Banco Central
anunciou o ingresso de contas-salário no novo sistema de pagamentos brasileiro
(Pix) para o primeiro trimestre de 2021
A
gestão de folhas de pagamentos é parte importante do relacionamento entre
empresa e banco, com processos complexos e caros. O ingresso de contas-salário
no novo sistema de pagamentos brasileiro (Pix), anunciada pelo Banco Central
para o primeiro trimestre deste ano, pode mudar completamente essa dinâmica,
baratear custos para o empregador e dar mais liberdade ao empregado.
Atualmente, a modalidade é uma das poucas que ainda não podem operar no Pix,
porque precisa de mudanças de regulamentação. Em reunião com o mercado em 28 de
janeiro, a autoridade monetária informou que fará ajustes nas normas para
acomodar a inovação.
Esse tipo de conta existe desde 2006, mas ganhou visibilidade em 2018, quando o
BC publicou regra que permite que o trabalhador escolha onde prefere receber,
por meio da portabilidade.
Para isso, o patrão precisa abrir uma conta-salário e, dela, os recursos vão
diretamente para a conta escolhida pelo trabalhador por meio de transferência
eletrônica, sem tarifas. Só no ano passado, foram feitos 3,54 milhões de
pedidos de portabilidade, de acordo com dados divulgados pela autoridade
monetária.
Antes,
era comum que o trabalhador tivesse que abrir conta em um novo banco a cada
mudança de emprego para se adequar à instituição financeira escolhida pela
empresa.
Para executivos do setor, a longo prazo é possível que a modalidade deixe de
existir, porque perderia o sentido.
"Com o Pix, o empregado poderia escolher o banco em que quer receber, e a
empresa não teria ônus para enviar os recursos, o que dá liberdade ao trabalhador
e reduz custos ao empregado. Nesse contexto, não faria sentido existir
conta-salário, que foi criada justamente para dar esse poder de escolha",
diz Carlos Netto, presidente da Matera, empresa de tecnologia para o mercado
financeiro.
Além disso, ele vislumbra a possibilidade de realizar pagamentos pelo CPF do
trabalhador. A mudança traria liberdade para a escolha o banco em que deseja
receber, inclusive com a possibilidade de mudar a qualquer momento via
portabilidade de chaves.
"Nesse caso, o funcionário só precisaria cadastrar seu CPF como chave Pix
e ele poderia mudar a qualquer momento, pois a portabilidade de chaves é muito
simples. Se ele quisesse mudar de banco, não precisaria nem informar à
empresa", afirma o executivo.
O especialista diz ainda que a forma como a regulação de portabilidade é
desenhada hoje não dá total liberdade para que o trabalhador escolha a conta
pela qual quer receber.
"Como o dinheiro é enviado por meio de TED [Transferência Eletrônica
Disponível], algumas contas de fintechs são excluídas. Se essa transferência
pudesse ser feita pelo Pix, muitas delas poderiam ser escolhidas para
portabilidade de salário", argumenta.
Segundo Netto, os empresários ainda não começaram a pagar aos funcionários com
Pix - mesmo aqueles que não possuem conta-salário- por insegurança jurídica.
"Nós, por exemplo, pretendemos adotar o novo sistema, mas, como a relação
entre empregador e trabalhador tem regulamentação rigorosa, não ficou claro se
é permitido."
A mudança na regra, proposta pelo BC, abre caminho para que companhias realizem
pagamentos pelo Pix e que empresas de contabilidade e de gestão de folha
ofereçam o serviço. "Facilita inclusive para autônomos e freelancers, que
não possuem vínculo", destaca Netto.
O vice-presidente de serviços financeiros da Contabilizei (empresa de
contabilidade online), Heitor Barcellos, concorda que, se o Pix fosse adotado
para pagamento de funcionários, a conta-salário perderia sentido.
Além disso, ele diz acreditar que, além da insegurança jurídica, os bancos e as
empresas também precisam adequar seus sistemas. "Na nossa empresa
oferecemos gestão de folha de pagamentos, mas ainda não começamos a fazer por
Pix. Estamos esperando para ver qual realmente vai ser a demanda do cliente
porque a operacionalização exige investimento."
Barcellos pontua que o modelo também abre espaço para novas empresas, que
poderão oferecer folhas feitas exclusivamente com o novo sistema de pagamentos.
"Embora o BC ainda não tenha liberado o Pix agendado [que permite escolher
que a transferência seja feita em data futura], o mercado pode criar essas
soluções por si", avalia.
Charles Gularte, vice-presidente de operações da empresa, salienta que o modelo
pode favorecer especialmente o pequeno empresário.
"Toda essa adequação de sistemas precisa ser feita por grandes empresas,
que têm um número grande de funcionários e conseguem barganhar com o banco. Nas
menores, a gestão pode ser feita pelo próprio empresário, e o Pix facilita
muito", diz.
Alexandre de Carvalho, presidente da Easymei (aplicativo que presta auxílio ao
microempreendedor individual), diz que o pequeno empresário é beneficiado mesmo
sem a integração da conta-salário ao Pix.
"O MEI pode contratar apenas um funcionário e na prática dificilmente abre
conta-salário para o seu empregado, ou seja, efetua o pagamento por meio de
transferência bancária, com cobrança de tarifa. Dessa forma, o Pix pode ser uma
boa alternativa", frisa.
Para Natalia Lima, diretora do Xerpay, aplicativo especializado em antecipação
de salário, é preciso esperar a nova regulamentação para mensurar impactos.
"O novo anúncio do BC ainda não trouxe clareza sobre o impacto dessas
mudanças para as empresas e seus colaboradores. Mas seria positivo se a mudança
na norma permitisse que contas-salário recebessem Pix de qualquer CPF ou CNPJ
[Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica]. Isso traria mais competitividade e mais
flexibilidade aos funcionários."
Em nota, o BC diz que "estuda a ampliação do uso do Pix, incluindo a
possibilidade de usá-lo para transferir recursos já creditados na conta-salário
para outra instituição".
"Quando for possível transferir recursos da conta-salário por Pix, todos
os participantes autorizados a funcionar pelo BC poderão receber portabilidade
de valores de conta-salário, incluindo as fintechs que hoje não recebem
TED."
Fonte: Folha de
Pernambuco
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