Como diz, com rara sabedoria, o consultor francês Chetoniche, o grande capital
das empresas no século XXI será a "marca". "Marca", como o
próprio nome diz é a imagem "impressa", "marcada" na cabeça
de um consumidor sobre tal e qual produto ou serviço. Hoje a grande discussão
é: quanto vale uma marca?
O valor de uma marca é medido pelo quanto essa marca é capaz de
sustentar o preço de um produto ou serviço frente a uma marca concorrente. Ou
seja, quanto o consumidor está disposto a pagar "a mais" para
adquirir aquela "marca". Estudos nesse sentido são feitos
comparando-se marcas diferentes em produtos similares. Por exemplo: tomamos um
refrigerante, por exemplo. Coca-Cola vs. Tubaína. Quando o preço dos dois é R$1,00
por exemplo, quase 100% dos pesquisados preferem Coca-Cola. Colocando-se a
Coca-Cola a R$1,00 e a Tubaína a R$0,80, vemos que quase 75% ainda prefere
Coca-Cola. Colocando a Tubaína a R$0,50 e a Coca-Cola a R$1,00 vemos que a
migração para a Tubaína passa a ser de mais de 60%. Assim, a "marca"
Coca-Cola "sustenta" um preço até esse patamar. É o quanto vale a
marca, nesse exemplo.
Por que isso ocorre?
Por que uma pessoa opta por uma marca e não por outra?
A resposta é "Medo!"
Você compra uma marca de televisor e não outra porque você tem
"medo" que a outra não tenha a qualidade da primeira, ou não ofereça
a assistência técnica ou que seja mais frágil, ou qualquer outro
"medo". Você compra um iogurte de uma marca e não de outra porque
você tem "medo" que a outra não tenha a qualidade higiênica da
primeira ou qualquer outro "medo". Você compra uma marca de aspirador
de pó e não outra porque tem "medo" que a outra marca seja mais
frágil, não tenha uma rede disponível de assistência técnica, etc. Você vai num
restaurante e não em outro porque tem "medo" que a refeição do outro
seja de pior qualidade, mais cara, ou qualquer outro "medo".
E aqui vale até o "status". Você usa uma griffe de roupa e não
outra porque tem "medo" que achem você "pobre" ou
"cafona" se usar tal roupa sem griffe, etc. Da mesma forma um
relógio. Você usa um relógio de tal marca porque tem "medo" que
pensem que você é um desatualizado ou fora de moda por não usar marcas famosas
no pulso.
Sempre há um "medo" por trás da decisão por uma marca!
O que isso quer nos dizer? O que isso quer dizer à empresa, aos
departamentos de marketing, vendas, propaganda, promoção?
A primeira coisa que uma empresa tem que fazer é uma análise profunda e
séria dos possíveis "medos" que seus clientes ou "prospects"podem ter
com relação à sua marca ou à sua empresa. Por que os clientes poderiam optar
por marcas concorrentes? Quais os "medos" que sua marca deixa na
cabeça de um cliente? Esse exercício é fundamental e deve ser baseado em alguma
pesquisa qualitativa, mesmo que seja a mais informal possível.
De posse desses possíveis "medos" a pergunta é: O que podemos fazer para tirar
esses "medos" da cabeça de nossos clientes ou "prospects"?
Que ações concretas deveremos desenvolver para tirar esses "medos"?
Quais estratégias globais usaremos? Como envolveremos desde o marketing até
recursos humanos nessa estratégia?
O estudo e a análise dos "medos" com relação à nossa marca é
dos mais produtivos para uma empresa. E esse estudo poderá trazer muitas luzes
para que compreendamos a nossa empresa e a visão que o mercado tem dela e de
seus produtos ou serviços.
Muitos hotéis estão vazios porque seus prováveis clientes têm um
conjunto injustificável de "medos" com relação a ele: "É muito caro!"(sem
saber o preço). "Para se
hospedar lá é preciso ter roupas finas...", etc. etc.
O mesmo ocorre com restaurantes, bares, hospitais, clínicas, clubes,
cuja "fama" pode construir um conjunto de medos que não condizem com
a realidade dos fatos, preços, etc.
Numa pesquisa que fizemos sobre marcas de automóvel, constatamos os mais
incríveis "medos" entre possíveis clientes. "- Esse carro quebra
muito!" "A assistência técnica é um roubo". "As peças são
as mais caras que existem!". "A pintura enferruja no primeiro
ano." E todas as
constatações de "medo" que verificamos quando foram
"checadas" com a realidade, com especialistas no setor, comprovaram
ser falsas. Algumas afirmações de "medo" foram tidas até como
"absurdas" por especialistas porque a realidade era exatamente a oposta
ao "medo" revelado na pesquisa. Muitas vezes algum fato isolado no
passado pode "marcar uma
marca" para toda a vida
infundindo na cabeça do cliente um "medo" quase impossível de ser
retirado.
Daí a importância da comunicação correta e dirigida para os
"medos". Fico imaginando como é possível fazer-se uma campanha
publicitária ou comunicação qualquer com o mercado sem um sério estudo dos
"medos" em relação à nossa marca e à nossa empresa. Parece-me jogar
dinheiro fora!
E uma das formas de combater o "medo" é justamente reforçar o "não-medo"
numa marca ou produto ou seja reforçar o oposto do medo no sentido positivo.
Assim, mostrar que meu produto é robusto e forte pode ser usado para combater o
"medo" da fragilidade ou de uma assistência técnica precária que eu
possa realmente ter.
As minorias estão hoje sendo um componente importante do mercado. Essas
minorias são as maiores vítimas de "medos" que as tornam
"excluídas" e que re-alimentam o medo. Assim, negros têm
"medo" de ir a um restaurante mais fino e serem discriminados. Homossexuais
têm "medo" de ir a um bar e igualmente serem discriminados. O mesmo
ocorre em hotéis, etc.
Vejo o mesmo ocorrer com casais que têm filhos pequenos. Têm
"medo" de ir a determinados lugares porque crêem que seus filhos não
serão aceitos. Isso ocorre muito em alguns hotéis que até possuem esquemas
ótimos para receber crianças mas passam a imagem e o "medo" de que
crianças não são bem-vindas.
Numa pesquisa que fizemos sobre hotéis, verificamos que muitas famílias
têm "medo" de alguns hotéis porque dizem que eles "vivem cheios
de convenção de vendedores." Quando consultamos esses hotéis verificamos
que a realidade não é bem essa. Quando voltamos aos nossos pesquisados vimos
que essas pessoas tiveram uma experiência negativa com convenções alguma vez no
passado ou "ouviram dizer" que tal ou qual hotel é "só para
convenções". Enquanto isso o hotel está desesperado para atrair famílias
nos finais de semana.... Como tirar esse "medo"? Que tipo de
comunicação o hotel tem que fazer?
O mesmo ocorre com supermercados, por exemplo. Numa pesquisa que fizemos
verificamos que as pessoas escolhem um determinado supermercado porque
acreditam que ele seja realmente mais barato ou que tenha maior variedade.
Quando colocamos outros supermercados para opção, nossos pesquisados
demonstraram "medos" não comprovados com relação aos demais, como por
exemplo:"A seção de frios deles é muito pobre." - "Eles só
compram produtos de segunda linha...". Quase todos os
"medos" quando checados com a realidade se mostraram inconsistentes.
Da mesma forma é a escolha da escola particular para os filhos. Analisem
os "medos" que formam a escolha de uma escola em detrimento de outra
e ficarão absolutamente surpresos! Cada "marca" de escola traz um
"medo" embutido. "A
mensalidade não é tão cara, mas em seguida eles vêm com mil pedidos...". disse uma mãe que pesquisamos
sobre determinada escola. Quando verificamos a realidade, nos últimos três
anos, nenhum pedido adicional à mensalidade havia sido feito por aquela escola
aos pais. Achamos que era uma opinião isolada. Pesquisamos mais de 50 mães e
todas confirmaram "medos" semelhantes sobre a mesma escola! Da mesma
forma verificamos o "medo" explicitado pela frase: "Eles 'puxam' tanto os alunos
que deixam a criança com complexo e até louca!" E assim, os medos se repetem e se
multiplicam. Como tirar esses "medos" da cabeça de nossos clientes ou prospects?
Eis aí um bom desafio para as empresas que quiserem sobreviver e vencer
no Século XXI.
Por Luiz
Marins.