Já virou lugar comum conhecer alguém que já
foi vítima de um golpe na internet. As modalidades são diversas, assim como as
artimanhas usadas pelos criminosos para convencer suas vítimas.
Todos os dias se vê o post de algum amigo
compartilhando um print de Whatsapp, informando que alguém está se passando por
ele para pedir dinheiro (sempre através do sistema Pix).
Pois bem, aqui falaremos um pouco sobre os
tipos mais conhecidos de golpes, como se proteger e o que fazer após perceber
que caiu num golpe.
Modalidade de golpes
Antes de falar os tipos de golpes, é bom
esclarecer que todos eles são sempre fundamentados em pelo menos um dos três
pilares a seguir:
Ganância, medo ou ingenuidade.
E todos exaltarão o senso de urgência para
finalizar a negociação.
A falsa venda de móveis ou produtos de casa
Nesse golpe os criminosos normalmente
hackeiam uma conta de rede social e fazem alguns posts com a informação de que
a pessoa estaria de mudança, normalmente para fora do estado ou do país, e por
essa razão precisa se desfazer de vários itens da casa.
Via de regra os valores anunciados são bem
abaixo do que se espera para aqueles produtos, mesmo sendo usados. Como
justificativa o golpista alega que a viagem está muito próxima e que precisa se
desfazer de tudo aquilo com urgência, causando uma falsa sensação de segurança
na negociação.
Aqui as vítimas e potencial são os amigos
menos próximos, que não teriam a informação da mudança em primeira mão e
achariam normal ficar sabendo pela internet. Além disso é muito comum que os
criminosos analisem as conversas comuns na conta da pessoa hackeada, para
entender a forma mais comum de diálogo dessas pessoas com seus amigos, de modo
que ao entrar em contato com as vítimas, elas não percebam a diferença no jeito
de conversar. Nessa modalidade os criminosos exploram a ganância e a
ingenuidade das vítimas, oferecendo negociação extremamente vantajosa.
Para evitar cair nessa cilada, bastam
poucas atitudes:
- Pergunte a alguém bem próximo da
pessoa com quem você acha que está negociando, sobre a mudança ou viajem.
- Peça para fazer uma chamada de
vídeo, normalmente o golpista dirá que está com problemas no celular, sem
crédito ou sem conexão de qualidade, fazendo de tudo para evitar esse contato.
- Se tiver a possibilidade tente
entrar em contato com o próprio titular da conta.
- Nunca transfira qualquer valor para
uma conta cujo titular não seja expressamente a pessoa com quem você deveria
estar falando.
Falso empréstimo
Aqui a vítima normalmente está passando por
dificuldades financeiras ou tentando abrir um negócio, e decide procurar pela
internet opções de empréstimos facilitados sem ter que ir a uma agência
bancária negociar diretamente.
Normalmente a vítima encontrará algum site
oferecendo facilidades e logo receberá o contato de algum "agente
bancário" ou "gerente de contas" ou algo do tipo.
Esses golpistas agem tanto na resposta como no contato ativo, utilizando de
engenharia social para identificar contato de pessoas que possam estar buscando
formas de empréstimos online.
Nas primeiras abordagens os estelionatários
buscarão fazer um mapeamento do perfil das vítimas, como um banco normalmente
faria, para deixar vítima o mais confortável e confiante possível com a
negociação, no decorrer da conversa o falso atendente vai poder entender a
capacidade financeira da vítima o que o permitirá ter noção de quais argumentos
utilizar para lhe forçar a fazer pagamentos.
No decorrer da conversa o criminoso
informará que o crédito foi aprovado e passará a colher os dados e documentos
da vítima, "para fazer o contrato", após então enviará documentos com
os detalhes da negociação, normalmente em algum papel timbrado de alguma
instituição conhecida para conferir aparência de legitimidade.
Neste estágio da conversa normalmente a
vítima já estará muito confortável e menos atenta, e é aí que começam a surgir
os "custos operacionais", os golpistas pedirão que o cliente deposite
o valor referente aos impostos como IOF, alguma taxa de abertura de crédito ou
até mesmo honorários de um advogado ou contador. Neste ponto uma característica
em comum em todos os golpes é enquanto a vítima estiver pagando, sempre
existirá uma nova taxa ou tributo a pagar para prosseguir a negociação. E aqui
ao perceber que não tem mais dinheiro algum para continuar na negociação a
vítima será informada que para receber os valores de volta precisa pagar a taxa
de cancelamento ou "quebra de contrato", e será constantemente
ameaçada com processos, ações judiciais, protestos em cartórios, ou até mesmo
será estimulada a fazer um novo pagamento com a promessa de que esse será o
último e que essa é a última barreira entre ele e o seu desejado empréstimo salvador.
Aqui os bandidos exploram o medo e
ingenuidade.
O que você precisa saber para evitar cair
nesse golpe:
- Prefira negociar diretamente com o
banco onde você já tem algum relacionamento.
- Instituições sérias não cobram
nenhuma taxa para conceder empréstimos.
- Você não paga imposto para pegar um
empréstimo.
- Ao menor sinal de estranheza na
negociação contate um advogado de confiança (a consulta normalmente será mais
barata que as falsas taxas)
- Desconfie sempre daquilo que parece
fácil demais.
- CNPJ não é atestado de idoneidade,
qualquer pessoa pode abrir um CNPJ ou até mesmo usar o CNPJ de uma instituição
séria para usar de pano de fundo para fraude.
Falso leilão
É lugar comum saber que é possível adquirir
bens com preços bem abaixo dos padrões do mercado através de leilões, de posse
dessa informação estelionatários clonam sites famosos de leilão, modificando
apenas algum pequeno detalhe no endereço do site e fazendo você cair numa
armadilha.
No site são expostos carros, imóveis,
barcos e outros itens que normalmente atraem o interesse da população, com
preços bastante convidativos, o que geralmente não causa estranheza na vítima,
pois este é um comportamento normal do leilão.
As coisas começam a dar errado no momento
que a vítima da um lance e acha ter arrematado a peça, neste momento os
estelionatários entrarão em contato parabenizando-a pela compra e solicitando o
pagamento imediato, sob risco de perder a oportunidade de compra ou pagamento
de multa.
Normalmente os criminosos enviarão um
boleto estilizado e editado que terá a aparência de legítimo, exigindo que o
cliente honre com o lance dado, mesmo antes de ter acesso ao lote. Movido pelo
senso de urgência e pelo medo de perder a compra vantajosa a vítima realiza o
pagamento e perde, aquilo que muitas vezes era uma economia de anos. Uma das
características desse golpe é a de fazer a vítima gastar valores altíssimos.
Como se proteger:
- Verifique sempre todos os detalhes
do URL (endereço do site) do site de leilão.
- Não dê lances antes de ver pessoalmente
o item que tem interesse.
- Prefira leiloeiros já conhecidos e
que tenham sido indicados por algum amigo, que já realizou compras ali.
- Não faça pagamentos antecipados, e
quando for pagar qualquer boleto sempre verifique no app quem é o beneficiário
que vai receber aquele valor, se for uma pessoa física ou mesmo um CNPJ que não
seja do leilão, cancele o pagamento.
- Pesquise sobre a idoneidade do site
realizando buscas em sites como ReclameAqui.
Golpe Pix do Whatsapp/Instagram
Esse tem sido um dos que vejo acontecer com
mais frequência e sua execução é muito simples, alguém hackeia a conta de um
conhecido ou familiar, ou até mesmo cria uma conta com número diferente e entra
em contato com todos os amigos e familiares dizendo que mudou de número e
pedindo para salvar aquele novo contato.
O modo de operação é sempre o mesmo, os
bandidos se passando por alguém conhecido diz que está com problemas de
internet ou que seu aplicativo não funciona e que precisa fazer um pagamento
urgente, e que transferirá logo mais os valores de volta.
Apesar de já muito conhecido, esse é um dos
golpes que faz mais vítimas hoje em dia, pois explora a boa vontade de ajudar.
Como evitar:
- Se alguém te pedir dinheiro, peça
para fazer uma chamada de vídeo antes de enviar qualquer coisa.
- Se alguém diz que mudou de número,
tente imediatamente entrar em contato com o número que você tem guardado para
conferir a informação, caso não haja atendimento ligue para alguém que
normalmente está sempre perto dessa pessoa.
- Não faça depósitos em contas de
terceiros, se um amigo te pediu dinheiro faça a transferência exclusivamente
para a conta desse amigo.
- Se o depósito é urgente e o app do
banco não funciona, seu amigo pode fazer a transação direto na agência
bancária, melhor que ele sofra um pequeno aborrecimento do que ele perder
dinheiro. Se você realmente quer ajudar, peça que ela vá até sua casa para
fazerem juntos o deposito.
Após o golpe
A variedade de golpes é imensa, seria
impossível falar de todos aqui, sem tornar esse texto insuportavelmente longo,
porém a maioria das dicas sobre como evitar cair servem para quase todas as
modalidades de
golpes.
Se as dicas daqui chegaram tarde, não se
desespere ainda existe esperança.
Seja rápido
Passo 1: O primeiro passo a seguir
após perceber que caiu num golpe é imediatamente entrar em contato com seu
banco solicitando imediatamente o cancelamento da transferência, mesmo que seja
Pix, ANOTE O PROTOCOLO DE ATENDIMENTO, NOME DO ATENDENTE, DATA E HORA DO
ATENDIMENTO.
Passo 2: Entre imediatamente em
contato com o banco que recebeu o valor e informe sobre o golpe em detalhes.
ANOTE O PROTOCOLO, NOME DO ATENDENTE, DATA E HORA DO ATENDIMENTO.
Passo 3: Faça um boletim de ocorrência
(B.O.) na delegacia mais próxima, a maioria dos estados hoje, contam com esse
serviço online, sem que você precise ir até a delegacia, ANOTE O NÚMERO DO B.O
E
GUARDE O DOCUMENTO.
Passo 4: Faça uma reclamação no site
do Banco Central do Brasil, contra o banco que recebeu os valores, segue o
link: https://www.bcb.gov.br/acessoinformacao/registrar_reclamacao.
Passo 5: Tire print de absolutamente
tudo! Das conversas, dos comprovantes de depósito, do Boletim de Ocorrência, enfim
de tudo mesmo, e procure um advogado que seja especialista em golpes online.
Nesses casos, normalmente os golpes são
praticados usando contas criadas por CPFs roubados e os bancos podem ser
responsabilizados pela abertura de contas para fraudes com base na súmula 479
do STJ:
"Súmula
479 As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por
fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no
âmbito de operações bancárias."
Será considerado fortuito interno quando
restar comprovado que o banco não tomou as precauções necessárias para
confirmar que quem estava abrindo a conta era de fato o titular daquele CPF
utilizado, conforme a Resolução nº 2.025 do Banco Central, nos termos abaixo:
"Artigo 3º
As informações constantes da ficha-proposta, bem como os elementos de
identificação e localização do proponente, devem ser conferidas à vista de
documentação competente, observada a responsabilidade da instituição pela
verificação acerca da exatidão das informações prestadas. (...)
Parágrafo
2º A instituição deve adequar seus sistemas de controles internos voltados para
as atividades de
abertura e acompanhamento de contas de depósitos, implantados nos termos da
Resolução 2.554, de 24 de setembro de 1998, com vistas a procedimentos,
incluindo regras rígidas do tipo 'conheça seu cliente', que previnam a
utilização das respectivas instituições, intencionalmente ou não, para fins de
práticas ilícitas ou fraudulentas prever o monitoramento das atribuições
conferidas na forma do
parágrafo
1º, bem como adotar políticas e procedimentos, incluindo regras rígidas do tipo
'conheça seu cliente', que previnam a utilização das respectivas instituições,
intencionalmente ou não, para fins de práticas ilícitas ou fraudulentas."
Uma vez que o banco seja incapaz de provar
que de fato tomou as diligências obrigatórias para garantir a titularidade
correta da conta aberta, ele passará a ser responsável pelos danos sofridos
pela vítima, devendo ser condenado por perdas e danos.
É importante destacar que não basta
simplesmente alegar que a culpa é do banco, é dever do cidadão tomar as
precauções para evitar cair nos golpes e se cair, é fundamental seguir os
passos aqui sugeridos, pois é necessário que a vítima comunique aos bancos e
lhes dê a chance de bloquear os valores antes do saque.
Autor: Weydson
Caldas Pina Maciel é advogado, membro da Comissão de Direito do
Consumidor da OAB/PE e sócio do Escritório de Advocacia Dias & Pyrrho
Advogados.
Fonte:
Revista Consultor Jurídico