Objetivo é
qualificar a infraestrutura para receber os turistas
Um
investimento mínimo de R$ 249 milhões a ser injetado em quatro anos pela
iniciativa privada pode mudar o cenário e o fluxo de visitação de duas unidades
de conservação federais localizadas na Serra Gaúcha. Funcionando com estrutura
precária, os Parques Aparados da Serra e da Serra Geral podem vir a receber uma
série de melhorias, a partir de um processo de concessão com prazo de 30 anos.
Resultado de
projeto conjunto do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) da Casa Civil,
do Ministério do Meio Ambiente e do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio), a proposta está em fase de consulta pública no site do
Instituto, aberta até o dia 28 de janeiro de 2020. Após este período, o projeto
(viabilizado a partir da seleção de ideias apresentadas em estudos de
consultorias especializadas no mercado) será analisado pelo Tribunal de Contas
da União (TCU).
De acordo
com o secretário do Ecoturismo do Ministério do Meio Ambiente, André Pitaguari
Germanos, o governo federal optou pela concessão com o objetivo de fomentar o
turismo das cidades onde os parques estão localizados.
"A
ideia é dobrar o fluxo de visitantes (atualmente em torno de 200 mil
pessoas/ano), o que irá gerar várias consequências positivas - como uma maior
educação ambiental da população e o desenvolvimento sustentável da região, com
geração de emprego e renda aliada a uma maior proteção às unidades de
conservação", defende o gestor.
A
perspectiva é que a proposta de concessão seguirá para sessão pública de leilão
em agosto deste ano. "São parques maravilhosos e que praticamente não têm
banheiros adequados e nem sequer um lugar fazer um lanche", ressalta
Germanos.
De fato, a
última recuperação ocorrida no Parque Nacional de Aparados da Serra foi há mais
de 20 anos. Entre 1994 e 1996, o local fechou para que fosse realizada a
sinalização nas trilhas e implementado o atual Centro de Visitantes, com banheiros,
um box de informação e controle.
A estrutura
conta ainda com guarida de entrada e estacionamento. Já teve restaurante, mas
hoje em dia não há local nem para comprar água. As sinalizações das trilhas
também deixam a desejar e muitos bancos pelo caminho estão deteriorados.
"A
implementação de estruturas de metal e de mirantes vai possibilitar uma melhor
qualidade na visitação", comenta o sócio do escritório de arquitetura,
urbanismo e design estratégico Natureza Urbana, Pedro Lira. Ele foi um dos consultores
que apresentou projeto para melhorias do Aparados da Serra e do Serra Geral ao
governo federal.
"A
estrutura destes dois parques hoje é muito carente, portanto pode-se dizer que
será praticamente renovada, a partir de controle de acessos, recepção e
informação dos visitantes, venda de alimentos e produtos, trilhas e
mirantes", sugere.
O secretário
do Ecoturismo pondera que os investimentos mínimos obrigatórios são a
revitalização do centro de visitantes, melhoria e implementação de mirantes,
sinalização de trilhas, implementação de restaurante, novos banheiros, e posto
de informações.
"Os
demais itens são optativos. O fundamental é que a concessionária tenha
experiência embarcada em turismo e atendimento de pessoas." Segundo
Germanos, várias empresas se mostraram interessadas. "Algumas já são
operadoras de parques, inclusive locais; outras são operadoras de turismo, da
área de hotelaria, e outras são do ramo da construção civil."
O gestor do
governo federal destaca que, entre as exigências do contrato, o plano de manejo
das unidades de conservação é "condição essencial". O concessionário terá
ainda como obrigação a limpeza, segurança, manutenção, estacionamento e brigada
de incêndio, entre outros pontos.
Governo promete regularização fundiária
de imóveis dentro das unidades
Um dos
fatores que dificultaram os governos anteriores a investir em melhorias na
estrutura dos Parques Aparados da Serra e da Serra Geral é a pendência no que
se refere à regularização fundiária das unidades de conservação. Desde a
fundação do Aparados da Serra em 1960, até 2016, 77% da área havia sido
desapropriada judicialmente, mas naquele local ainda havia 27 propriedades
privadas aguardando indenizações.
Na mesma
semana em que o governo realizou a audiência pública, o Ministério Público
Federal (MPF) em Caxias do Sul expediu recomendação ao ICMBio para que o órgão
se abstenha da licitação, antes de proceder à regularização fundiária das
unidades de conservação. . "Temos um respeito grande neste aspecto,
sabemos que a população foi desapropriada e ainda não foi paga - estamos
olhando para isso e pretendemos realizar indenizações ao longo dos próximos
três anos", frisa o secretário do Ecoturismo, André Pitaguari Germanos.
Ele afirma que "nenhuma área concedida estará em situação irregular".
"Só estarão inclusas no contrato as áreas 100% públicas."
Responsável
pela modelagem jurídica nos projetos de estruturação das unidades dre de
conservação Floresta Nacional de Canela e Floresta Nacional de São Francisco de
Paula, que também estão dentro do pacote das concessões do Estado, o advogado
especialista em PPPs e concessões Fabio Sertori avalia que "não existe
essa relação de causa e consequência" alertada pelo MPF. "As áreas
que não forem públicas não serão exploradas, portanto não sofrerão interferência."
Já a advogada especialista em contratos e projetos governamentais Cláudia
Bonell, opina que "a fiscalização e o atendimento das normas ambientais em
parques concedidos para a iniciativa privada tendem a ser maiores e mais
rígidas do que quando as unidades são exploradas pelo poder público".
Claudia
observa que "nos últimos anos foi feito um esforço bastante significativo
do governo federal para gerar uma maior segurança e maior formalidade para esta
relação jurídica e o estabelecimento de limites na exploração de áreas de
conservação".
Fonte: Jornal do
Comércio RS/Adriana Lampert
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