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Empreender no meio musical vai muito além dos palcos


Publicada em 12/04/2020 às 16:00h 

Artistas e produtores encontram formas de viver da arte

A vontade de empreender pode surgir a partir de diversos contextos. No caso do músico Mike Maidana, 32 anos, o que o influenciou foi a dificuldade de encontrar estúdios especializados em ritmos como R&B e rap.

"Queria qualidade na hora de gravar. Não tinha quem desse atenção para os estilos urbanos e tivesse a estrutura que eu queria. Então fui lá e criei a MK Sounds em 2011", conta. Com o tempo, ele agregou serviços audiovisuais e percebeu que o nome não comportava mais o trabalho. Trocou para Konvictus, em 2014.

Com uma cartela de, aproximadamente, 200 clientes, a produtora atende artistas interessados em escalar o mercado musical e também os que buscam satisfação pessoal ou um hobby. O cantor Lumi (da quinta temporada do The Voice Brasil) e a dançarina e cantora Lorena Simpson já gravaram no local.

Mike, antes de viver da música, atuou em diversas áreas. "Trabalhei em restaurante, mercado, fui montador de móveis e, por último, padeiro. Saí para apostar no que eu sempre quis fazer, que era viver de arte. Peguei o dinheiro da rescisão e investi em mais equipamentos para o estúdio. Aqui, tu não encontras o melhor microfone do mundo, o amplificador mais caro, mas sim os aparelhos especializados para a melhor captação de ritmos urbanos", explica.

A Konvictus conta com uma equipe de quatro pessoas. O produtor Gean Brasil é um deles. Beatmaker desde 2008, aos 12 anos de idade, tinha contrato com duas gravadoras norte-americanas. "Fazia beat em casa, comecei de brincadeira, usando um programa demo e disponibilizando na internet. Fui me profissionalizando, até que me encontraram da Califórnia. Tive contrato até os 15 anos com eles. Foi uma experiência muito boa, porque eu ganhava alguns dólares e podia investir em peças de roupa e acessórios. Nós, que somos do rap, precisamos mostrar atitude", entende Gean.

O profissional diz que se adapta ao que o artista necessita. "Posso desempenhar o papel de produtor, engenheiro de som, compositor, beatmaker, enfim, bastante coisa. Sempre prezando por qualidade e inovação."

Para o futuro, Mike almeja que a Konvictus torne-se uma gravadora que ofereça contratos. Por esse motivo, está em busca de investidores. "Acredito na nossa força, no nosso trabalho e no dos artistas que temos", celebra.

Apresentações de coletivo de poesia afrocentrado se espalham pelo País

O coletivo Poetas Vivos é uma iniciativa afrocentrada que abrange poetas, grafiteiros, dançarinos, DJs e atores que têm a poesia como norte. Os artistas são contratados por bares, restaurantes, escolas, universidades e casas noturnas para apresentarem suas intervenções, que têm chamado a atenção do público.

Isso porque a principal característica do grupo é falar sobre problemáticas como racismo, machismo e situações que surgem a partir desses preconceitos. Felipe Deds, 22 anos, um dos fundadores do coletivo, conta que a proximidade com a poesia começou na infância. "Desde pequeno, escrevo o que sinto. Sem formato de rima, só para botar para fora o que tenho dentro de mim. Escutava rap e ficava impressionado com os caras", lembra.

Ele e Djimitri Rodrigues, conhecido como Danova, 24 anos, que também integra o grupo, moravam no bairro Jardim Carvalho, onde as ideias começaram a brotar. "Tínhamos um amigo, o Arabin, que nos mostrou batalhas de rima improvisada, e nos encantamos. Começamos a frequentar", detalha Deds.

A morte de Arabin, vítima de depressão, motivou ainda mais a dupla a externar os sentimentos. "A partir disso, não conseguia mais ver as coisas do mesmo jeito. Não queria rimar falando coisas só pelo calor do momento", expõe Deds. Começou, então, a fazer poesia, em 2017.

Naquele ano, o slam (campeonato de poesia de rua) chegou a Porto Alegre, e uma nova história começou a ser escrita.

O currículo de Deds só cresceu na sequência. Ele venceu as edições de praticamente todos os slams do Estado, incluindo a Seletiva Regional de Duplas e o Slam Nacional em Dupla, ao lado da poeta Agnes Mariá. Ele também foi contratado pelo Centro de Juventude Restinga para dar aulas de poesia para adolescentes e jovens adultos em situação de rua, drogas ou vulnerabilidade social.

Em 2018, Deds, ao lado de outros poetas gaúchos com vivência nacional, iniciou o Poetas Vivos. De lá para cá, lançaram projetos poéticos e singles na internet, zines e um livro.

Pensando em expansão, o grupo gaúcho concedeu a permissão para que artistas de outros estados usassem o nome da iniciativa. Hoje, portanto, a marca está no Acre, no Rio de Janeiro, na Bahia e em Santa Catarina.

Para Danova, viver da própria arte não é mais uma escolha, mas uma necessidade.

"Para nós, que somos crias da rua, é difícil a adaptação em uma empresa na qual as pessoas que chefiam não entendem nossa vivência. Antes, eu rimava e trabalhava. Hoje, rimar é o meu trabalho, e percebo o quanto eu usava a poesia para descarregar algumas frustrações individuais. Viver disso me dá mais bagagem para analisar nosso contexto e pensar de forma ampla. Não sei se conseguiria voltar ao que era antes", comenta.

A atual formação de poetas do coletivo conta, ainda, com Mica, Dickel e Pretana.

Quem não encontrar os Poetas Vivos na rua pode acompanhá-los pelas redes sociais.

 

Desde 1987 na estrada, ex-vocalista do TNT segue na ativa

No apartamento em Porto Alegre que usa como retiro para suas composições, o ex-vocalista da banda TNT, Charles Master, guarda dezenas de discos, instrumentos, CDs e outros elementos que remetem à música. Ele tem uma relação muito especial com a arte, pois ela lhe proporcionou viver situações inesquecíveis. Hoje, Charles faz shows em casas noturnas. "Eu tinha um violão, Flávio Basso (o Júpiter Maçã) tinha outro. Nós fomos melhores amigos de infância, e começar a fazer música foi mais uma das nossas brincadeiras", conta.

A brincadeira virou negócio. Em 1987, surgiu o TNT, que ficou em voga até o final de 1992. Contemporânea de grupos como Engenheiros do Hawaii e Os Replicantes, a banda enfrentou dificuldade quando ritmos como o axé e o pagode viraram febre, nos anos 1990.

"Era bem na época de músicas como 'Na boquinha da garrafa'. Os caras tomaram conta, e a gente acabou voltando para o Sul. Como um negócio que entra em baixa. Estávamos bem, tocamos no Globo de Ouro, no Chacrinha e na Xuxa, por exemplo. De repente, não tinha mais tanto espaço", lembra Charles. O músico, que havia trancado a faculdade de Jornalismo para se mudar para o Centro do País, decidiu reingressar na Pucrs em meio ao cenário desfavorável ao seu estilo. Nessa época, teve que trabalhar em outros segmentos. Para manter a música em sua vida, administrou uma revenda de carros e ainda gerencia uma estética automotiva. "Sabia que era importante e que depois, na volta, ia estar mais maduro, mais eficaz na forma de contar minha história e passar tudo para os outros", entende.

O retorno começou aos poucos. Charles lançou seu primeiro disco solo em 2000. Três anos depois, o TNT se reuniu e gravou um DVD. 2005 marcou o último trabalho da banda em conjunto. Em 2008, Charles lançou o álbum Ninguém é perfeito, do qual se orgulha bastante, dizendo que "muitos nomes de grandes rádios consideram esse um dos maiores álbuns da história do rock gaúcho". O último projeto dele foi em 2012, com o CD e DVD Charles Master ao vivo, que teve uma tiragem distribuída no mês de dezembro do ano passado.

Hoje, além do Rio Grande do Sul, ele se apresenta em outros estados e aposta nas redes sociais e em seu site. "Meu filho mais velho que cuida. Quando entendi que isso era importante, não me distanciei mais. Dou uma mexida também. O problema é que muitos da geração que curtia o TNT na época que estourou não estão nas redes."

A quantidade de seguidores no Instagram, no entanto, não tem muita relevância para o músico, que percebe uma renovação do seu público. "Há pouco, estive em Caxias do Sul. Muita gente da minha geração acompanhada pelos filhos. Todos cantando juntos. Alguns adolescentes desacompanhados buscando pelo meu trabalho sem ter uma figura mais velha do lado. Depois do show, fiquei duas horas dando autógrafos e tirando fotos. Sou suspeito para falar dos meus trabalhos, mas, caso não tivessem sido bons, isso não aconteceria", entende.

Charles, agora, projeta um futuro junto à família, mas sem deixar de produzir músicas. "Quero curtir meus filhos, ficar com a minha esposa e ter força e saúde paFra compor com as pessoas que eu gosto, e, quem sabe, descobrir novos parceiros. Certamente, se eu tivesse nascido com a quantidade de hits que tenho e que ainda vou botar na rua, viveria de direito autoral e não precisaria mais tocar para sustentar minha família", diverte-se.

Os materiais do ex-líder do TNT podem ser encontrados por meio de seu Instagram @charlesmasteroficial e de seu site.

Fonte: Luka Pumes - repórter do GeraçãoE/ Jornal do Comércio do RS.

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