"Eu fiz essa abertura aí, pensei que fosse dar numa democracia e
deu num troço que eu não sei bem o que é."
(João Baptista de Oliveira Figueiredo)
O programa
eleitoral gratuito no rádio e, em especial, na TV, coloca-nos diante de
reflexões preocupantes acerca de nosso processo democrático.
Vamos começar pelo número de partidos. São 32 legendas, a grande maioria sem
qualquer expressão, nitidamente criadas ou para usufruir do Fundo Partidário
(dotações orçamentárias da União para assistência financeira aos partidos) ou
para enaltecer interesses de algumas "personalidades" (que normalmente figuram
como presidentes dos respectivos partidos). Não há como deixar de exemplificar
esta tese a partir de um Levy Fidelix, que passou a vida inteira disputando
pleitos diversos sem jamais ser eleito - atualmente é coadjuvante em sua 13ª
candidatura.
Mas o pior está em relação aos candidatos. Principiando pelo discurso
pasteurizado em defesa da "educação, saúde, transporte e segurança pública",
tentando demonstrar autenticidade em temas que são simplesmente direitos
sociais constitucionais. "Quero ser a sua voz no Congresso", proclamam alguns.
Às favas com esta retórica medíocre!
Candidatos despreparados, semianalfabetos, fichas-suja. Gente que deseja fazer
da política uma profissão, quando deveria ser uma missão em prol da sociedade.
Pessoas muitas vezes interessadas na infraestrutura proporcionada pelo cargo,
objetivando ganhar muito, trabalhar pouco, usufruir de benefícios, praticar
nepotismo e, uma vez ao ano, propor projetos ridículos como criação de datas
comemorativas ou "moção de aplausos".
Segundo o portal Transparência Brasil, cada parlamentar custa aos cofres
públicos mais de 10 milhões de reais por ano! Anote aí: além do salário, há
verba para aluguel, alimentação, combustível, pesquisa, consultoria, além de
apartamento funcional com telefone liberado e gabinete com até 25 funcionários,
no caso de um deputado federal.
O ícone deste processo eleitoral tem nome e chama-se Tiririca. O segundo
deputado mais votado na história do Brasil, com mais de 1,3 milhão de votos,
foi considerado um dos melhores parlamentares do país por dois anos
consecutivos recebendo o Prêmio Congresso em Foco, que pergunta aos votantes:
"Quem melhor representa a população no Congresso?". A julgar por este
resultado, imagine como são os piores parlamentares...
Uma das maiores distorções é o sistema de votação proporcional que permite a
um Tiririca eleger,
além de si mesmo, outros três candidatos como ocorreu na última eleição. De
volta à campanha, o palhaço faz graça na televisão em quase um minuto e meio em
horário nobre, imitando Roberto Carlos, posando ao lado de um veículo velho,
sem dizer o que fez, porque nada fez e nada fará. Desculpem-me pela franqueza,
mas quem o elege não o faz como
voto de protesto, mas sim como voto de estupidez.
Diante disso, difícil não se envergonhar da classe política, do processo
eleitoral e mesmo do sistema democrático como concebido.
Por Tom Coelho