Para
Armando Lourenzo, especialista no assunto, nesse processo é fundamental o
comprometimento de fundadores e herdeiros com a profissionalização, alinhamento
estratégico e estruturação de processos
A imensa maioria das empresas brasileiras, 90% delas, tem perfil familiar,
segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Ou
seja, parentes compõem a administração e diretoria dessas companhias. O
problema é que perfil empreendedor não é característica genética.
São poucas as empresas familiares que resistem à sucessão. Segundo estudo de
2018 da PwC, no Brasil, apenas 30% têm êxito ao passar da primeira para a
segunda geração. Quando a terceira geração entra em cena, a taxa de sucesso é
ainda menor, de apenas 5%.
A falta de planejamento sucessório leva a essas estatísticas negativas. Segundo
Armando Lourenzo, professor da FIA e autor de livros sobre esse tema, sucessão
depende do comprometimento de fundadores e herdeiros com a profissionalização,
alinhamento estratégico e estruturação de processos.
Para o especialista, se as empresas familiares se atentassem a esses pontos, a
taxa de sucesso da transição da primeira para a segunda geração subiria de 30%
para perto dos 70%. "Não é possível chegar aos 100% porque há fatores
comportamentais envolvidos", disse Lourenzo em palestra, na última-sexta-feira
(7/10/2022), no Conselho de Orientação e Serviços (COS) da Associação Comercial
de São Paulo (ACSP).
Por exemplo, é natural, segundo o especialista, que o fundador da empresa seja
centralizador. Normalmente empresas familiares nascem pequenas e crescem porque
o dono viveu em função do negócio. Abrir mão de controle, olhando por esse
ângulo, realmente é complicado.
"O problema é que, quanto mais centralizador, menos se desenvolve as pessoas
que estão abaixo na hierarquia, e isso dificulta a profissionalização da empresa
e, consequentemente, a sucessão", diz Lourenzo.
Outro ponto que costuma derrubar a longevidade das empresas familiares é a
falta de separação entre o que é empresa e o que é família. O caixa da
companhia não pode ser "saqueado" para manter gastos pessoais de seus
administradores.
Mas essa é uma questão que vai além das finanças. "É complicado demitir um
filho, por exemplo. O ideal seria separar totalmente família da empresa, mas na
prática sabemos que é difícil, e muitas vezes o que resta é contornar a situação",
diz o especialista.
Algo que ajuda a reduzir problemas com situações como a descrita acima é ter
processos gerenciais bem estruturados, com análise de desempenho da equipe, com
critérios objetivos para remunerar e promover.
Usar critérios técnicos e objetivos também ajuda a estimular funcionários que
não fazem parte da família do dono da empresa, criando a sensação de competição
justa por salários e cargos.
Lourenzo lembra que o sucessor vai herdar também a equipe escolhida pelo
fundador da empresa, e o nível de relacionamento pode não ser o mesmo. Mais uma
vez, serão os processos gerenciais bem construídos que garantirão a transição
menos traumática.
Esse ponto leva a outro ainda mais importante para um processo de sucessão bem
executado: a profissionalização do sucessor. Aqui, Lourenzo usa como referência
o critério 70-20-10, que dá peso aos diferentes fatores que influenciam um bom
desenvolvimento profissional.
Segundo esse critério, 10% dependem de uma boa formação educacional, 20% da
interação com pessoas mais experientes e 70% dos desafios e experiências
vivenciadas. "Claro que esses percentuais variam, mas o que vale são os
pilares. O mais importante nesse ponto é que nenhuma empresa familiar sobrevive
ao despreparo dos sócios", diz.
O especialista lembra ainda que sucessão é um processo, não uma mudança
repentina. Há mais do que questões patrimoniais envolvidas. "É preciso
trabalhar a saída gradual dos fundadores, pois geralmente são pessoas que
viveram a empresa por décadas, e que podem passar experiências no dia a dia
durante essa transição", lembra Lourenzo.
Por fim, é importante considerar a sucessão como uma alternativa, e não a única
alternativa. A empresa pode ser vendida ou ter um administrador externo. A
escolha passa necessariamente pela disposição e preparo dos sucessores.
Fonte: Diário do Comércio
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