"O homem nasce livre e por toda parte encontra-se a ferros." (Rousseau)
O homem é um
ser social. No ônibus, o passageiro assentado ao lado assume ar de inimigo,
invadindo nosso espaço, privando-nos de nossa própria liberdade. No trânsito, o
veículo que se aproxima é um intruso, disputando um mesmo espaço. Já no
condomínio, quem são nossos vizinhos, como os qualificamos? O barulhento do
sexto andar, o invejoso do oitavo, o dono do carro importado da cobertura. De
que valem estes rótulos?
O homem
nasce livre, mas por toda parte encontra-se cercado de pessoas. De nada adianta
nos enclausurarmos cada vez mais, deixando de vivenciar com o próximo as
diversas possibilidades de experiências, atitudes e emoções.
Quer tornar
seu dia melhor? Diga bom dia ao morador que adentra o elevador, pergunte como
passou a noite, ao seu zelador.
Pegue o
interfone e em lugar de solicitar ao vizinho que silencie, convide-o para uma
visita, para uma cerveja, para acompanharem juntos à partida de futebol ou ao
capítulo inédito da novela. Partilhem suas vidas, posto que seus mundos são
menos distintos do que possa parecer. Vocês vivem sob um mesmo teto, um teto
maior. Quanto não há de comum entre vocês? Elegeram o mesmo bairro, residem em
apartamentos ou casas que custaram aproximadamente o mesmo, possivelmente têm
nível socioeconômico semelhante...
Exercitar a
humildade é ação das mais generosas que se pode ter. Comece pelo vizinho da porta da frente.
Aquele mesmo para o qual tantas vezes você arqueou sobrancelhas em um gesto
quase mecânico e automático, apenas para cumprimentá-lo de forma lacônica. Logo
vocês poderão tomar conta da quadra de esportes, junto com as crianças,
desenvolvendo torneios e gincanas ou utilizar o salão de festas não apenas para
as tradicionais comemorações de aniversários, mas também para um campeonato de
carteado ou de xadrez.
Como
consequência, todas as relações se dinamizam. Aquelas discussões com o Conselho
tornam-se inócuas, pois o grupo, unido, passa a ser composto por amigos, com os
mesmos anseios e desejos. Aprova-se com mais facilidade um projeto, discute-se
com mais adequação outro, e acaba-se por optar por algo realmente conveniente a
todos.
A coleta
seletiva de lixo, sonho de uns e utopia de outros, torna-se realidade. A
instalação da TV a cabo ou da internet banda larga deixa de ser postergada
porque todos podem tirar proveito juntos. E aquele cômodo subutilizado na área
social pode abrigar uma sala de ginástica, um salão de jogos ou um home cinema.
Agindo
assim, torna-se possível até desenvolver ações assistenciais no bairro e,
através delas, praticar com plenitude a cidadania, além do senso comunitário.
Por Tom Coelho