Estes últimos anos têm
sido para as empresas e empresários do Brasil um ano de aprendizagem do
empresariar numa economia estável. Acostumadas à selvagem inflação que
nos assolava há décadas as empresas e a população haviam desenvolvido
mecanismos de proteção que, se não eram totalmente eficazes, pelo menos faziam
com que a empresa sobrevivesse.
Veio o Plano Real e com ele a estabilidade que desconhecíamos. As
empresas tiveram que, novamente, se ajustar a processos novos como uma nova
visão dos preços relativos, agora conhecidos pela população. Começamos a saber
o que é "caro" e o que é "barato" e o povo começou a ser
mais exigente, mais seletivo em suas compras, a descobrir o conceito de
"valor" agregado às compras que faz. E os prognósticos para a
estabilização da economia são muito bons para os próximos anos. Não há no
horizonte nenhuma previsão de que a inflação volte aos níveis anteriores ou
mesmo chegue aos dois dígitos mensais. O ciclo inflacionário do mundo acabou.
Agora é a hora de acreditar num novo Brasil que está surgindo. É preciso
compreender que os caminhos da estabilidade não são fáceis, mas que estamos
conseguindo coisas que não poderiam ser sequer imaginadas há alguns anos. O
setor siderúrgico está totalmente privatizado. Os monopólios estatais estão caindo.
A economia brasileira é grande e complexa e essas medidas demoram mais para
serem implementadas no Brasil do que nos outros países da América Latina. É bom
que saibamos que todo o PIB da Argentina é equivalente ao PIB do interior do
Estado de São Paulo. Todo o PIB do Chile é equivalente ao PIB do Grande
Campinas e todo o PIB do Uruguai é equivalente ao PIB do bairro de Santo Amaro
em São Paulo. Assim, a diferença de magnitude precisa ser compreendida para que
entendamos a razão da complexidade de nossas reformas.
Os próximos anos serão ainda mais competitivos. A globalização se fará
sentir ainda mais e a concorrência será mundial. Não estaremos mais competindo
com nossas empresas da cidade, nem do Estado, nem do Brasil. Estaremos
competindo globalmente. Sobreviverá a empresa que tiver competência, estrutura
de custos, caixa forte e pessoal altamente qualificado para produzir com
qualidade e prestar o melhor serviço aos clientes e além disso, reinventar o
seu setor, surpreendendo o cliente com produtos e serviços fundamentalmente
novos.
Terá medo da concorrência a empresa que não compreender que é preciso construir
hoje a empresa do amanhã. O sucesso hoje, não garante o sucesso amanhã. É
preciso criar o amanhã. É preciso perguntar-se: Como será um dia típico de meu
trabalho daqui a 5-10 anos? Quem serão meus concorrentes daqui a 5-10 anos? De
onde virão os meus lucros daqui há 5-10 anos? O que a tecnologia estará
oferecendo daqui a 5-10 anos e que poderá afetar o meu trabalho? Etc., Etc..
Estamos vendo que as empresas estão, em sua maioria, olhando para o próprio
umbigo ou através de um espelho retrovisor. Poucas são as que estão construindo
o seu futuro, pesquisando oportunidades.
É preciso que entendamos que as empresas vencedoras hoje não foram aquelas que
perguntaram o que o cliente queria. São vencedoras as empresas que
surpreenderam o mercado com produtos e serviços fundamentalmente novos que nem
os clientes imaginavam como possíveis. Assim, a Microsoft reinventa o
computador pessoal com o sistema windows. A 3-M reinventa o
"recado" com o "Post-it", a TAM reinventa a aviação
regional no Brasil. A McDonald's reinventa o "fast-food" e assim,
veremos que as empresas que têm sucesso hoje foram aquelas que literalmente
reinventaram o seu setor. Não foram empresas que apenas fizeram melhor,
mais rapidamente, com menos custo, aquilo que já faziam. Elas fizeram coisas
fundamentalmente diferentes.
Vencerá a concorrência neste processo de galopante globalização as empresas que
forem capazes de se reinventar, de regenerar suas estratégias e de surpreender
o mercado.
Assim, o que de fato muda é que não será o maior que vencerá o menor, mas sim o
mais ágil é que vencerá o mais lento. É preciso ser ágil, pensar rápido e agir
mais rapidamente ainda. É preciso criar mecanismos eficazes para que nossos
funcionários participem ativamente dos processos de decisão, planejamento e
implementação de forma positiva e proativa. É preciso criar na empresa a
necessária "inteligência" para analisar dados demográficos, psicográficos
e tendências futuras. É preciso conhecer cada vez melhor os mercados em que
atuamos.
É preciso, enfim, mudar, antes que seja tarde.
Por Luiz Marins