Uma prática bastante usual nas reclamatórias
trabalhistas era o de requerer todo e quanto era direito decorrente do vínculo
empregatício, até mesmo direitos que já tinham sido pagos pela empresa, mas que
eram pleiteados da mesma forma, já que não havia qualquer consequência ao
empregado, caso os pedidos já quitados fossem negados quando do julgamento pela
Justiça do Trabalho.
Com a entrada em vigor da Reforma
Trabalhista, esta situação mudou consideravelmente, pois a partir de 11.11.2017
(entrada em vigor da Lei 13.467/2017), a norma trabalhista passou a atribuir a
responsabilidade por dano processual, ou seja, impõe responsabilidade por
perdas e danos àquele que litigar de má-fé como reclamante, reclamado ou
interveniente, nos termos do art. 793-A a 793-D da CLT.
A partir de então, rever a prática
anteriormente utilizada quando do ingresso com reclamatória trabalhista passou
a ser uma obrigatoriedade, pois caso os pedidos feitos na ação sejam negados
pela Justiça do Trabalho, seja pelo fato de serem indevidos ou por já terem
sido comprovadamente pagos pela empresa, o empregado poderá ser condenado ao
pagamento de honorários de sucumbência sobre os valores dos pedidos
negados (art. 791-A da CLT), podendo causar prejuízos significativos ao
reclamante.
Neste sentido, um caso que chamou muito a
atenção foi o de um ex-empregado que ingressou com uma ação contra a empresa em
2016 (antes da Reforma) na 1ª Vara do Trabalho de Rondonópolis/MT, pleiteando
inúmeros direitos como redução unilateral de comissões por vendas, insalubridade,
prêmios não recebidos, horas extras, danos morais, dentre outros.
No julgamento, ocorrido após a Reforma
Trabalhista, a maioria dos pedidos foi negado pela 1ª Vara do Trabalho, tais
como comissões sobre vendas, horas extras e danos morais. O
valor atribuído aos pedidos, que foram negados em sentença, foi de R$ 15
milhões. Como a juíza decidiu que os honorários deveriam ser de 5% sobre o
valor da ação, o reclamante foi condenado a pagar R$ 750 mil para a empresa a
título de honorários de sucumbência.
O reclamante recorreu da decisão para o TRT
e depois para o TST (autuado no Tribunal Superior em maio/2020). O processo,
que corre sob segredo de justiça, ainda não foi analisado pelo Tribunal
Superior do Trabalho.
Desde a entrada em vigor, a aplicação da
Reforma Trabalhista, na prática, ainda gera muitas controvérsias, pois há
juízes que entendem que as mudanças só poderiam ser aplicadas nos processos que
fossem ingressados após a entrada em vigor da Reforma, enquanto outros entendem
que as mudanças poderiam ser aplicadas em processos que já estavam em andamento
antes da Reforma, cujo julgamento tenha ocorrido após a entrada em vigor
da Lei 13.467/2017, como foi o caso acima mencionado.
Por isso, é importante que os reclamantes
(e seus procuradores/advogados) que possuem processos em andamentos e que se
utilizaram da prática antiga (pedir tudo e mais um pouco) se atentem para uma
possível condenação desfavorável no processo.
Analisar a Vara do Trabalho onde tramita o
processo e o entendimento do juiz ou do Tribunal do Trabalho sobre a aplicação
das mudanças da Reforma Trabalhista no tempo, para então decidir sobre uma
proposta de acordo para com a empresa antes do julgamento, pode ser a diferença
entre salvar o cliente/reclamante ou condená-lo a arcar com um prejuízo
decorrente de uma sentença desfavorável.
Analise o processo, reveja as provas e
pondere sobre o que pode ou não ser favorável ou desfavorável. Dê ciência ao
cliente sobre os possíveis riscos de uma condenação. Formalize por escrito tais
riscos e tome assinatura de seu cliente de modo que ele esteja a par de todas
as possibilidades. Se for o caso, havendo riscos significativos de um resultado
desfavorável, sugira ao seu cliente uma proposta de acordo para dar fim ao
processo antes do julgamento.
Diante das mudanças impostas pela Lei
13.467/2017, maior cuidado deve haver até mesmo entre o reclamante e o
advogado, pois se por um lado o advogado deve se precaver em relatar
(documentar com assinatura do reclamante) todos os direitos que o empregado
alega não ter recebido, para se livrar de uma condenação subsidiária por má-fé,
por outro o reclamante também deve documentar tudo o que relatou ao advogado
sobre o que entende ter de direito, a fim de se livrar de profissionais
aventureiros ou inexperientes que apenas repetem os mesmos pedidos em suas
reclamatórias, trocando apenas a qualificação da parte.
Embora não seja uma prática muito comum,
tomar a assinatura do reclamante na própria petição inicial (fazendo com que o
mesmo leia todo o conteúdo e firme o aceite nos pedidos feitos), pode ser uma
mudança de comportamento e de prática processual necessária ao advogado que
procura atuar com lisura e boa-fé perante a empresa e a própria Justiça do
Trabalho.
Por Sergio Ferreira Pantaleão
é Advogado, Administrador, responsável técnico pelo Guia Trabalhista e autor
de obras nas áreas trabalhista e previdenciária.