Fator determinante
para a competitividade da indústria, a transformação digital pela qual as
empresas brasileiras vêm passando exigirá do setor muitos investimentos em
capacitação de mão de obra. "Trabalhadores, cuja ocupação anterior
demandava esforço físico, precisarão se qualificar para não perder os
empregos", avalia o diretor regional do Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial no Rio Grande do Sul (Senai-RS), Carlos Artur Trein.
A Indústria 4.0,
como vem sendo chamada essa fase de transformação, tem alterado a
engrenagem industrial com novos processos, produtos e modelos de negócios, e
tornará obsoletos os sistemas convencionais. Para auxiliar neste processo,
o Senai-RS tem ofertado uma série de cursos técnicos e de especialização com foco
nessas capacitações.
Em esfera nacional,
especialistas do Senai apontam que a recuperação econômica esperada para os
próximos anos, embora lenta, ainda vai requerer que os setores produtivos
invistam em bens de capital, o que impulsionará a demanda por formação na área
de metalmecânica, só para dar um exemplo. A análise é feita a partir de estudo
realizado em agosto do ano passado para subsidiar a oferta de cursos da
instituição, que sinaliza que as profissões ligadas à tecnologia serão as que
terão maior crescimento no decorrer de quatro anos.
Especialistas sobre
o tema são unânimes ao afirmar que a tendência é que a maior demanda por
serviços de Tecnologia da Informação (TI), operação de sistemas fabris e
controle de qualidade aumentem o nível de exigência em relação aos empregados.
Para eles, será preciso se inserir nessa revolução tecnológica para garantir
sua atuação no mercado de trabalho.
Na contramão, o
resultado de uma pesquisa realizada pela Agência Brasileira de Desenvolvimento
Industrial (ABDI) com mais de 2 mil brasileiros com idades entre 16 e 29 anos
aponta que somente 20% dos entrevistados têm ideia de que as profissões do
futuro exigirão conhecimento em tecnologia. "Esses dados mostram que, se
não houver políticas e ações que conscientizem os jovens para a transformação
digital, não haverá mão de obra qualificada para atender à demanda do setor
produtivo no futuro", alerta o líder dos Projetos de Competências Digitais
da ABDI, Eduardo Rezende.
Usar a tecnologia e
a integração de sistemas e dados para aprimorar o controle e o andamento do
fluxo de trabalho, por meio do monitoramento em tempo real (e, quando possível,
da substituição de atividades manuais por automatizadas) não chega a ser uma
novidade.
"As grandes
linhas de produção (em fábricas de colchões, artigos esportivos ou móveis, por
exemplo) já funcionam com maquinários específicos, e, mesmo assim, nos dias de
hoje, ainda há muita gente trabalhando nessas operações", comenta ele,
pontuando que é improvável que, com o advento da digitalização dos processos,
ocorra extinção de vagas na indústria.
Segundo Rezende,
alguns estudiosos do conceito de Indústria 4.0 - integração de players e
processos em uma cadeia de fornecimento através de meios digitais -
defendem que, como a automação acontece por meio de sistemas que
envolvem Internet das Coisas (IoT) e computação na nuvem (ou seja, que
combinam máquinas com processos virtuais mediante a ligação do maquinário à
rede de computadores), será preciso gerenciar todos esses processos.
"A
responsabilidade continuará nas mãos dos empregados das indústrias", frisa
o gestor da ABDI, completando que, por outro lado, ainda há uma
"desconexão muito grande dos jovens sobre a necessidade de se
profissionalizar considerando a Indústria 4.0."
Somando 12 mil
funcionários, distribuídos em nove empresas, com diferentes indústrias (2.0,
3.0 e 4.0), o grupo gaúcho Randon é um exemplo de que é possível passar pelo
processo de transformação sem gerar demissões. "Com a aquisição de alguns
equipamentos - que possuem nível de complexidade maior - nos últimos anos,
buscamos profissionais com qualificação técnica mais abrangente",
explica o diretor de Planejamento e Recursos Humanos da Randon, Daniel Martin
Ely.
No entanto, diz o
executivo, foram necessárias poucas contratações. "Paralelamente,
realizamos um processo de capacitação interna muito forte, para que a maior
parte das posições fosse ocupada por quem já estavam na empresa",
destaca Ely.
País terá de qualificar 10,5 milhões no
setor industrial até 2023, revela estudo do Senai
De acordo com o Mapa
do Trabalho Industrial 2019-2023, realizado pelo Senai, a ocupação de condutor
de processos robotizados apresentará a maior taxa de crescimento percentual do
número de empregados para o período: 22,4% de aumento nas vagas disponíveis,
enquanto o crescimento médio projetado para as ocupações industriais será de
cerca de 8,5%.
Esse resultado
reflete as mudanças tecnológicas e a automação do processo de produção, que
demandará cada vez mais profissionais na área de implementação de processos
robotizados. "O trabalho braçal está sendo substituído pelo processo
automatizado integrado a outros processos", observa o diretor do Senai-RS,
Carlos Artur Trein.
Ainda de acordo com
o levantamento da instituição, o País terá de qualificar 10,5 milhões de
trabalhadores em ocupações industriais de níveis superior, técnico,
qualificação profissional e aperfeiçoamento até 2023. As vagas na indústria e
também em outros setores vão demandar formação de trabalhadores nas áreas
transversais (1,7 milhão), metalmecânica (1,6 milhão), construção (1,3 milhão),
logística e transporte (1,2 milhão), alimentos (754 mil), informática (528
mil), eletroeletrônica (405 mil) e energia e telecomunicações (359 mil).
Além de criatividade
e capacidade de autogestão, competências socioemocionais serão necessárias para
colocar em prática as melhores atitudes e habilidades no trabalho em equipe
multidisciplinar, ressalta o diretor regional do Senai-RS. "Qualquer
ocupação na indústria em maior ou menor nível terá que desenvolver competências
transversais", pondera. Ele explica que profissionais com qualificação
transversal são aqueles capazes de trabalhar em qualquer segmento, com pesquisa
e desenvolvimento, e como técnicos de controle da produção ou desenhistas
industriais.
"Muitas
empresas brasileiras já estão se preparando e recrutando aos poucos. E, à
medida em que a indústria vai se modernizando, faz-se necessária a capacitação
dos trabalhadores que já ocupam postos no setor", observa Trein. O diretor
do Senai-RS avalia que o processo de transformação desse mercado de trabalho
será "relativamente lento", e que deve acontecer de forma programada.
Randon está entre as gaúchas que já
implementaram mudança
Instalada no bairro
Interlagos, em Caxias do Sul, a planta da Randon Implementos, recentemente,
aumentou a capacidade e a produtividade, sem ampliar a área construída.
"Pelo contrário, reduziu a área", comenta o diretor-geral da
montadora, Sandro Trentin. De um processo que utilizava 51 máquinas para a
produção de 100 unidades/dia na linha de corte de estamparia, a empresa passou
a fabricar 130 unidades/dia utilizando apenas 20 máquinas. "A produtividade
deu um salto, e ninguém foi demitido", garante o gestor.
Para chegar a esse
patamar, além de injeção de recursos em estrutura e equipamentos (de
comunicação, conectividade, Inteligência Artificial, máquinas se comunicando,
ambiente virtual de simulação) alinhados ao conceito de Indústria 4.0, a
empresa investiu em capacitação de profissionais.
"Foi
necessária, também, uma mudança na mentalidade de quem executa o trabalho para
mudar a forma como se enxergava a produção", afirma Trentin, destacando
que todo o processo se iniciou há dois anos. Segundo ele, a transformação
digital da linha de estamparia também baixou o custo de energia e "liberou
mão de obra" para ser aproveitada em outras áreas de fabricação.
"O que muda é
que as pessoas passarão a executar tarefas mais nobres, com maior qualificação,
maior produtividade e muito menores riscos. Todo o treinamento interno já foi
cumprido, e a equipe está pronta para trabalhar com o novo sistema. Queremos
fazer mais com o mesmo time. Sem perder ninguém. Esse é o objetivo",
sentencia Trentin.
"Isso é somente
o início da operação do sistema automatizado na linha de corte de
estamparia", comenta o CEO da Trumpf Brasil, João Carlos Visetti,
sublinhando que se trata de um dos maiores do mundo em tamanho de warehouse já
instalado por essa empresa.
O executivo destaca
que o compartilhamento de informações entre os membros de uma cadeia (a partir
de componentes da Indústria 4.0) evita desperdícios e permite que toda a
produção ocorra de forma sincronizada. "A tecnologia embarcada gera
transparência no sistema fabril e pode mudar velocidade, foco, potência, evita
a produção de sucata, perda de peças e de material, faz simulações, entre
outros - são infinitas possibilidades", resume Visetti, ao enumerar as
vantagens de se incorporar a transformação digital na indústria.
"É um caminho
sem volta - e, quanto mais rápido ocorrer em uma empresa, mais ela estará
inserida nas cadeias produtivas." Para ele, um dos desafios são os
recursos financeiros do setor, uma vez que a indústria passou por uma crise
recentemente. "O investimento está de acordo com o porte da empresa",
pondera o diretor Regional do Senai-RS, Carlos Trein.
Para o dirigente, a
Indústria 4.0 é fundamental para a competitividade do setor. "Promove
ganho da produtividade, aumento da segurança, redução de erros, e economia de
recursos, com o uso de tecnologias habilitadoras, que permitem a digitalização
da produção e a integração de sistema cybers-físicos", unindo o mundo
virtual com o real, o envio de dados, o conceito da Internet das Coisas, a
análise de Big Data, o uso de Inteligência Artificial, o processamento em nuvem
e o uso de robôs colaborativos, entre outros.
Fonte: Jornal do Comércio RS
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