Entro em uma loja de
eletrodomésticos, com o principal objetivo de comprar uma máquina de lavar
roupas. Sou abordado pelo vendedor, que após ouvir minha necessidade, convida
para conhecer os modelos disponíveis na loja. O profissional começa elogiando o
primeiro modelo, depois enaltece os diferenciais da marca da segunda máquina de
lavar e para finalizar, apresenta de maneira expressiva o terceiro modelo.
Afirma que todas são excelentes e brinca de forma irônica que "as máquinas
para serem impecáveis só faltam estender as roupas e passar!" Depois de
ouvir o vendedor, questiono qual dos modelos apresentados ele tem em casa. Para
minha surpresa, ouço o profissional responder que reside sozinho e não possui
máquina de lavar. Uma situação como esta já ocorreu com você?
Quantas vezes estamos diante de um profissional
de vendas, que enaltece o serviço ou o produto, entretanto não é capaz de
comprar o que está vendendo? Encontramos professores que apresentam dissabor ao
plano de ensino e desejam que os alunos fiquem atentos ao conteúdo
programático! Há publicitários que são capazes de criar a campanha de um
determinado local, mas ao serem questionados se gostariam de conhecer
pessoalmente a cidade, assinalam de maneira negativa. Encontramos garçons que
são capazes de dizer que a comida está maravilhosa, mas ao questionar se ele
comeu, a resposta é negativa! E qual o motivo destas ações? Qual o fator destes
dissabores em vender algo que não se acredita? Observe nos dois fatores abaixo:
Você daria emprego a um especialista em
jeitinho? - O profissional que deseja apresentar coerência no momento de
argumentar sobre o produto ou o serviço ao cliente, deve praticar o exercício
antecipado de conhecer o que está falando através de um treinamento prévio.
Passa a ser inaceitável e um dissabor observar uma balconista em pé, parada em
uma loja, sabendo que neste momento ela poderia estudar o catálogo de produtos,
o tablóide de ofertas e realizar a análise comparativa dos diferenciais de
funcionamento de uma marca. Penso que é um dissabor ao cliente, quando ao
procurar por informações de um produto, ele se depara com um vendedor que pede
licença para consultar um catálogo e este profissional demonstra espanto ao
descobrir que o produto é capaz de fazer algo que ele próprio nem imaginava. O
especialista em jeitinho é aquele que ao contrário de estudar, busca apresentar
justificativa pela ausência de conhecimento. Quando é convidado para participar
de um treinamento de vendas, o especialista em jeitinho responde de imediato
que é pura perda de tempo e que é sabedor de tudo que será apresentado. Gosta
de improvisar com assuntos improdutivos ou demonstra ausência de argumentações
sobre um determinado produto ou serviço. Um treinamento ou uma reunião interna
de trabalho pode contribuir para eliminar o comportamento do especialista em
jeitinho e permitir transformar o dissabor de um cliente em satisfação, aliado
com atitudes profissionais coesas com as realidades do mercado.
Pode ocorrer dissabor sem a identificação do
público alvo? - Para desenvolver, ampliar e fortalecer o profissionalismo na
área comercial, além da conduta ética, há a necessidade de um perfil
comunicativo, inovador e criativo nas atitudes desenvolvidas, através da
cordialidade e uso da empatia. Existem vendedores que abandonam a seriedade
desta importante profissão para fazer piadas para quem não quer ouvir e
acredita que está arrasando! Você conhece pessoas assim? Há vendedoras que
trabalham em lojas de roupas que deixam de mostrar novidades para seus clientes
e justificam que determinada marca possui preço elevado demais para o perfil da
cliente. Há profissionais de vendas que persistem em realizar a abordagem
comercial, frequentemente da mesma forma. Não são capazes de oferecer outro
produto e deixam de explorar que a empresa conta com um expressivo mix de
venda, por exemplo. Ao utilizar de opções práticas e vivenciais, o profissional
fortalece o compromisso de criar novas argumentações para produtos e serviços,
tornando os apontamentos mais atrativos de acordo com o perfil do público alvo.
Houve um período da história comercial, onde o
vendedor era representado por uma pessoa que usava de pretextos para
"empurrar" algo a um cliente. Este tempo passou e atualmente o papel
do profissional de vendas é encarado como uma atividade essencial e verdadeira
para o crescimento de qualquer organização. Neste sentido, não acredito ser
coerente que um profissional de vendas, deixe de acreditar no seu próprio
produto ou serviço. Note que quando ouvimos a sugestão de alguém que usou
determinado serviço e posteriormente aprovou, passamos a analisar com maior
segurança a proposta. Agora responda: Você estaria confortável em uma aeronave,
onde o piloto não planejou que irá chegar? Você acredita em um professor que em
sala de aula apresenta dissabor pelo próprio plano de ensino? Você realizaria a
compra de um automóvel com um vendedor que não acredita e enfatiza dissabores
no que está oferecendo?
Por Dalmir Sant'Anna
Há dissabores em vender algo que não se acredita?