De bonecas que imitam bebês a sofás do formato que
consumidores querem. Para muita gente, o que define a compra é a identificação
Alessandra
Tavares divide o espaço de seu salão de beleza, na avenida Brasil, na Capital,
com um atelier onde pratica um hobby que define como terapêutico: a
confecção de bebês reborn (do inglês, renascer). Da vitrine, é possível ver as
bonecas hiper-realistas dispostas em berços e pequenas redes. A arte surgiu na
vida da cegonha (como são chamadas as pessoas que fazem as bonecas) há cerca de
seis anos, quando a filha, Rafaela, pediu à mãe um exemplar. "Propus a ela
de eu fazer a boneca. Participei de cursos em São Paulo e aqui, que nem existe
mais", recorda. Agora, conquista uma fatia de clientes que querem artigos
exclusivos e personalizados.
Nesse
período, ambas se dedicaram ao negócio, batizado como Rafaela Reborn (https://www.facebook.com/rafaelabebereborn).
Há bebês à pronta-entrega e também os produzidos com base em feições de
crianças de verdade. O trabalho é realizado em cima de vinil siliconado,
importado da Alemanha. O processo consiste em banhos de tinta e idas ao
forno, até chegar ao resultado. "Leva de dois a três dias trabalhando
direto. Se faço aos poucos, demora uma semana ou mais", mensura
Alessandra.
Existem
dois modelos de corpo: todo em vinil (com gênero definido e mais pesado) e o de
tecido. O mesmo acontece com os cabelos naturais, de fio a fio ou perucas
fixas.
Quem
quer um dos bebês prontos, investe de R$ 600,00 a R$ 1,6 mil. Já para ter um
exemplar com as características sob medida, o desembolso parte de R$ 3,5 mil. O
atelier dá desconto à vista e trabalha com parcelamento no cartão. Para a
empreendedora, o custo alto é justificável.
"As
pessoas não conhecem muito sobre. É uma arte. Vem entrando muitos bebês da
China e pensam que é igual, mas não é", alega.
A
entrada da concorrência industrial e em série no mercado diminuiu a rentabilidade
do Rafaela Reborn. No passado, conseguia faturar de R$ 2 mil a R$ 3 mil
mensais. "Viver só da arte não é possível", lamenta.
Outra
ressalva feita pela cegonha é para ter cuidado com os golpes na hora da compra.
"Existem sites falsos, que não entregam os bebês", alerta.
De
acordo com Alessandra, os bebês reborn, se bem cuidados, podem passar de mãe
para filha. Por isso, no manual que ela entrega com o item, é recomendado que
não dê banho de chuveiro, banheira, não segure ou puxe os cabelos e nem deixe o
bebê próximo à fumaça de cigarro.
O kit
das bonecas do atelier vem também com pente e escova de cerdas macias,
certidão de nascimento (com espaço para preencher nome da mãe, madrinha, altura
e peso), roupinha, bico (com imã) e mamadeira.
O
público do negócio, de acordo com a artesã, contempla a faixa etária dos seis
aos 80 anos, diferentes classes sociais e as vendas acontecem para todo o
Brasil. A cabeleireira destaca que a brincadeira estimula o instinto materno.
"Recebo fotos das meninas dormindo com as bebês, da rotina deles. Fazem
até festinha de aniversário, é como um filho", aponta. "Os adultos
nunca compram uma só. É um sonho de consumo", acrescenta.
A
cegonha se diz recompensada quando se depara com esse feedback positivo. Ela
própria lembra da primeira vez em que viu uma bebê reborn. "A primeira
pessoa que vi entrando no Brasil com uma boneca assim foi a Angélica. Mas, na
época, não existia internet para saber", conta. Rafaela, no momento com 15
anos, tem três bebês e a adolescente cultiva o hábito de levá-los passear no
shopping.
Estofaria se destaca pela exclusividade
Pense
no sofá dos seus sonhos. Se ainda não o encontrou nas grandes lojas, a solução
é mandar fazer sob medida. Um dos locais que apostou no segmento de
personalização é a Leffa
estofados, de Porto Alegre. A empresa produz somente peças de acordo
com o que a clientela deseja. O negócio, que está há mais de 30 anos no
mercado, iniciado por José Leffa, conta com 10 funcionários. "Nosso
trabalho é muito específico e não temos fabricação em série. É exclusivo",
ressalta o empreendedor.
No
espaço, no bairro Cristo Redentor, uma frase estampa o topo de uma parede:
"somos artesanais porque acreditamos na maestria da mão humana".
Quando José começou, na década de 1980, existiam menos estofadores na
concorrência. Atualmente, salienta, o número cresceu consideravelmente, o que
torna o mercado mais competitivo. Mas o bom trabalho, garante, valoriza a
empresa. "É a confiabilidade desse tipo de serviço", orgulha-se.
Segundo
uma das filhas de José, Vanice, a filosofia do fundador é muito forte. "Hoje,
as coisas são feitas em grande escala, com materiais mais frágeis. Não sai
daqui se a gente não considera que esteja um acabamento bom", declara.
Vanice,
formada em Publicidade e Propaganda, cuida da parte comercial da Leffa.
"Aqui é alta personalização mesmo. Primeiro, fazemos o atendimento, que é
bem focado. Me especializei em tecidos e em acabamento. O orçamento é bem
técnico", explica. Para deixar a peça, seja uma poltrona, sofá ou até
mesmo uma almofada, exatamente do jeito que o cliente quer, ela diz que faz
várias perguntas.
"Estimulo
o cliente a me mandar referências. Precisa de um briefing bem elaborado para eu
passar para a produção", destaca. A irmã, Daniela, cuida de outros
setores, entre eles o de Recursos Humanos e o Financeiro. Com experiência em
banco e formada em Administração com ênfase em Comércio Exterior, ela está no
empreendimento há 15 anos, desde que assumiu funções antes exercidas pelo pai.
"Era a empresa do eu. Ele fazia desde as notas até a entrega",
comenta. As duas divertem-se em contar que o pai não tinha computador e usava
um fax para se comunicar. A Leffa conta com um quarto membro da família: a mãe,
Nelza, que é a responsável pela costura. "Ela é a alma da empresa",
elogia Vanice.
Apesar
de não ser o centro da estofaria, a Leffa oferece também o serviço de
reengenharia, ou popularmente falando, a reforma de estofados. "Reformamos
e deixamos novo, cuidando de todos os detalhes e preservando as características
originais", afirma José. Natural do Litoral Norte, o empreendedor hoje tem
clientes de todo o Rio Grande do Sul. Muito devido às escolhas que dá aos
consumidores.
Roupas que não se encontram por aí
Celina
Spolaor e Danielle Hansen administram a Céu Handmade,
uma marca que customiza peças de roupas. Um espaço físico funciona no bairro
Bela Vista, em Porto Alegre, e há um ponto também em São Paulo.
O
negócio soma clientes em todo o Brasil e mira o exterior. "A arte manual é
bem valorizada lá fora", esclarece Danielle. "Iniciamos essa fase no
ano passado, mas é bem difícil. Estamos pensando em fazer feiras no exterior,
buscar contatos, pessoas que sejam de fora", complementa.
A
marca (@ceuhandmade)
trabalha com a opção de peças prontas ou por demanda. "90% é o cliente que
pede", estima ela.
Atrelada
à sustentabilidade, a proposta é ajudar quem quer dar um up numa jaqueta que
esteja guardada no guarda-roupas, por exemplo, ou trabalhar em cima de itens
novos.
O
valor é fixo em R$ 289,00 para qualquer customização. Já os produtos criados do
zero para venda têm valores variados. Neste caso, entre R$ 100,00 e R$ 200,00.
A
relação das meninas com o empreendedorismo é antiga. Em 2012, a publicitária
Celina trabalhava em uma agência de publicidade. Ela fazia peças de roupas
criativas e as personalizava. "De forma bem amadora", segundo a
definição da própria, mas que caíram no gosto de quem visualizava as postagens
nas redes sociais. Resultado: a atividade acabou virando coisa séria.
Três
anos depois, quando participava de um curso de moda, Celina conheceu Danielle,
formada em Administração de Empresas com ênfase em Comércio Exterior - agora
sua sócia.
Outro
diferencial é que a Céu Handmade se posiciona como a primeira empresa de
customização do Brasil a trabalhar o conceito de moda e marketing juntos.
Fonte: Jornal do Comércio RS