Raulino Peretto, 75 anos, foi o fundador do Doces
Maquiné. Sem formação alguma na área de administração de empresas, a produção
caseira de pés de moleque deu origem à Rede, que hoje conta com quatro lojas e
uma fábrica. Em uma conversa bem-humorada, eles nos contou um pouco sobre sua
vida e seu negócio, e afirmou: "de anos contados eu sou um idoso, mas não
envelheci nada!".
Como foi o início do Doces Maquiné?
Oficialmente, começou no dia 20 de julho de 1965, quando registrei a empresa.
Informalmente, começou um ano antes e eu vendia para os armazéns. Era de
bicicleta, de carroça e depois de "camionetinha", daquelas que quando furava o
pneu tinha que remendar porque furava umas sete, oito vezes por dia. O começo
foi difícil e foi uma coisa muito insignificante. Lá no meu pai, na colônia, em
Maquiné, no paiol, eu comecei em uma panelinha com amendoim e açúcar, fazendo
pé de moleque para vender. Em 1981, eu resolvi vir para Osório, porque a gente
pensou que os filhos tinham que estudar e lá não tinha energia elétrica, nem
telefone, nada. Aí em Osório, coloquei uma lojinha para sobreviver. Então isso
aí foi o início.
Como foi o processo de expansão?
Eu não tive muito planejamento, porque a pessoa que não tem formação nesse
sentido, de administração de uma empresa, ela vai lá e segue a intuição, vai
pela oportunidade. Eu confio muito na espiritualidade e as coisas foram
evoluindo dessa maneira. "Ah, agora aumentou a produção, vou fazer mais,
vou comprar mais um fogão, e assim vai". Conforme a necessidade, o negócio
foi expandindo aos poucos.
A visão do senhor mudou ao longo dos anos?
Eu digo que o bom é até começar do nada, porque vai se formando aquilo ali. Se
tu comprar o negócio feito, nem sempre tu sabe conduzi-lo. Eu me formei dentro
disso, vendo as coisas acontecerem. Hoje, eu tenho uma visão bem maior das
coisas e me sinto realizado econômica e espiritualmente, então não tenho mais
necessidade de me expandir. Então o que eu faço é incentivar os filhos e uma
vida participativa. Por que eu vou ser feliz quando? Quando eu morrer? Aí não
tem mais felicidade.
Como foi a juventude do senhor antes do Doces Maquiné?
Eu estive por seis anos no seminário, dos 12 aos 18, e assim que eu saí de lá,
fui chamado para o serviço militar em Porto Alegre, no Partenon. Na época
existia bonde, eu andava muito e milico ainda nem pagava. Eu pegava lá na
Aparício Borges e passeava pela cidade toda. Eu não tinha dinheiro pra nada, só
reservava um pouquinho pro cinema.
Como foi perceber essa oportunidade de negócio?
Em um domingo de noite depois do quartel eu não tinha dinheiro e queria comer
um doce. Cheguei no mercado público e comprei uma rapadura, não achei nenhum
outro tipo de produto. E eu pensei: quando eu terminar meu serviço (militar) eu
vou fabricar doce. Alí, eu identifiquei um mercado que seria promissor e deu
certo. Deu muito certo. Eu não desenvolvi tecnologicamente, eu não enriqueci.
Mas dentro da situação econômica, a gente tem uma vida privilegiada.
Como é a atual relação do senhor com a empresa?
Hoje, estou me desligando aos poucos e deixando pros filhos (são três). Eles
que tomam conta do negócio e eu sempre estou supervisionando tudo. Todos os
dias eu tento passar nas lojas. Converso com os funcionários, vejo se não tem
um banheiro entupido. Coisas mínimas eu vou olhar. Porque o nosso tipo de
cliente é aquele que deve ser bem atendido, bem tratado. Ele tem que chegar e
se sentir bem. Sempre, por filosofia de vida, cuidei bem das coisas que eu
tenho. Então meu sucesso não foi inteligência, não foi capacidade
administrativa. Foi dedicação e perseverança.
Como foram os primeiros anos da empresa?
Eu levei 10 anos pra dar aquela puxada de fôlego, o suspiro de alívio. Sempre
digo, com orgulho, que eu nunca soube o que é um título protestado em cartório
ou um cheque devolvido. Nunca. Talvez isso até tenha me prejudicado
economicamente, e eu até pudesse ter sido mais liberal. Mas eu me sinto tão bem
do jeito que fiz as coisas. Porque eu sempre tive boa conduta.
O senhor tem algum segredo do sucesso para nos contar?
O segredo é que a qualidade do produto está na matéria prima. Os preços não são
baratos e eu sei disso, mas eles têm qualidade. Se tu tiver qualidade, tem que
valorizar. Por exemplo, é muito mais fácil comprar uma massa de pastel pronta.
Mas a gente faz, batida no cilindro e com bastante ovos. Para o recheio,
tem que comprar uma carne de qualidade. É que nem o pé de moleque, eu ia na
colônia e comprava o açúcar de primeira, da época boa, de julho a agosto. Outro
segredo: torrava o amendoim com casca, para não perder o sabor. Tu pegas o
amendoim com casca, na colônia, torra no teu fogãozinho e tu vais ver o sabor
que vai dar. Eu fiz sucesso com isso aí!
Fonte:
Vitória Campos / Destemperados
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