um
trailler. Houve tanta reclamação por parte de pais que têm seus filhos em
escolas públicas que a loja teve que parar de vender as ditas camisetas. A
alegação dos que protestaram foi a de que seus filhos, descontentes com a
escola pública, poderiam pressionar seus pais pela educação doméstica.
Um dos mais fortes argumentos a favor da educação
em casa é que ela provê uma educação individualizada e que a criança pode
aprender de acordo com seu próprio ritmo de aprendizagem em vez de ter que
aprender no ritmo de uma "maioria" da classe. Outro argumento - dos mais fortes
- é o de que com a educação doméstica os pais podem passar a seus filhos os
valores que realmente desejam que seus filhos tenham e não deixar que eles
fiquem à mercê dos valores de professores com formação duvidosa. Enfim, eles
acreditam que uma educação doméstica é, simplesmente, melhor que uma educação
pública.
E os números vão a favor dos defensores da educação
em casa. A Universidade de Harvard - uma das mais difíceis de se entrar nos EUA
- já tem alunos brilhantes provenientes de educação doméstica. Há um escritor
americano de sucesso que foi educado em casa por seus pais. O primeiro, segundo
e terceiro colocados no ano 2000 no concurso nacional de "soletrar" (muito
prestigiado nos EUA pela dificuldade em se soletrar corretamente palavras na
língua inglesa) foram crianças educadas por seus próprios pais. Já há até uma
universidade - Patrick Henry College - na Virgínia - onde quatro em cada cinco
estudantes são advindos de sistemas domésticos de educação.
Agora pense em tudo isso como um "novo mercado".
Mercado de formação de "pais" como "educadores formais" - verdadeiros docentes
domésticos. Mercado de material didático, instrucional especificamente voltado
para necessidades e demandas de grupos de pessoas com visão e objetivos
semelhantes na formação de seus filhos. Mercado de viagens de estudo para esses
grupos.
Será a educação doméstica uma tendência mundial? Na
Austrália e Nova Zelândia o número de crianças educadas em casa vem aumentando
exponencialmente. Entrará o Brasil nessa tendência? Quando?
Assim, neste mundo de grandes transformações
globalizadas que estamos vivendo esta parece ser apenas mais uma "mudança" das
tantas que ainda, surpresos, veremos acontecer.
Pense nisso!
Por Luiz Marins