Nesses últimos anos aprendemos -
pessoas e empresas - a importância dos documentos eletrônicos em nossas vidas,
e hoje vamos falar sobre como mantê-los em segurança.
Indiscutivelmente, os documentos
eletrônicos facilitam a vida das pessoas seja no trato das coisas pessoais ou
nas rotinas profissionais.
Aprendemos que
digitar, imprimir, assinar, reconhecer firma em cartório e distribuir os
documentos para as pessoas envolvidas ficou definitivamente no passado.
O documento eletrônico que é assinado
por credenciais reconhecidas pela Legislação brasileira
sobre Identificação Digital e Documentos Eletrônicos tem
valor legal e dispensa o reconhecimento de firmas em cartórios e testemunhas das
transações.
No Brasil, a validade de documentos
eletrônicos está fundamentada na Medida Provisória
2.200-02 /2001 de agosto de 2001 e
complementada pela Lei 14.063 de 23 de
setembro de 2020 e pelo Decreto nº 10.543, de 13 de
novembro de 2020.
Quando se trata de
legislação eletrônica nada é definitivo uma vez que a evolução da tecnologia e
a alterações comportamentais podem influenciar novos padrões e requisitos técnicos.
Desta forma, é sempre bom consultar fontes confiáveis para se certificar da
legislação vigente no momento.
O documento
eletrônico que é, simplificadamente, o registro de uma transação adicionada a
manifestação de vontade das partes envolvidas, assim como os impressos,
precisam seguir normas e padrões técnicos determinados pela legislação, ou
seja, utilizar determinados tipos de arquivos eletrônicos, tipos de assinaturas
e serem armazenados de forma que permita o acesso aos dados e às respectivas evidências
que comprovam a legalidade do documento.
Aqui temos algumas
questões que devem ser avaliadas quando se documenta uma transação em meio
eletrônico. São elas:
Os diversos tipos de assinatura
eletrônica
As assinaturas
eletrônicas de pessoas e até mesmo de empresas e máquinas podem ser produzidas
utilizando métodos diferentes. Nesse momento, vamos tratar sobre a autenticação
e assinatura eletrônica de pessoas.
Para serem
utilizadas, as assinaturas eletrônicas por pessoas vão muito além do uso de
tecnologia que aplicam cálculos matemáticos gerados em ambientes únicos,
controlados, auditáveis que é o caso dos Certificados Digitais emitidos em
sistemas de PKI - Public Key Infrastructure - em português, Infraestrutura de
Chaves Públicas. Podem ser produzidas, por exemplo, por meio de fatores
biográficos que são informações que utilizadas em conjunto tornam uma pessoa
única, como por exemplo: o nome da mãe, a escola que estudou no primário, o
endereço atual, a cidade em que nasceu e assim por diante.
As assinaturas
eletrônicas feitas com o uso da biometria abrem um leque enorme de opções tais
como: a face das pessoas, as digitais dos dedos e das mãos, o formato das
orelhas e a íris, e também podem ser feitas pelo uso da voz ou cheiro das
pessoas.
Já a biometria
comportamental, que é a forma como as pessoas andam, assinam seus nomes,
digitalizam e tudo mais relacionado a ritmo, movimento, pressão e frequência
com que as pessoas fazem as coisas estão sendo cada vez mais utilizadas.
Muitas formas de
autenticação e assinatura podem ser utilizadas para identificar as pessoas no
meio eletrônico e a melhor opção vai depender da transação envolvida. O que
você precisa proteger? O quanto você precisa se certificar sobre a identidade
da outra parte? Quanto tempo essa informação será importante? Por exemplo, o
acesso à uma academia de esporte não precisa, nem de longe, utilizar as mesmas
credenciais eletrônicas que utilizam as pessoas que acessam o centro de
controle de uma usina nuclear.
E da mesma forma,
quando estamos falando dos tipos de assinaturas em documentos eletrônicos o
melhor tipo de assinatura ependerá do grau de importância de cada documento.
A Lei 14.063 de 23 de setembro de 2020, por exemplo,
estabeleceu três tipos de assinaturas eletrônicas para serem utilizadas na
comunicação envolvendo agentes públicos: as assinaturas simples, avançada e
qualificada.
A Assinatura
Simples é a combinação de login e senha, a Avançada utiliza a validação de
outras entidades como o banco que a pessoa tem conta e a Qualificada é a
assinatura feita com os Certificados Digitais ICP-Brasil.
O Portal GOV.BR
por exemplo utiliza-se desses 3 tipos de assinaturas e criou selos que dão
acesso aos serviços mediante sua qualificação: Bronze, Prata e Ouro. Sem entrar
em detalhes sobre o que pode ou que não fazer cada tipo de assinatura ou com
cada tipo de selo adquirido no Portal GOV.BR, o que é interessante ser
observado é que quanto mais crítica for a transação em relação, por exemplo, à
dados sigilosos, valores e consequências que o acesso indevido por terceiros ao
documento pode causar, mais elevado será o tipo de assinatura eletrônica que
deve ser utilizada ou a forma de autenticação exigida.
Fechando esse
capítulo, sempre que for escolher o tipo de assinatura eletrônica opte pela
assinatura que possibilite a geração de evidências como autoria, integridade,
autenticidade, qualificação, confidencialidade e temporalidade dessa maneira
você estará livre de possíveis futuros aborrecimentos em relação a transação
eletrônica firmada.
Geração dos documentos eletrônicos
É comum, as
entidades públicas e privadas proverem assinadores de documentos específicos,
como é o caso dos assinadoras na Secretarias de Fazenda, nas Juntas Comerciais,
nos Tribunais de justiça e na Receita Federal do Brasil.
Um bom exemplo é o sistema de
assinatura eletrônica da Receita Federal do Brasil. Alguns documentos precisam
da identificação do usuário para ser validado. Nestes casos, o contribuinte
pode utilizar o sistema e-Assina RFB em que o certificado digital ICP-Brasil é
obrigatório.
Além dos
assinadores dessas organizações públicas também existem as plataformas de
assinatura eletrônica e digitais fornecidas por empresas privadas. Essas
plataformas das diferentes empresas possuem funcionalidades básicas e cada uma
delas tem outras funcionalidades que podem ser uteis dependendo do perfil do usuário.
Normalmente, são
disponibilizadas por empresas que dominam a tecnologia de identificação digital
e o usuário não precisa se preocupar com o tipo de assinatura que deve ser
utilizada em cada situação, os formatos dos arquivos que são válidos pela legislação
brasileira e tão pouco se os processos de assinatura cumprem os requisitos
técnicos que determina a lei. Por isso, antes de utilizar uma plataforma de
assinatura, avalie muito bem qual é a empresa que está por trás dessa
plataforma de assinatura. Porque tudo o que você fizer por meio de uma
plataforma que não cumpre os procedimentos descritos em lei pode comprometer a
validade e segurança dos seus documentos eletrônicos no futuro.
Para ter certeza
de que a empresa está cumprindo os protocolos e requisitos recomendados, basta
submeter os documentos ao Validador de documentos digitais desenvolvido pelo
ITI - Instituto Nacional de Tecnologia da Informação, que é uma autarquia do
Governo Federal com a responsabilidade de criar procedimentos e auditar toda
Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira, ICP-Brasil.
O Verificador de Conformidade do Padrão de Assinatura Digital ICP-Brasil é
um serviço gratuito disponibilizado pelo ITI. E, com ele, você pode aferir se
um arquivo assinado com certificado ICP-Brasil está em conformidade com os
documentos que regulam a assinatura eletrônica no País - DOC-ICP-15. Atualmente, o sistema verifica os padrões
CAdES, XAdES e PAdES, melhor visualizado nos navegadores Mozilla, Firefox e
Google Chrome.
Armazenamento dos arquivos eletrônicos
Após selecionar o
tipo de assinatura eletrônica e eleger uma plataforma de assinatura que atenda
aos pré-requisitos definidos, você precisa pensar em como armazenar os
documentos eletrônicos.
Uma coisa é certa:
nunca se deve guardar documentos eletrônicos em um único dispositivo, seja
celular, PC ou servidor. O ideal é manter uma pasta de arquivos em um serviço
de nuvem com redundância - backup - para que esses documentos não sejam
perdidos.
Algumas
plataformas de assinaturas eletrônicas providas por empresas privadas
disponibilizam o armazenamento de documentos como serviço e essa é uma
excelente opção a ser considerada, porque essas empresas especializadas
geralmente trabalham em ambientes criptografados, com redundância operacional,
com logs rastreáveis e controle de acessos com múltiplos fatores de
autenticação.
As organizações
públicas armazenam os documentos eletrônicos, mas é conveniente que as empresas
e as pessoas tenham seus próprios arquivos submetidos a esses órgãos. Alguns
órgãos inclusive deixam claro que os documentos eletrônicos devem ser
arquivados pelas empresas emissoras como é o caso das notas fiscais
eletrônicas.
Sobre o armazenamento de documentos
eletrônicos é interessante destacar que alguns documentos de longa duração
precisam ter assinaturas digitais especiais. Essa assinatura é
denominada Assinatura Digital
ICP-Brasil de Arquivamento.
O Registro de
Imóvel feito pelos Cartórios é um documento de longa duração e desta forma o
CNJ - Conselho Nacional de Justiça determina que seja aplicada uma Assinatura
Digital ICP-Brasil de Arquivamento, assim como, o Ministério da Educação
determina que os arquivos eletrônicos que contenham os diplomas digitais
utilizem essa mesma tecnologia.
Concluindo: para
usufruir dos benefícios dos documentos eletrônicos devemos pensar em que tipo
de arquivo esses documentos eletrônicos estão sendo finalizados, quais são as
credenciais eletrônicas utilizadas e como estão as questões de guarda, gestão e
armazenamentos dos documentos eletrônicos. Além disso, a contratação de uma
plataforma de assinaturas eletrônicas é uma forma de utilizar o meio eletrônico
para transacionar utilizando os inúmeros benefícios que os documentos
eletrônicos trazem às pessoas e às empresas sem comprometer a governança
corporativa resguardando a empresa de sanções por conta das leis relacionadas a
proteção e privacidade de dados - LGPD - Lei Geral de Proteção de Dados.
Por Susana Taboas | COO - Chief Operating Officer - CryptoID. Formada em
Economia pela PUC Rio, com MBA em Finanças pelo IBMEC e diversos cursos de
extensão na FGV RJ, Harvard University (EUA). Atuou em empresas como Vale do
Rio Doce, NEC do Brasil, Cheminova, Nortel, Cableway Argentina, Certisign, Cast
Group e Supportcomm. Durante sua carreira acumulou ampla experiência na
definição e implementação de projetos estratégicos de médio e longo prazos nas
áreas de Governança Corporativa, Recursos Humanos, Planejamento Estratégico e
Financeiro, Tesouraria, Operações Financeiras Estruturadas no Brasil e no
Exterior, Contabilidade, Fiscal, Logística e TI.