"Nós sabemos o que somos, mas não o que
podemos ser."
(William Shakespeare)
Vamos colocar de lado o conceito equivocado de que motivação, no mundo
corporativo, significa bônus salariais, promoções, eventos festivos, palestras-show
e tapinhas nas costas. Embora importantes e desejáveis, profissionais
responsáveis sabem que estes são aspectos apenas estimuladores de um
comportamento proativo.
Motivação é um processo endógeno, responsável pela intensidade, direção e persistência
dos esforços de uma pessoa para atingir determinadas metas. A intensidade está
relacionada à quantidade de esforço empregado - muito ou pouco. A direção
refere-se a uma escolha qualitativa e quantitativa em face de alternativas
diversas. E a persistência reflete o tempo direcionado à prática da ação,
indicando se a pessoa desiste ou insiste no cumprimento da tarefa.
Teorias comportamentais
Muitos são os estudos acadêmicos envolvendo teorias comportamentais. Abraham
Maslow e a Teoria da Hierarquia da Preponderância das Necessidades,
Burrhus Skinner e a Teoria da Modificação de Conduta, Victor Vroom
e oModelo de Expectância, Julian Rotter e a Teoria da
Aprendizagem Social, Frederick Herzberg e Teoria dos Dois Fatores,
Douglas McGregor e a Teoria X e Y, e mais recentemente, Mihaly
Csikszentmihalyi e a Experiência Máxima ou Flow.
Enfim, há uma série de outros autores dignos de menção, mas meu intuito aqui
não é fazer um tratado acadêmico. Aliás, falar de teoria no mundo
corporativo é falar de fumaça. Esta introdução foi apenas para apresentar
um último nome que tem uma grande contribuição prática para ser apreciada:
David McClelland, psicólogo da Universidade de Harvard, com a Teoria da
Motivação pelo Êxito e/ou Medo.
Três bases motivacionais
McClelland identificou três necessidades secundárias adquiridas socialmente:
realização, afiliação e poder. Cada indivíduo apresenta níveis diferentes
destas necessidades, mas uma delas sempre predomina denotando um padrão de
comportamento.
Pessoas motivadas por realização são orientadas para tarefas, procuram
continuamente a excelência, apreciam desafios significativos e satisfazem-se ao
completá-los, determinam metas realistas e monitoram seu progresso em direção a
elas.
Indivíduos motivados por afiliação desejam estabelecer e desenvolver
relacionamentos pessoais próximos e pertencer a grupos. Cultivam a cordialidade
e o afeto em suas relações e estimam o trabalho em equipe mais do que o
individual.
Finalmente, aqueles motivados pelo poder apreciam exercer influência sobre as
decisões e comportamentos dos outros, fazendo com que as pessoas atuem de uma
maneira diferente do convencional, utilizando-se da dominação (poder
institucional) ou do carisma (poder pessoal). Gostam de competir e vencer e de
estar no controle das situações.
Meu convite é para que você reflita, respondendo a si mesmo: onde me
encaixo? É provável que você goste de ter o controle, deseje realizar
coisas, tenha prazer em competir, estime cultivar relações pessoais. Mas
observe como há um padrão dominante. Se eu solicitar a uma plateia que todos
cruzem os braços, algumas pessoas colocarão o braço direito sobre o esquerdo e
vice-versa. Se eu solicitar que invertam estas posições, todos serão capazes de
fazê-lo, mas seguramente sentirão certo desconforto. Assim são as preferências:
tendemos a optar por alguns padrões. Você tem uma base motivacional preponderante.
Teoria aplicada à prática
Em minha carreira como empreendedor e consultor, muitas vezes questionei-me por
qual razão certas organizações fracassavam. Deparei-me com modelos de negócios
fantásticos que não geravam resultados. Encontrei empresas lucrativas que
definhavam devido à incompatibilidade entre seus sócios. Observei executivos
talentosos, porém sem brilho nos olhos.
Hoje, à luz da Teoria de McClelland, passei a ter a visão menos turva. Consigo
compreender que para uma empresa lograr êxito é preciso a praticidade e
o foco de pessoas motivadas pela realização, a liderança e a firmeza de
indivíduos motivados pelo poder, a sinergia e empatia daqueles motivados por
afiliação.
Quando as empresas perceberem isso, será possível encontrarmos pessoas mais
felizes trabalhando pelo simples fato de estarem posicionadas nos lugares
corretos. Passarão a gostar do que fazem, pois poderão exercer suas habilidades
com plenitude.
Quando os empreendedores perceberem isso, será possível construir sociedades
mais estáveis formadas por pessoas que se complementam mais por suas
habilidades e anseios e menos por cultivarem apenas relações de amizade.
Teremos negócios mais sólidos, gerando mais empregos, sendo mais
autossustentáveis.
Quando as pessoas perceberem isso, será possível que passem a abrir mão da
necessidade de estarem certas - ou de alguém estar errado - sem abdicar de suas
próprias verdades filosóficas ou opiniões mais sensíveis. E passem, a partir
deste autoconhecimento, a fazer o que podem, com o que têm, onde estiverem.
Por: Tom
Coelho