"Todo homem é um
herói e um oráculo para alguém."
(Ralph Waldo Emerson)
Todos nós
cultivamos heróis. São pessoas que nossos olhos enxergam de forma diferenciada.
Eles são mais corajosos, tenazes, perspicazes. Também parecem maiores, por
vezes até fisicamente, posto que admirados pela tela da televisão, a foto no
jornal ou a imagem cristalizada em nossas mentes. São capazes de feitos
incríveis, suportam - e superam - grandes adversidades, bem como alcançam
resultados extraordinários. À tradição grega, mortais divinizados por atos de
nobreza.
Quando pequenos, elegemos pais, irmãos ou avós representantes dessa casta.
Espelhamos muitos de nossos comportamentos e valores a partir dos exemplos por
eles destilados.
Contudo, na idade adulta, embora a influência familiar de outrora permaneça
impregnada em nosso íntimo, passamos a adotar outros modelos, em geral oriundos
do meio social e, em especial, profissional.
Arquitetos têm como ícones Le Corbusier e Oscar Niemeyer; pintores, Vincent Van
Gogh e Pablo Picasso; amantes do jazz, Sarah Vaughan e Charlie Parker;
educadores, Jean Piaget e Paulo Freire. Experimente fazer esse exercício.
Escolha uma carreira qualquer e, com certeza, você encontrará alguns nomes
notáveis.
Como tudo na vida, a presença desses expoentes tem aspectos positivos e
negativos. O lado bom é que servem como referência, parâmetro de conduta e
exemplo de excelência. No entanto, há uma face ruim. Por serem tidos como
semideuses, parecem denotar um padrão inatingível para pessoas normais como
nós. Você olha para eles, para seus inventos, e declara: "Esplêndido! Eu
gostaria de poder fazer igual...". Diante disso, você se apequena e se
constrange.
Vou lhes contar o que aprendi acerca de heróis. Quando iniciei minha carreira
de escritor, visitava o texto de outros profissionais e me perguntava quando
teria igual qualidade editorial. Eu os via publicar em dezenas de veículos
enquanto meus singelos e esporádicos textos atingiam um restrito círculo de
amigos e imaginava que não seria possível ir muito além.
Comecei também a ministrar palestras. E, assistindo às apresentações de outros
colegas, chegava mesmo a envergonhar-me do trabalho que desenvolvia. Meus
slides eram pobres; minha presença de palco, discreta.
Tempos depois vi meus artigos atingirem centenas de veículos em diversos
países. O conteúdo tornou-se mais objetivo e prazeroso à leitura. O mesmo
aconteceu com as palestras, que ganharam dinamismo e desenvoltura. Aqueles que
outrora eram meus mitos passaram a dividir laudas e anfiteatro comigo. Alguns
se tornaram amigos, outros me pediram conselhos. No final, mostraram-se todos,
sem exceção, feitos de carne e osso.
Mas somos bichos picados pelo inseto da impermanência e não aprendemos a
aproveitar o momento presente. Viajamos num trem em alta velocidade sem
apreciar a paisagem. Colocamos todas as nossas fichas no vagão do futuro e não
desfrutamos o trajeto. Isso tudo pode ser traduzido pela velha metáfora segundo
a qual fixamos o olhar na copa da árvore, ignorando a floresta.
Por isso, aprenda a olhar não apenas para frente, mas também para trás. Observe
o quanto do caminho você já percorreu. Não há combustível melhor do que
saborear os frutos de sua evolução. E olhe também para os lados. Acompanhe o
que seus concorrentes estão fazendo, mas não se deixe influenciar por isso. Dê
atenção ao que é imperativo e ignore todo o resto. Siga as batidas do seu
coração.
Shakespeare dizia que "heróis são pessoas que fizeram o que era necessário
fazer, enfrentando as consequências". Somos heróis de nós mesmos. Um momento a mais de coragem. Cinco minutos a
mais de perseverança. Uma pitada de autoconfiança. São esses os ingredientes
que fazem a diferença.
Por Tom Coelho