"A vida é uma viagem a três
estações: ação, experiência e recordação." (Júlio Camargo)
Tenho por hábito
reservar algumas horas nos últimos dias que antecedem minhas férias de final de
ano para organizar papéis e arquivos diversos. São práticas triviais como
descartar documentos cuja guarda é desnecessária, reunir materiais similares em
pastas únicas, selecionar objetos que possam ser doados. É um procedimento que
passa por gavetas, armários e até meu computador, e que embora pareça meramente
operacional, reserva-me grandes surpresas...
Em uma pasta
suspensa, por exemplo, deparei-me com uma grande quantidade de trabalhos
escolares produzidos há cerca de uma década por meus filhos mais velhos, hoje
com 18 e 16 anos. Um material singular que me conduziu a uma viagem no tempo, à
época em que estavam sendo alfabetizados. Os primeiros traços e letras, os
desenhos coloridos e pueris, os singelos presentes a mim ofertados em datas
comemorativas.
Em outro momento,
acesso um livro de ata utilizado para colher depoimentos de amigos que
compareceram ao lançamento de meu livro "Sete Vidas", há cinco anos. Palavras
generosas como só os verdadeiros amigos sabem redigir. Envio um e-mail para um
e telefono para outro, resgatando um pouco da relação distanciada pelo tempo e
pelo espaço, porém não arrefecida em ternura.
Mas a grande viagem
astral ficou marcada por um arquivo reunindo materiais de uma empresa que
construí há exatos vinte anos. Anúncios em jornais e revistas, entrevistas
publicadas em jornais, fotos de um tempo em que eu tinha menos barba e mais
cabelo. Um jovem idealista, repleto de certezas equivocadas, que viria a se
descobrir apenas uma década depois.
Entretanto, nenhum
sentimento se compara à emoção de casualmente ter em minhas mãos uma caixa de
sapatos contendo algumas dezenas de jogos de futebol de botão. Uma brincadeira
que me acompanhou durante a infância, quando eu jogava, ora sozinho,
literalmente narrando a partida, ora contra colegas com os quais promovíamos
torneios. Contudo, a emoção não estava nos brinquedos, embora as lembranças
fossem suficientes para fazer marejar os olhos, mas sim nas poucas palavras
escritas na tampa da caixa para identificar seu conteúdo: a caligrafia era de
minha falecida mãe.
Naquele momento,
sentado com a caixa no colo, eu fitava o contorno daquelas letras e não podia
conter as lágrimas. Quantas saudades! Como a perda de uma pessoa amada é
dolorosa... Em verdade, é insuperável. Os anos passam e parece que aceitamos o
fato, quando em verdade, apenas nos acostumamos e aprendemos a suportar e
seguir em frente.
Nossas batalhas
cotidianas são muitas e variadas, amplas e cada vez mais intensas. Nosso tempo é curto, embora a vida seja
longa, mas o que realmente vale a pena é sutil, volátil e está ao nosso redor. Por
isso, resgate seu passado para valorizar o tempo presente, e em lugar de
presentes, ofereça sua presença aos seus amigos e familiares. Boas Festas!
Por Tom Coelho