Por que aceitar
esse desafio em um momento político conturbado?
Sempre
estive envolvido na defesa do consumidor e, ultimamente, busquei integrar
associações civis para tentar algo que melhorasse a vida de todos os
consumidores. Na Senacon são amplas as minhas possibilidades de atuação e terei
a oportunidade de aprimorar mecanismos que sempre critiquei e de estreitar a
comunicação entre os consumidores e as empresas. Sem dúvida alguma, muitos
processos que hoje estão no Judiciário poderiam ser evitados se houvesse um
melhor diálogo. O último case da United, que retirou brutalmente um passageiro
do interior de uma de suas aeronaves, bem demonstra as consequências nefastas
da falta de diálogo. Naquele caso o consumidor chegou a ser agredido e, em
contrapartida, a empresa experimentou significativos prejuízos. Nosso objetivo
principal é pacificar as relações de consumo, a partir do estreitamento dos
processos de comunicação entre os clientes e as empresas. Se as empresas
tiverem consciência de seu papel social e os consumidores agirem dentro da
ética, teremos um mercado de consumo mais harmônico e uma sociedade melhor.
O que faz a
Secretaria Nacional do Consumidor?
A Senacon
executa através de um de seus braços que é o DPDC, Departamento de Proteção e
Defesa do Consumidor, a Política Nacional das Relações de Consumo prevista no
art. 4º da Lei n° 8078/90, que consiste no conjunto de ações que o Estado
brasileiro desenvolve para buscar mitigar a vulnerabilidade do consumidor no
mercado de consumo. A Senacon coordena o SINDEC - Sistema Nacional de Defesa do
Consumidor que reúne os órgãos públicos de defesa do consumidor, PROCONs, as
entidades civis de defesa do consumidor, as Defensorias Públicas e o Ministério
Público. A Senacon representa o Brasil nas discussões que envolvem os direitos
dos consumidores no mundo. Tem o papel de coadjuvar com os demais países para
aperfeiçoar o direito do consumidor e de buscar uniformizá-lo principalmente no
Mercosul, considerando que a proximidade geográfica gera nos diversos
membros problemas de consumo idênticos. Ao todo são vinte e sete PROCONs
estaduais e cerca de 900 PROCONs municipais, que estão executando as diretrizes
estabelecidas pelo Sistema Nacional do Consumidor, sob a direção da SENACON.
Cabe à Senacon também zelar pela proteção dos consumidores nos serviços
regulados pelo BACEN, ANVISA, ANATEL, ANAC, ANS, ANEEL, SUSEP dentre outros.
Qual foi a sua
percepção assim que chegou ao Ministério da Justiça?
Fiquei
surpreso com o número de ações que são executadas e que ainda são desconhecidas
dos consumidores, inclusive por aqueles que militam há tempos na área, como eu.
O site oficial do Brasil www.consumidor.gov.br é
pouco divulgado, principalmente pela falta de recursos financeiros para esse
fim. Como o orçamento da Senacon é enxuto, as prioridades acabam se voltando à
execução das ações estruturais e deixando de lado a divulgação. O conhecimento
das ações desenvolvidas é fundamental para o sucesso da defesa do consumidor,
porque consumidor que não conhece as ferramentas disponíveis não as utiliza.
Para o consumidor utilizar na plenitude todas as ferramentas existentes é
fundamental que ele as conheça com profundidade. Os cursos gratuitos e online
ministrados pela Escola Nacional de Defesa do Consumidor contam com poucas
inscrições, cerca de trezentas, apesar da oferta de cinco mil vagas. Os cursos
são voltados à população em geral e os temas são fundamentais, como, por
exemplo, a educação financeira. Apesar da sua realização, a frequência é muito
aquém da oferta, não obstante a qualidade da certificação, da UNB -
Universidade de Brasília, a oferta gratuita e a comodidade proporcionada pelo
fato do curso ser online.
Quais serão as suas
próximas ações?
Infelizmente,
por questão de prioridade, alguns projetos estavam parados. Foi o caso do
projeto internacional, que já retomamos. Em menos de um mês, eu já fui para a
reunião do CT-7 do Mercosul na Argentina e um de nossos assessores foi para a
reunião da OCDE em Paris. O Brasil sempre teve um papel de protagonista nas
discussões internacionais dos direitos dos consumidores e isso não pode ser
perdido. A judicialização das demandas de consumo vem sendo um grande problema
para as empresas e, sobretudo, para os consumidores. Se não faz bem para nenhum
dos lados, precisam ser incentivadas as plataformas e os mecanismos de
autocomposição e de heterocomposição, como a mediação e a arbitragem. Embora
essa última tenha limitações pela vulnerabilidade dos consumidores, pode ser
aplicada após a verificação do conflito de interesses. Nesse sentido precisamos
divulgar mais o www.consumidor.gov.br e incentivar
as empresas a atender bem seus clientes e consumidores. O Decreto dos Serviços
de Atendimento a Clientes não atende às novas tecnologias e aos novos tempos do
big data e da inteligência artificial. A nossa ideia é rever essa
regulamentação e estimular uma concorrência saudável nos vários setores na
disputa pelo posto de quem melhor atende aos consumidores. A criação de um
ranking positivo de qualidade de atendimento estimulará as boas práticas nos
diversos segmentos do mercado de consumo. Como as atividades da SENACON são
muito amplas, trabalharemos em diversas frentes, principalmente no
fortalecimento dos PROCONs, buscando a aprovação no Congresso Nacional de
Projeto de Lei já em tramitação avançada nesse sentido.
Como você vê a
defesa do consumidor atualmente? Os consumidores estão mais conscientes de seus
direitos? As empresas reconhecem seu papel social?
O mercado de
consumo melhora ano a ano. Os consumidores estão sim mais conscientes de seus
direitos e muitas empresas espontaneamente vêm adotando novas estratégicas e
mecanismos de aproximação com os consumidores. As normas protetivas dos
consumidores são o mínimo. Não basta para o mercado respeitar a lei porque isso
é pressuposto. Tem vantagem na estratégia dos consumidores quem vai além e
estabelece medidas eficientes de prevenção e solução dos conflitos. Sabe-se que
os conflitos são inevitáveis porque inerentes à sociedade de massa. No entanto,
cabe às empresas definir as estratégias para evitar e minimizar os dissabores
dos consumidores. Ainda, infelizmente, são poucos os consumidores que têm o
hábito de reclamar. Muitos ainda, apesar de insatisfeitos, deixam de reclamar e
de exercer a cidadania. A defesa do consumidor deve ser um processo de
aprimoramento constante, porque o mercado muda e os fornecedores e os
consumidores devem ter meios de acompanhar.
A evolução dos
mercados, dos produtos e dos serviços implica na necessidade de alterações
legislativas?
Não
necessariamente. A evolução das boas práticas deve partir das próprias empresas.
Hoje os consumidores estão mais atentos e mais exigentes. Nesse sentido, o
aprimoramento das empresas passa a ser uma questão de sobrevivência. Os
consumidores consomem menos, reutilizam e fruem os produtos e serviços de forma
mais plena e priorizam produtos e serviços sustentáveis e ambientalmente
corretos. O mercado deve se reinventar de acordo com esses novos tempos. Quem
não se reinventa tende a sair do mercado. Uma das premissas fundamentais para o
aperfeiçoamento do mercado é a concorrência. Quem não evolui fica para trás e
perde consumidores.
Quais
são as plataformas disponibilizadas pela Senacon?
www.justica.gov.br
www.consumidor.gov.br
www.defesadoconsumidor.gov.br
facebook.com/justicagovbr
Existe
também o aplicativo do www.consumidor.gov.br, valendo enfatizar que são
instrumentos oficiais do Governo Federal, que têm por único objetivo resolver
os problemas dos consumidores.
Por Arthur Rollo