Eis aqui um grande
ditado português. Os imigrantes vindos das colônias portuguesas nunca tinham
visto uma parreira. Mandados à vindima, as destruíam pelo modo inadequado e
errado de colher as uvas. De quem era a culpa?
Da mesma forma, vejo nas
empresas pessoas sendo encarregadas de tarefas e responsabilizadas por missões
para as quais não têm a mínima capacitação ou competência. O resultado é sempre
um desastre. De quem é a culpa?
Da mesma forma vejo
chefes mandando suas secretárias fazerem coisas para as quais nunca foram
treinadas ou capacitadas. Fazem tudo errado. O chefe esbraveja, grita. De quem
é a culpa?
Da mesma forma vejo
vendedores sendo colocados à rua sem nenhum ou pouco treinamento nos produtos
que vendem, na análise dos clientes que deverão buscar, na argumentação da
venda, nas possíveis rejeições ao produto, nas aplicações possíveis, etc. Não
conseguem vender. O gerente de vendas se desespera, chama a todos de
incompetentes. De quem é a culpa?
Da mesma forma vejo
responsáveis pela "assistência técnica"
de produtos que são apenas "meio-treinados". O conserto não fica
bom. O cliente se irrita. A empresa perde. De quem é a
culpa?
Vejo empresas de
transporte ou que tais que contratam motoristas que não conhecem um determinado
trajeto ou mesmo uma grande cidade. São para lá mandados. O motorista se perde.
A encomenda não chega a tempo. O cliente reclama. O chefe da logística se
desespera. De quem é a culpa?
Vejo lojas que contratam
uma nova "balconista" e a colocam imediatamente a trabalhar e atender clientes.
Ela não sabe nada, nem da loja, nem de atendimento e menos ainda de clientes.
Um cliente bom e antigo chega, é mal atendido até desprezado. O cliente se
irrita. A loja perde o cliente até então "fidelizado". De quem é a
culpa?
Vejo oficinas que
contratam mecânicos com pouca ou nenhuma experiência no tipo de veículo de tal
e qual cliente. Dão a ela o serviço. O veículo sai pior do que entrou na
oficina. O cliente esperneia e ameaça. De quem é a culpa?
Os exemplos podem encher
páginas e páginas e você, leitor deste pequeno artigo sabe disso porque já
passou por tudo isso inúmeras vezes como cliente insatisfeito que às vezes até
custa a acreditar no que está acontecendo.
Você é cliente de um
banco há anos. Só tem conta lá. Todo mundo lhe conhece. Muda o gerente de sua
conta e ele vem perguntar: "Qual mesmo o seu nome completo?" ou ainda "sua
empresa faz o quê mesmo?" Dá
vontade de se atirar pela janela! Você
compra há anos na mesma loja, sempre pagou tudo em dia
e nunca teve problema. De repente chega algum "estranho" e quer saber tudo
sobre você, seu cadastro, etc. tudo o que já fez
um milhão de vezes.
Não precisa ir longe
para achar o culpado. A culpa é do chefe que manda estranhos à vindima sem
informá-los, sem treiná-los, sem ter a garantia de que sabem colher uvas. A
culpa é da empresa que acha que os gastos em treinamento são desnecessários e
que as pessoas "aprendem na prática" e que as pessoas
devem ter "criatividade" e "se virar" para que não
errem. Quanto mais essas pessoas - sem conhecimento do que fazem - erram, mais
são punidas. Quanto mais punidas, mais erram
pela tensão e ansiedade de querer acertar fazer coisas
que desconhecem na essência ou mesmo nos detalhes importantes da
operação.
O problema que ocorre
nos dias atuais é que as empresas têm pressa. Muita pressa. Os resultados têm
que chegar rapidamente. Ontem, se possível! E a realidade da aprendizagem não
ocorre à velocidade da luz. Há que se ter tempo e paciência para que a
aprendizagem aconteça e o conhecimento seja realmente incorporado ao
comportamento do aprendiz. A paciência e a persistência dos chefes em treinar
seus subordinados parece ter desaparecido. E quando o subordinado está começando
a aprender, ele é dispensado. Não deu tempo de ele mostrar que estava
progredindo. E tudo começa novamente com outro "estrangeiro" ou novo recrutado
que nada saberá, pouco será
treinado, cometerá muitos erros e quando começar a
aprender, será igualmente dispensado. Novamente não deu
tempo!
Há chefes sádicos. Sabem
que o subordinado não sabe fazer. Não ensina. Manda fazer e depois cai como um
verdugo sobre o subordinado chamando-o de incompetente e daí para baixo. Se
você sabe (e sempre sabe) que seu subordinado não é capaz ou está capacitado
para fazer alguma coisa, não o mande fazer ou ensine-o antes de passar raiva e
cometer injustiças.
Com a competição
acirrada que temos hoje, nenhuma empresa pode se dar ao luxo de sequer irritar
um bom cliente. E é preciso que nos lembremos constantemente que ninguém é
cliente de uma "empresa" como pessoa jurídica.
Todos somos clientes de "pessoas". Das pessoas que nos atendem ao telefone, que
nos atendem nos balcões das lojas, nas recepções das
oficinas, nas bilheterias dos cinemas. Somos clientes dos simples funcionários
de quase ou nenhum treinamento e baixos salários e que poderão fazer a "empresa"
perder seu melhor cliente de milhares de reais.
Assim, sem nenhuma
poesia, o calcanhar de Aquiles das empresas está mesmo em sua gente. Treinar,
treinar e treinar é a maior missão de qualquer chefia e não do departamento de
recursos humanos. "Motivar" - isto é,
oferecer os "motivos" para a ação - é
também tarefa de todas as chefias, em todos os níveis da empresa e não de algum
departamento específico de incentivos ou produto de uma "campanha". O mercado
de hoje é uma verdadeira olimpíada em
busca da conquista do cliente.
E como com qualquer
esporte ou time é preciso treinar, treinar e treinar para tentar ganhar o jogo,
pois hoje não mais "amadores" no campeonato. Os
amadores que porventura ainda existam não
pertencem à nossa "divisão" no
campeonato. Se você é da "Divisão
Especial" saiba que seus concorrentes são os melhores e têm craques no time. Da
mesma forma se você está na "Divisão A-2"
os times são do mesmo quilate do seu time e a competição será
igualmente difícil para você. E
para não ser rebaixado para a várzea
do futebol do mercado de hoje, você tem
que ter um time que treine sem parar, com técnico competente, preparador
físico, massagista, etc. Enfim, uma estrutura que possa fazer do seu time, ao
menos sobreviver na sua divisão no campeonato.
A verdade, porém, é que
as empresas parecem não estar totalmente conscientes da gravidade e da
importância do momento atual do mercado globalizado e competitivo. Querem
ganhar o campeonato e subir para a divisão superior sem ter jogadores
competentes e sem treinamento e às vezes até economizando em bola, redes,
chuteiras, coisas essenciais para que o jogo aconteça. Conheço um time do
interior que perde a maioria dos jogos. Mas tem um ônibus que é um superluxo
para levar os jogadores até os estádios. O orgulho do time é o ônibus! E querem
ganhar o campeonato. Pode?
Pense nisso. Sucesso!
Por Luiz Marins