Feiras,
palestras e workshops precisam encontrar novas maneiras para continuar
existindo enquanto o coronavírus se alastra
A Gramado Summit,
evento que ocorre anualmente em Gramado, na Serra Gaúcha, com a participação de
milhares de empreendedores vindos de todas as partes do Brasil, teve de ser
remarcada. Em vez de agosto, como normalmente ocorre, deve acontecer de 30 de
setembro a 2 de outubro, na Expogramado.
Marcus Rossi, 32 anos, CEO do projeto, diz
que mesmo que a pandemia acabe antes, a decisão foi baseada também em outras
questões. "As previsões para o fim da quarentena eram de 30 a 60 dias,
então, tudo voltaria ao normal. Mas, com o passar dos dias, as instituições de
saúde não conseguiram mais afirmar uma data com certeza. Concluímos que, por
mais que em agosto estivesse tudo bem, precisaríamos do mercado aquecido",
pondera.
A crise, interpreta Marcus, atingiu o setor
de eventos de forma abrupta. "Não conseguimos ter uma noção do que
acontecerá se ficarmos três meses em confinamento", comenta. Para ele, o
governo federal sofre de inconstâncias no discurso e isso pode afetar,
principalmente, os pequenos empreendedores.
"É preciso entender a micro economia e
não só a macro", afirma, destacando que medidas para estabilizar os
pequenos negócios são necessárias.
Marcus crê que o setor já dispõe de uma
série de recursos tecnológicos que podem auxiliar os eventos a não serem
cancelados ou adiados nessa situação. Como exemplo, ele cita as ferramentas de
transmissão on-line que são, em maioria, gratuitas e de fácil acesso.
"Desde 2017, batemos na tecla de que as empresas precisam se digitalizar.
Precisamos estar numa nação digital", reflete.
Nesse sentido, o CEO adianta que, em
outubro, as palestras do palco principal da Gramado Summit serão transmitidas
ao vivo, plano que estava previsto para 2021, mas teve que ser antecipado.
"Todos os 140 palestrantes e os cinco palcos do evento de 2020 estão
confirmados", afirma. Uma das grandes atrações desse ano, inclusive, é o
norte-americano Jordan Belfort, conhecido como o Lobo de Wall Street. Nos anos
1990, ele construiu uma das organizações de vendas mais dinâmicas e
bem-sucedidas da história de Nova Iorque. Ele alcançou níveis financeiros que
geravam US$ 50 milhões por ano.
Marcus prevê que, quando a situação
normalizar, o público valorizará ainda mais as conexões e interações. "O fator
humano nunca foi tão importante como agora."
Poa na
Rua lança app para vendas
Adaptação. Esse é um dos conceitos
essenciais para passar por qualquer crise que se estabeleça em um negócio.
Atualmente, a provocada pelo surto de coronavírus tem feito o setor de eventos
lembrar dessa lição e apelar para a criatividade.
Foi pensando em se adequar ao isolamento
social que a startup gaúcha Poa na Rua lançou o Bora!. A ideia é ser uma
plataforma on-line de expositores, com o objetivo de fomentar o comércio local.
Criado pelo casal Guilherme Fraga e Thiana
Pinto, o Poa na Rua surgiu de uma necessidade dos dois. "Morávamos em
Barcelona e lá tínhamos muitos momentos na rua. Voltamos para Porto Alegre e começamos
a nos questionar se não tinha nada para fazer", conta Guilherme. Em busca
de eventos na Capital, ele encontrou informações dispersas, espalhadas pelas
redes sociais. Decidiu, então, unir o hobby de programação com o amor pela cena
cultural através de um aplicativo. "Em março de 2018, criei o app nos
sistemas Android e iOS. Em um mês, tinha mais de mil downloads. Percebemos que
a dor não era só nossa", lembra.
Com a pandemia de coronavírus instalada e o
decreto municipal que orienta evitar aglomerações, o negócio teve de buscar
alternativas para se manter ativo e continuar apoiando a cena local. A
ferramenta, então, listou alguns cursos e workshops para serem feitos em casa.
Além disso, em desenvolvimento desde dezembro e com previsão de lançamento oficial
em maio, o projeto reformulado do Bora! foi antecipado. Com cerca de 220
expositores parceiros, a plataforma servirá como uma alternativa para o varejo
de rua. "Temos um contato próximo com empreendedores e sabemos que
precisam vender seus produtos para pagar água, luz, aluguel", afirma
Guilherme.
Focado em apoiar os comerciantes, o
aplicativo não retornará lucro para a startup e funcionará no mesmo sistema do
Mercado Livre. O cliente negociará diretamente com o vendedor. "A nossa
intenção é mostrar as pessoas incríveis que estão por trás desses produtos,
contar histórias", destaca. Para ele, após a pandemia, a lógica de consumo
irá mudar. "O Poa na Rua nasceu para esse momento. Depois disso tudo, quem
não dava valor para ir a um café, a uma feira, vai começar a dar", pontua.
Atualmente, o app soma cerca de 45 mil
downloads, sem custos para quem baixa nem para quem expõe. Mas, se o evento
quiser uma posição privilegiada, há planos de divulgação, o que gera renda ao
casal.
Feira
de moda plus size aposta em vitrine on-line
Frente aos efeitos do coronavírus, a BPSPOA,
feira de moda para quem veste tamanhos grandes, criou um modelo de vitrine
on-line. Nascida em 2016, a feira já teve 16 edições físicas que reúnem, em
média, 600 pessoas a cada evento.
Viviane Lemos, que toca a empreitada com a
sócia Gizela Fonseca, conta que uma edição teria acontecido no início de abril,
mas foi cancelada. "Há dias, estávamos pensando em um protocolo para a feira
em razão do coronavírus. Nossa ideia era distribuir álcool em gel de
brinde", pontua. Como a situação mudou severamente nas últimas semanas e a
orientação é para que todos permaneçam em casa, as sócias constataram que
precisavam criar uma solução on-line para o evento.
"Não podemos ter contato físico, mas
temos que manter viva a rede. Primeiro por nós, pelo projeto, mas também
pelos empreendedores e clientes", destaca Vivivane, salientando que o
valor investido pelos expositores no evento foi todo devolvido.
"Entendemos que está todo mundo no mesmo barco, apesar da quebra
financeira que isso nos causa."
A solução encontrada pelas sócias foi criar
uma vitrine virtual. O objetivo é, aproveitando o engajamento da rede criada
pelo evento, dar visibilidade a empreendedores e empreendedoras que dependem de
feiras como a BPSPOA para manter seus negócios. "Estamos apostando que na
nossa rede, quem puder, continue consumindo desses pequenos empreendedores para
que possamos passar pela crise juntos", afirma.
Os pacotes de divulgação incluem desde
publicação nas redes sociais da feira, envio de WhatsApp e e-mail marketing
para público segmentado até produção de conteúdo em vídeo. O pacote mais básico
oferecido pode ser contratado mediante contribuição espontânea ou no valor de
R$ 37,00. O mais completo tem um custo de R$ 77,00.
Outro serviço lançado pela dupla é a
central de distribuição. Como muitos expositores não são de Porto Alegre,
Viviane explica que, agora, há a possibilidade dessas marcas enviarem seus
estoques para serem administrados e despachados para os clientes por elas.
"É uma possibilidade para as lojas de
fora do Estado manterem a entrega no Rio Grande do Sul mesmo em um possível
fechamento de fronteiras. Outro ponto é que tem muita gente com estoque parado
e dando frete gratuito para conseguir vender. Mas o empreendedor está pagando
por esse envio, então, entregar a partir de Porto Alegre é uma maneira de
reduzir esse custo", explica Viviane. Todas as novidades que funcionarem
devem continuar existindo mesmo quando a feira voltar a seu formato físico.
Dos
espaços kids aos kits para delivery
Lú Brito, da noite para o dia, viu sua
fonte de renda sumir. Fundadora da Gurizada
Faceira, empresa que monta espaços kids em casamentos, formaturas e
aniversários, teve de desengavetar uma ideia antiga: delivery de artigos para
distrair as crianças em casa.
"Foi bem difícil no começo.
Desesperador para quem é empreendedor. Eu teria três eventos na semana seguinte
ao início da quarentena. Um dinheiro que eu contava e não veio. A sensação
é de incerteza, mas também de reinvenção. Quando comecei a empreender, foi
após um pedido de demissão muito traumático. Durante essa queda, tive que me
reinventar na dor também", conta Lú, sobre a adaptação à nova fase.
Há um ano, a empreendedora tinha tido a
ideia de criar os kits lúdicos. A alta demanda de trabalho, no entanto, fez com
que o projeto nunca saísse do papel. "Com os eventos acontecendo, nunca
consegui validar o produto ou parar para fazer pesquisa de mercado. O projeto
inicial era uma caixa de brinquedo, que ainda existe, mas já colocamos em
prática essa adaptação", explica Lú. O kit básico custa R$ 58,00 e é
composto por 15 cores de giz de cera, brinquedo de papelão, 12 cores de
massinha de modelar, seis cores de tinta guache, um pacote com 100 unidades de
folhas brancas em tamanho A4, uma folha A4 colorida e uma embalagem para
guardar todos os itens. A encomenda dos kits, que podem custar até R$ 120,00,
conforme a inclusão de outros brinquedos, pode ser feita pelas redes sociais da
Gurizada Faceira. As entregas têm taxa de R$ 10,00 para a Capital e R$ 20,00
para região metropolitana, e são feitas no dia seguinte ao pagamento.
Ser ativa nas redes sociais foi fundamental
para que Lú encontrasse o recorte necessário para o seu produto. "Estou em
muitos grupos com mães e via mensagens como '20 soluções para brincar com as
crianças sem sair de casa'. Nesses conteúdos, sempre tinha giz de cera,
palitos, tinta guache. Parece bobo, mas muitos não têm em casa. É uma geração
de tela, de celular", contextualiza.
Lú conta que há padrinhos comprando e
pedindo para entregar na casa dos afilhados. "É aquela coisa do afeto. Do
'estou longe, mas faz um desenho pra mim'. Fico feliz em contribuir para que as
pessoas possam espalhar carinho", emociona-se.
Sobre o futuro, a empreendedora acredita
que seu negócio sairá fortalecido. "Posso até ter perdas financeiras, mas
reinventar fortalece."
Fonte:
Jornal do Comércio do RS, Geração E
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