Artistas
e produtores encontram formas de viver da arte
A vontade de empreender pode surgir a
partir de diversos contextos. No caso do músico Mike Maidana, 32 anos, o que o
influenciou foi a dificuldade de encontrar estúdios especializados em ritmos
como R&B e rap.
"Queria qualidade na hora de gravar.
Não tinha quem desse atenção para os estilos urbanos e tivesse a estrutura que
eu queria. Então fui lá e criei a MK Sounds em 2011", conta. Com o tempo,
ele agregou serviços audiovisuais e percebeu que o nome não comportava mais o
trabalho. Trocou para Konvictus, em 2014.
Com uma cartela de, aproximadamente, 200
clientes, a produtora atende artistas interessados em escalar o mercado musical
e também os que buscam satisfação pessoal ou um hobby. O cantor Lumi (da quinta
temporada do The Voice Brasil) e a dançarina e cantora Lorena Simpson já
gravaram no local.
Mike, antes de viver da música, atuou em
diversas áreas. "Trabalhei em restaurante, mercado, fui montador de móveis
e, por último, padeiro. Saí para apostar no que eu sempre quis fazer, que era
viver de arte. Peguei o dinheiro da rescisão e investi em mais equipamentos
para o estúdio. Aqui, tu não encontras o melhor microfone do mundo, o
amplificador mais caro, mas sim os aparelhos especializados para a melhor
captação de ritmos urbanos", explica.
A Konvictus conta com uma equipe
de quatro pessoas. O produtor Gean Brasil é um deles. Beatmaker desde 2008, aos
12 anos de idade, tinha contrato com duas gravadoras norte-americanas.
"Fazia beat em casa, comecei de brincadeira, usando um programa demo e
disponibilizando na internet. Fui me profissionalizando, até que me encontraram
da Califórnia. Tive contrato até os 15 anos com eles. Foi uma experiência muito
boa, porque eu ganhava alguns dólares e podia investir em peças de roupa e
acessórios. Nós, que somos do rap, precisamos mostrar atitude", entende
Gean.
O profissional diz que se adapta ao que o
artista necessita. "Posso desempenhar o papel de produtor, engenheiro de
som, compositor, beatmaker, enfim, bastante coisa. Sempre prezando por
qualidade e inovação."
Para o futuro, Mike almeja que a Konvictus
torne-se uma gravadora que ofereça contratos. Por esse motivo, está em busca de
investidores. "Acredito na nossa força, no nosso trabalho e no dos
artistas que temos", celebra.
Apresentações
de coletivo de poesia afrocentrado se espalham pelo País
O coletivo Poetas Vivos é uma
iniciativa afrocentrada que abrange poetas, grafiteiros, dançarinos, DJs e
atores que têm a poesia como norte. Os artistas são contratados por bares,
restaurantes, escolas, universidades e casas noturnas para apresentarem suas
intervenções, que têm chamado a atenção do público.
Isso porque a principal característica do
grupo é falar sobre problemáticas como racismo, machismo e situações que surgem
a partir desses preconceitos. Felipe Deds, 22 anos, um dos fundadores do
coletivo, conta que a proximidade com a poesia começou na infância. "Desde
pequeno, escrevo o que sinto. Sem formato de rima, só para botar para fora o
que tenho dentro de mim. Escutava rap e ficava impressionado com os
caras", lembra.
Ele e Djimitri Rodrigues, conhecido como
Danova, 24 anos, que também integra o grupo, moravam no bairro Jardim Carvalho,
onde as ideias começaram a brotar. "Tínhamos um amigo, o Arabin, que nos
mostrou batalhas de rima improvisada, e nos encantamos. Começamos a
frequentar", detalha Deds.
A morte de Arabin, vítima de depressão,
motivou ainda mais a dupla a externar os sentimentos. "A partir disso, não
conseguia mais ver as coisas do mesmo jeito. Não queria rimar falando coisas só
pelo calor do momento", expõe Deds. Começou, então, a fazer poesia, em
2017.
Naquele ano, o slam (campeonato de poesia
de rua) chegou a Porto Alegre, e uma nova história começou a ser escrita.
O currículo de Deds só cresceu na
sequência. Ele venceu as edições de praticamente todos os slams do Estado,
incluindo a Seletiva Regional de Duplas e o Slam Nacional em Dupla, ao lado da
poeta Agnes Mariá. Ele também foi contratado pelo Centro de Juventude Restinga
para dar aulas de poesia para adolescentes e jovens adultos em situação de rua,
drogas ou vulnerabilidade social.
Em 2018, Deds, ao lado de outros poetas
gaúchos com vivência nacional, iniciou o Poetas Vivos. De lá para cá, lançaram
projetos poéticos e singles na internet, zines e um livro.
Pensando em expansão, o grupo gaúcho
concedeu a permissão para que artistas de outros estados usassem o nome da
iniciativa. Hoje, portanto, a marca está no Acre, no Rio de Janeiro, na Bahia e
em Santa Catarina.
Para Danova, viver da própria arte não é
mais uma escolha, mas uma necessidade.
"Para nós, que somos crias da rua, é difícil
a adaptação em uma empresa na qual as pessoas que chefiam não entendem nossa
vivência. Antes, eu rimava e trabalhava. Hoje, rimar é o meu trabalho, e
percebo o quanto eu usava a poesia para descarregar algumas frustrações
individuais. Viver disso me dá mais bagagem para analisar nosso contexto e
pensar de forma ampla. Não sei se conseguiria voltar ao que era antes",
comenta.
A atual formação de poetas do coletivo
conta, ainda, com Mica, Dickel e Pretana.
Quem não encontrar os Poetas Vivos na rua pode
acompanhá-los pelas redes sociais.
Desde
1987 na estrada, ex-vocalista do TNT segue na ativa
No apartamento em Porto Alegre que usa como
retiro para suas composições, o ex-vocalista da banda TNT, Charles Master,
guarda dezenas de discos, instrumentos, CDs e outros elementos que remetem à
música. Ele tem uma relação muito especial com a arte, pois ela lhe
proporcionou viver situações inesquecíveis. Hoje, Charles faz shows em casas
noturnas. "Eu tinha um violão, Flávio Basso (o Júpiter Maçã) tinha outro.
Nós fomos melhores amigos de infância, e começar a fazer música foi mais uma
das nossas brincadeiras", conta.
A brincadeira virou negócio. Em 1987,
surgiu o TNT, que ficou em voga até o final de 1992. Contemporânea de grupos
como Engenheiros do Hawaii e Os Replicantes, a banda enfrentou dificuldade
quando ritmos como o axé e o pagode viraram febre, nos anos 1990.
"Era bem na época de músicas como 'Na
boquinha da garrafa'. Os caras tomaram conta, e a gente acabou voltando para o
Sul. Como um negócio que entra em baixa. Estávamos bem, tocamos no Globo de
Ouro, no Chacrinha e na Xuxa, por exemplo. De repente, não tinha mais tanto
espaço", lembra Charles. O músico, que havia trancado a faculdade de
Jornalismo para se mudar para o Centro do País, decidiu reingressar na Pucrs em
meio ao cenário desfavorável ao seu estilo. Nessa época, teve que trabalhar em
outros segmentos. Para manter a música em sua vida, administrou uma revenda de
carros e ainda gerencia uma estética automotiva. "Sabia que era importante
e que depois, na volta, ia estar mais maduro, mais eficaz na forma de contar
minha história e passar tudo para os outros", entende.
O retorno começou aos poucos. Charles
lançou seu primeiro disco solo em 2000. Três anos depois, o TNT se reuniu e
gravou um DVD. 2005 marcou o último trabalho da banda em conjunto. Em 2008,
Charles lançou o álbum Ninguém é perfeito, do qual se orgulha bastante, dizendo
que "muitos nomes de grandes rádios consideram esse um dos maiores álbuns
da história do rock gaúcho". O último projeto dele foi em 2012, com o CD e
DVD Charles Master ao vivo, que teve uma tiragem distribuída no mês de dezembro
do ano passado.
Hoje, além do Rio Grande do Sul, ele se
apresenta em outros estados e aposta nas redes sociais e em seu site. "Meu
filho mais velho que cuida. Quando entendi que isso era importante, não me
distanciei mais. Dou uma mexida também. O problema é que muitos da geração que
curtia o TNT na época que estourou não estão nas redes."
A quantidade de seguidores no Instagram, no
entanto, não tem muita relevância para o músico, que percebe uma renovação do
seu público. "Há pouco, estive em Caxias do Sul. Muita gente da minha
geração acompanhada pelos filhos. Todos cantando juntos. Alguns adolescentes
desacompanhados buscando pelo meu trabalho sem ter uma figura mais velha do
lado. Depois do show, fiquei duas horas dando autógrafos e tirando fotos. Sou
suspeito para falar dos meus trabalhos, mas, caso não tivessem sido bons, isso
não aconteceria", entende.
Charles, agora, projeta um futuro junto à
família, mas sem deixar de produzir músicas. "Quero curtir meus filhos,
ficar com a minha esposa e ter força e saúde paFra compor com as pessoas
que eu gosto, e, quem sabe, descobrir novos parceiros. Certamente, se eu
tivesse nascido com a quantidade de hits que tenho e que ainda vou botar na
rua, viveria de direito autoral e não precisaria mais tocar para sustentar
minha família", diverte-se.
Os materiais do ex-líder do TNT podem ser
encontrados por meio de seu Instagram @charlesmasteroficial e de seu site.
Fonte:
Luka Pumes - repórter do GeraçãoE/ Jornal do Comércio do RS.
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