O
presidente do Sebrae, Carlos Melles, em entrevista ao
Canal Livre da Band
deste domingo (3/7/2022) falou sobre os desafios das
pequenas empresas e o cenário atual da economia brasileira. Os 50 anos do
Sebrae, seus objetivos e perspectivas, também foram abordados.
Entre os assuntos, foi destaque
o lançamento do Canal Empreender, da Band. A partir de 5 de julho, vai estrear
na TV por assinatura um novo canal da Newco Pay TV, programadora responsável
pelos canais pagos do Grupo Bandeirantes. Empreender vai abordar assuntos
relacionados ao empreendedorismo 24 horas por dia.
Em conversa sobre empreendedorismo,
inovação e desenvolvimento, com apresentação de Rodolfo Schneider e
participação de Lana Canepa e Juliana Rosa, Melles conta que a criação do Canal
Empreender procura espalhar a metodologia simples que fez do Sebrae referência
no assunto.
"Ao ter essa metodologia,
o mundo começou a medir o grau de percepção das populações mundiais onde era
mais forte o empreendedorismo. Tem um monitoramento mundial de empreendedorismo
e o Brasil está nisso há mais de 40 anos e está sempre entre os primeiros países
em termos de população empreendedora, população sonhadora. Hoje estamos em
sétimo lugar, entre 180 países. Fomos, através de dados, nos organizamos e cada
vez mais a procura pelo Sebrae era muito grande. São 7 mil colaboradores na
ponta, mais 7 mil consultores, para quem você leva seu sonho, seu problema. Um
quer montar uma sapataria, outro uma padaria eles têm que entender isso. O
Sebrae mobiliza todos os sindicatos de padaria. Uma vez o Sebrae levou um grupo
para a França e eles disseram 'nós voltamos outros'. Mas para isso acontece
teve que se desenvolver uma metodologia fácil", conta.
Educação
Empreendedora
O presidente do Sebrae afirma
que Educação Empreendedora é mais importante do que nunca em um ambiente de
crise, fazendo um paralelo à atual pandemia de coronavírus.
"Estamos com 5 mil agentes,
quatro agentes nos municípios, onde temos a Cidade Empreendedora e o Prefeito
Empreendedor, muito focado no município. A Band tem um programa que é muito
perto disso, o Cidades Excelentes. O que buscamos desde o começo, primeiro foi
dar segurança ao micro e pequeno empresário, porque a cada dois anos no máximo,
todos quebravam. Hoje, com o Real fazendo aniversário [28 anos], o presente que
aproveitamos, da estabilidade, entramos com a Lei Geral da Micro e Pequena
Empresa. Depois desse marco regulatório, que tem 15 anos, em 2006 ela foi
sancionada, passamos de 1,5 milhão de empresas para 7,5 milhões. Criamos o MEI,
saímos de zero para 14 milhões de MEIs. Só com a reforma tributária, do regime
do Simples. Só que vimos que não teríamos muita coisa se não fosse a Educação
Empreendedora".
A qualificação, destaca Melles,
poderia reduzir de imediato a fila do desemprego.
"Dá vontade de chegar na fila e
dizer: me dá três meses do seu tempo que eu vou te treinar. Porque a falta é o
treinamento, a educação nesse processo. E a mágica foi essa, a pessoa sonhou e
o Sebrae tem a metodologia, tem a forma para fazer isso. Mas eu volto a dizer:
a formalização foi o segredo de tudo. Era muito informal, tudo informal", afirma.
Crédito
O Pronampe (Programa Nacional
de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte), segundo Melles, tem
potencial de alavancar os negócios no País.
Ele afirma que programas
semelhantes deram resultado claro de que o fomento por meio de crédito é o
caminho para ampliar o mercado.
"O estoque de metodologia e de
conhecimento para explodir a produção e a produtividade que nós temos. O
Programa Brasil Mais tem aumentado não só a produtividade como o faturamento.
Isso é uma coisa milagrosa. O Pronampe foi o melhor figurino. Nós pegamos o
Pronafe [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura], desenhou-se o
Pronampe, só que a primeira taxa do Pronampe era 2,5%, mais a Selic, mais juros
de 1,25%. Infelizmente estamos vivendo esse quadro ruim de inflação, a Selic
subiu, mas o Pronampe ainda é apetitoso. Ele dá folga, dá tempo e tem o
treinamento", destaca.
O presidente do Sebrae afirma
que os primeiros sinais de otimismo dos empreendedores podem sinalizar
tendência de crescimento em breve.
"Nós temos uma sondagem
econômica com a Fundação Getúlio Vargas e deu agora 1,8% de animação na
percepção do micro e pequeno empresário de que as coisas estão melhorando. É
óbvio que tudo subiu e que isso incomoda demais, mas tenho impressão de que
estamos começando a ajustar e começando a fazer essa conta de encontro. Por
isso citei aqui pela primeira vez o Famp, um fundo do Sebrae, vai em uma
parceria de um para um com o BNDES, fazendo de um para um, com R$ 300 milhões
com a Caixa, e também com o Banco do Brasil. A oferta de crédito está começando
a ser condizente com as necessidades. Se nós faturamos 30% do PIB, de R$ 7
trilhões, a gente precisava ter 25% de crédito nisso que a micro e pequena
empresa faz. Nós chegamos a sonhar em ter R$ 500 bilhões de crédito. Estamos
chegando a R$ 350 bilhões e acho que vamos fazer esse crescimento porque a
educação, o conhecimento, o método, mas isso sem o combustível do crédito, não
anda", destaca.
Gestão
pública
O conhecimento do cenário deve
ajudar a compensar os buracos no Orçamento público, segundo o presidente do
Sebrae, Carlos Melles.
"Nós tínhamos uma preocupação
de não aguentar R$ 700 bilhões que foram colocados na pandemia. A gente
desconfiava se ia ter sustentabilidade. Ainda não era eleição, não foi visto
como medida eleitoreira. Essa é eleitoreira, de R$ 400 para R$ 600 [o Auxílio
Brasil], o Auxílio Caminhoneiro... Tem algumas coisas que estamos discutindo em
uma profundidade boa. Estamos falando muito do bioma Amazônia. Vou falar um
pouco da minha área. Todo produtor rural tem 25% de reserva legal. Ela nunca
foi remunerada. Começa a ser remunerada. O ponto alto do Brasil, querendo ou
não, vai ser crédito de carbono, a Economia Verde. Não há quem tenha o que nós
temos. Nós lançamos o Plano Safra e assumimos o risco nosso, porque alimento é
difícil no mundo inteiro. Se nós chegarmos a 300 milhões de toneladas de grãos
nós vamos ficar bonito no pedaço. E se repetir já está bom demais. Nós estamos
com uma plataforma de banco de dados para calibrar isso tudo", garante.
Ele lamenta o atraso de alguns
municípios no País.
"O defeito que o Brasil tem é
na gestão pública. A gestão pública municipal é muito pobre ainda. Nós
descobrimos que quando se coloca uma Sala do Empreendedor, quando o prefeito se
torna um prefeito empreendedor desenvolvendo temas, que no fundo é para
melhorar o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do município. E o carro-chefe
nosso é o Cidade Empreendedora que é o Cidades Excelentes (da Band), só que
turbinado. Fechamos 1660 prefeitos no Cidade Empreendedora. Isso é mais de 30%
dos municípios do Brasil".
Ele compara cidades que
adoraram programas de otimização. "Como está o equilíbrio fiscal? Sua receita é
20%, 22%? É 10%. Não, isso não se sustenta. Sua Secretaria de Educação é
empreendedora? Não, ela é uma educadora boa. Então, fala pra ela comprar a
merenda escolar toda aqui no município, veja que o uniforme seja feito aqui no
município, começa a fazer a economia circular dentro do município. Parece
milagroso. Quando os municípios se juntam para comprar, a economia média é de
20%. A hora que o Sebrae põe na prática e eles vivem isso, transforma tudo".
Programas
A busca de soluções, segundo o
presidente do Sebrae, deve passar pelo resgate de programas que deram
certo.
"A TV Empreender veio para a
Band é o casamento dessa percepção de empreendedorismo. Em um primeiro momento
nós queríamos fazer séries do que deu certo. Aí, então, vamos fazer sobre o que
Sebrae faz. O conteúdo foi uma coisa formidável. Por que não trazer isso para
ser uma programação de estímulo para as pessoas? Vai ser uma coisa
revolucionária".
O lançamento do Canal
Empreender, com estreia para o dia 5 de julho de 2022, teve como inspiração o
tema "Gente que Faz", criado pela Band, que acabou abraçado por um banco.
O presidente do Sebrae, Carlos
Melles, lembra que os desafios se inovam, mas devem resgatar iniciativas de
sucesso como exemplo.
"O que o Sebrae faz é muito do
que Gente que Faz, que o Bamerindus começou, produzido pela Band. A gente vai
revendo essas coisas, o que funcionou, e a procura do digital cresceu 1300%,
por cursos on-line. Levamos um choque de as pessoas falarem 'e agora, com a
pandemia?'. Nós estávamos melhor preparados do que a gente pensava", exemplifica.
Produtividade
Dadas as condições atuais no
Brasil, segundo o presidente do Sebrae, os erros mais comuns dos empreendedores
passam pela produtividade.
Segundo ele, é necessário
revisar e otimizar processos.
"Quando criamos a Embrapa,
juntamos o ensino com a pesquisa, foi uma maravilha. A Embrapa tinha um estoque
de tecnologia e não era utilizado. Não tinha extensionista para levar isso para
fora. A TV faz o papel de extensão. Aí, você pega a micro e pequena empresa e
pergunta 'quais são suas dores?'. Primeiro vê custo fixo, custo variável,
mercado. O Sebrae tem essa coisa que é diferente de tudo, faz criar mercado,
pesquisa de mercado. Um exemplo desse viraliza muito. A Lei Geral da Micro e
Pequena Empresa do Brasil é uma das melhores e mais contemporâneas do mundo.
Começamos com taxa de impostos de 4% para o comércio e vamos a 11,7%. A carga
tributária do Brasil 34%. Na lei, com sobrepreço de até 10% a preferência é da
micro e pequena empresa. (...) E o segredo de tudo é melhorar a produtividade.
Desde desperdício, de medir bem o tempo, a hora, do custo bom da energia, da
distribuição, da rotatividade, quando começa a ver de uma maneira mais ampla,
as pessoas percebem", contextualiza.
Fonte:
UOL, com edição do texto pela M&M Assessoria
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