Por tão poucos terem tanto
é
que tantos têm tão pouco."
(Eduardo
Marinho)
A
Forbes, revista de negócios norte-americana, publica anualmente uma lista
avaliando o patrimônio dos bilionários em todo o mundo. A edição deste ano
novamente apresenta nas três primeiras posições Bill Gates, fundador da
Microsoft; Carlos Slim Helu, do setor de telecomunicações; e o banqueiro Warren
Buffet. Juntos, eles detêm ativos da ordem de US$ 224 bilhões, o equivalente ao
patrimônio estimado de cerca de 900 milhões de pessoas.
Os dados ficam ainda mais alarmantes se tomarmos
como referência os ativos dos dez mais ricos. Neste caso, chegamos a um total
de US$ 551 bilhões, comparável ao patrimônio de algo em torno de 2 bilhões de
pessoas no planeta!
Uma análise da referida lista de bilionários da
Forbes a partir de 2009, ano seguinte à crise econômica mundial, mostra um
crescimento médio anual de 14% no patrimônio do grupo dos dez. Enquanto isso, o
PIB mundial evoluiu pouco acima de 3% ao ano.
Estes dados explicam o alerta da Oxfam
International, entidade cujo foco primordial é o combate à pobreza.
Atualmente, 67
pessoas detêm o mesmo patrimônio que metade da população mundial e, em 2016, os
recursos acumulados pelo 1% mais rico do planeta ultrapassarão a riqueza dos
outros 99%.
Mais um exemplo deste universo de desigualdades.
O faturamento das dez maiores empresas do mundo em 2014 totalizou US$ 3,35
trilhões, o equivalente ao PIB somado de todos os países da América Latina,
excluindo-se o Brasil. Note: dez empresas equivalem a 21 países. Estes números
só não são ainda mais expressivos porque seis destas dez companhias são do
setor energético, e o barril do petróleo, que já chegou a superar cem dólares
no passado recente, vive um período de baixa, cotado por menos de 60 dólares
atualmente.
O mais incrível é que temos a impressão da
ocorrência, no decorrer dos últimos anos, de ações amplas e efetivas no sentido
de amenizar desigualdades socioeconômicas em virtude de iniciativas de
organizações não-governamentais, de campanhas de conscientização e da inclusão
do tema em debates educacionais. Ledo engano...
Combater este autêntico abismo social é tarefa
de governo. A distribuição de renda passa necessariamente não por políticas
assistencialistas, mas sim por instrumentos justos de tributação. Estudos
indicam que há uma correlação direta entre o aumento da concentração de renda e
a redução dos impostos incidentes sobre os mais ricos.
Olhando para nosso cenário interno, vemos um
crescimento da violência, do desemprego e da corrupção. Enquanto isso, com a
justificativa de ajustar as contas públicas, o governo federal busca elevar sua
arrecadação com aumento generalizado de impostos sobre o setor produtivo,
afetando diretamente a competitividade das empresas, em especial as de pequeno
e médio porte, que representam 98% dos empreendimentos formais existentes no
país, responsáveis por mais de 60% dos empregos diretos. O impacto final é
sobre os menos favorecidos, ampliando este quadro de desigualdades.
Contra fatos e estatísticas não cabem
argumentos, mas sim ações propositivas, voltadas não à retórica, mas sim à
solução dos problemas.
Por Tom Coelho.