"As datas, só elas dão verdadeira
consistência à vida e à sorte."(Eça de Queiroz)
Sempre fui pouco
afeito a datas comemorativas. Afinal, a maioria parece criada apenas para
atender a fins utilitaristas. O Dia das Crianças, para a indústria de
brinquedos; o Dia dos Namorados, para diversos segmentos do comércio; o Black
Friday, para promover liquidações em geral.
Há até mesmo,
acredite, o Dia da Ressaca (28 de fevereiro, melhor que dia 29, ou bebuns de
plantão só teriam direito a pausa nos anos bissextos), o Dia do Pi (14 de
março, que na notação americana com formato mês/dia seria 3/14, a aproximação
mais conhecida de Pi) e o Dia do Cotonete (25 de junho)!
Contudo, mesmo
dentro deste contexto, começo a reavaliar a relevância de algumas datas.
Afinal, temos vivido de forma tão intensa, rápida e automática que pausas
fazem-se necessárias. Diariamente, são muitas mensagens para responder,
telefonemas para fazer, visitas a realizar. Relatórios a serem preenchidos, reuniões
para participar, projetos a concretizar. Nossa caixa de entrada está
recorrentemente cheia, a lista de tarefas sempre repleta, o tempo cada vez mais
exíguo.
Prova disso é que
basta você se ausentar de seu trabalho por um ou dois dias, para uma convenção
corporativa, por exemplo, e ao retornar será completamente sugado pela sua
rotina, muitas vezes sem conseguir sequer colocar em prática o mínimo do que
foi aprendido.
O mesmo quadro se
repete em sua vida pessoal. A academia para frequentar, a pilha de livros para
ler, a casa para cuidar e as contas a pagar. Além dos familiares e amigos
clamando por sua atenção. O
sentimento de culpa invade sua mente e você tem a impressão de estar cada vez
mais distante da pessoa que deseja ser e dos objetivos que pretende alcançar.
Diante deste
cenário, algumas datas comemorativas funcionam como uma fenda no tempo, um
chamado em sua agenda pessoal para que sua atenção se volte ao que realmente
importa. O Dia das Mães ou dos Pais, para que você possa exercitar o afeto,
exercer a gratidão, promover o perdão. A Páscoa ou o Natal, para sua reflexão e
solidariedade, independentemente de sua religião. Seu aniversário, para você
lembrar e cuidar de si mesmo.
Seu desafio, e dos
que estão ao seu redor, é praticar o desapego, dissociando estes eventos da
necessidade de vinculá-los a presentes materiais de qualquer ordem. Assim,
aproveite para compartilhar da companhia das pessoas, fazendo tudo aquilo de
que você tem se privado: jogar conversa fora sem olhar para o relógio, ficar
debaixo do cobertor sem hora para levantar, sentar em frente à TV sem ter que
assistir a algo com conteúdo, comer besteiras e saborear o que teoricamente não
é saudável.
Aproveite! Afinal,
no dia seguinte, você estará de volta à maratona do seu cotidiano.
Por Tom Coelho