Nada do que se projetava para 2020 seguirá
como o esperado. Em um piscar de olhos, o que era prioridade deixou de ser.
Inaugurar lojas físicas, algo que estava no planejamento estratégico de muitos
varejistas, não faz sentido neste momento, bem como a realização de eventos
presenciais de entretenimento, negócios ou educativos. Iniciativas digitais que
estavam no fim da fila ganharam prioridade. Desde que o mundo foi assolado pela
Covid-19, tudo o que se vê é as empresas tendo que se reinventar rapidamente.
Os memes de que é a pandemia que está
acelerando a tão esperada transformação digital das empresas já saíram das
redes sociais e passaram a ser repetidos por analistas e empresários. Todo esse
cenário também deverá provocar uma mudança das pessoas com o mundo digital. Quem
antes tinha insegurança de pagar contas pelo internet banking ou comprar
remédios pelo app está sendo obrigado a fazer isso.
O que vai restar disso tudo depois que o
mundo voltar ao novo normal, não se sabe. Mas, para ajudar a analisar alguns
destes possíveis cenários, convidamos empreendedores e gestores inovadores que
estão tentando fazer a diferença em seus mercados para traçar suas
perspectivas: Pedro Englert, da StartSe, Paulo Beck, da Grow+, Tito
Gusmão, da Warren, e Reynaldo Gama, da SingularityU Brazil e HSM.
Empresas
baseadas no comando-controle estão em apuros
"O mundo virou de cabeça para baixo. O
vento que vinha do norte, agora, transformou-se em uma rajada. O que era,
deixou de ser, e, de uma hora para outra, fomos duramente impactados, o que
gera consequências boas e ruins. Quando vivemos essas mudanças bruscas, o custo
de oportunidade, que é o maior fator de, hoje, as empresas não inovarem, deixa
de existir. Isso significa que muitas companhias tradicionais tinham receio de
ir para o digital, agora, farão isso porque não têm alternativa. E isso lhes
dará a liberdade, a tranquilidade para implementar coisas novas. O consumidor
também está mais aberto. Este cenário força as pessoas a adotarem as
ferramentas digitais e a se adaptarem a novas formas de comprar e interagir.
Qualquer movimento de chacoalhada cria oportunidades. Um segredo para isso é
ter um time alinhado e capaz de responder a essa nova realidade de forma rápida
e eficiente.
Os colaboradores precisam ter liberdade
para agir. Por isso que as organizações baseadas em comando-controle estão com
um grande problema nas mãos. Já no caso das startups, elas geralmente têm uma
capacidade de ajuste mais ágil, mas, ao mesmo tempo, têm o caixa mais apertado
que os players tradicionais. É preciso atenção neste momento." Pedro
Englert, CEO da StartSe.
O seu
negócio fará sentido para o mundo pós-pandemia?
"Se o seu modelo de negócios hoje é o
mesmo de um mês atrás, você está em negação. Insistir no mesmo planejamento
estratégico feito de novembro a janeiro para 2020 é arriscar ficar fora do
mercado. É preciso refletir. O seu negócio pós-pandemia fará sentido para o
mundo que vamos viver?
Não se trata apenas de rever planejamento,
mas olhar para dentro e ver se a estrutura da sua empresa será relevante quando
isso tudo acabar. Faz sentido o banco manter sistemas de contingência agora que
sabemos que podem funcionar cada vez mais digital? O que está acontecendo é um
chacoalhão para as empresas se reinventarem. Algumas tiveram que ir a lojas de
departamento comprar notebooks para o home office dos seus colaboradores porque
ainda usavam desktop. Quantos restaurantes nunca pensaram em trabalhar com
delivery e, agora, estão tendo que voar nessa direção? E temos aí a
transformação do consumidor também. As pessoas estão aprendendo a consumir
digitalmente. Meus pais nunca tinham comprado remédio por dispositivos e estão
fazendo isso agora. Claro que o brasileiro gosta do olho no olho, do aperto de
mão, isso não vai mudar, mas, quando isso tudo acabar, a tendência é que
tenhamos mais disponibilidade para o on-line." Reynaldo Gama, coCEO
da SingularityU Brazil e CEO da HSM.
O
momento é de pivotar negócios e reforçar humanização
"Nunca mais vamos encontrar o mundo
que a gente vivia antes. Existe, hoje, o AC (Antes da Covid-19) e o DC (depois
da Covid-19). Estávamos em uma trilha boa, com a economia dando bons sinais de
recuperação, a inflação baixa e a possibilidade de reforma fiscal, e, agora,
veio essa trilha ruim que surge com essa pandemia global. Isso trouxe uma queda
radical nas atividades das empresas. Como se fecha negócio hoje se não podemos
fazer reuniões e viagens? Vamos levar vários trimestres para conter o vírus, e
superar isso exigirá um forte envolvimento de todos. Mas, ao mesmo tempo,
parece-me que falta aptidão para algumas grandes empresas se engajarem. Em
alguns casos, tudo o que vemos é elas orientando as pessoas a ficarem em casa
quando poderiam pivotar seus negócios, termo muito usado em ambientes de
inovação. Isso significa, por exemplo, passar a usar suas unidades fabris para
fazer respiradores ou outros equipamentos que estejamos precisando neste
momento para superar a pandemia. A previsão de vendas nos próximos meses vai
depender de quão rápido você vai conseguir se reinventar. Não adianta olhar
para a previsão de vendas de antes da Covid-19, a realidade é outra. Um caminho
é diminuir despesas e acabar com o excesso de caixa." Paulo Beck, CEO
da GROW+.
Cenário
de guerra coloca em evidência bons gestores
"Esse cenário da Covid-19 terá muitos
efeitos na digitalização das empresas e das pessoas, mas sou cético quanto à
ideia de uma ruptura digital. Não acredito em um cenário em que todo mundo será
digital, nem acho que é por aí. Mas claro que existem muitas mudanças pela
frente. É um momento especialmente desafiador para os jovens empreendedores.
Uma coisa é tomar uma atitude para a sua startup em um ambiente lindo, e outra
é ter que lidar com cenário de guerra. Acredito que este momento vai ajudar a
separar quem nasceu para aguentar o tranco e quem não. Alguns vão chorar em um
canto, e outros vão descobrir que gostam mesmo deste jogo. Os empreendedores à
frente de startups que vinham em uma pegada de crescimento exagerado, sem se
preocupar com as contas a pagar, vão perceber que precisam de um CFO forte do
seu lado para criar cenários e ajudar a tomar decisões. Muitas empresas estavam
muito alavancadas, precisando triplicar de valor em seis meses, e aí vão ter o
baque agora. Andar alavancado é lindo a céu de brigadeiro, mas agora é
arriscado. Os próprios investidores estão alertando as empresas que, nos
próximos meses, as receitas serão zero. Não é momento de growth, mas de
sobrevivência." Tito Gusmão, CEO da Warren.
Fonte:
Jornal do Comércio do RS
Gostou
da matéria e quer continuar aumentando os seus conhecimentos com os nossos
conteúdos?
Assine,
gratuitamente, a nossa Newsletter Semanal M&M Flash, clicando no link a
seguir:
https://www.mmcontabilidade.com.br/FormBoletim.aspx, e
assim você acompanha as nossas atualizações em primeira mão!