Impactos
da avaliação dos índices de liquidez a partir da análise das demonstrações
financeiras.
Em razão do regime de competência,
princípio contábil importante para empresas que optam pelo Lucro Real como
forma de tributação, várias despesas ficam escondidas no Ativo ao longo do
exercício social. Elas são originariamente contas de resultado. Contudo, em
determinados momentos, essas despesas não podem ser registradas neste grupo de
contas, porque o regime de competência estabelece procedimentos que modificam a
forma de contabilizá-las.
É necessário compreender que uma determinada despesa pode não pertencer somente
ao mês em que ela foi paga ou então registrada como obrigação. Entretanto,
entendo que não é por isso que devemos admitir que ela seja considerada um
Ativo Circulante, por exemplo.
Os bens e direitos, com valores monetários mensuráveis e expressos em moeda
corrente, que possam representar benefícios presentes ou futuros para uma
entidade, estes sim devem ser considerados Ativos. Esse conceito sugere que
Ativo representa algo de positivo para uma entidade. Os recursos financeiros disponíveis,
os saldos de Contas a Receber, o Ativo não circulante etc. são exemplos de
valores que, em tese, representam de fato o grupo do Ativo total.
Todavia, em algumas situações, as despesas registradas no Ativo ficam
escondidas por mais de um exercício social, a depender do início da apropriação
mensal delas. É um pouco estranho, principalmente para estudantes de contabilidade, mas
neste grupo (Ativo) podem estar registradas, inclusive, despesas de valores
relevantes. É o caso das despesas antecipadas (IPTU, anuidades, assinaturas,
seguros etc.) Também são valores a apropriar os relativos às licenças de uso
de softwares, por exemplo, cujas parcelas mensais podem ser
significativas.
Óbvio que estamos tratando de empresa que opta pela utilização da Contabilidade Gerencial
e efetua seus registros com base no Lucro Real e não daquelas que, em
função de seu regime simplificado de tributação, podem fazer apenas a
escrituração simplificada, com base nos desembolsos mensais.
Dessa forma, o registro de despesas em
contas que ficam agrupadas no Ativo é uma prática tecnicamente correta e
recomendável, principalmente para as empresas de médio e de grande porte. Isso
porque verifica-se que não há na contabilidade muitas opções no que
diz respeito aos seus procedimentos contábeis.
Os seguros a vencer, por exemplo, por
exclusão, realmente só podem ser registrados no Ativo. Observe que o valor
contratado não é Receita, não é conta do Passivo (considerando que o pagamento
foi efetuado à vista), não pode ser considerado Despesa, por causa do Regime de
Competência e, portanto, só resta o grupo do Ativo para seu registro.
Penso que é uma questão técnica e de classificação contábil. Do meu ponto de
vista, acredito que seria mais adequado que as despesas fossem tratadas apenas
como contas de resultado e, portanto, não deveriam ficar escondidas no Ativo
com o nome de despesas antecipadas. Os registros poderiam ser classificados
como valores a apropriar, que em tese não modificaria muito a essência de no
futuro se reverterem para contas de resultado.
Para quem analisa balanço e sabe o efeito que esses registros podem ter sobre
os índices de avaliação de uma empresa, certamente deve concordar com o meu
modo de pensar: as despesas registradas no ativo podem prejudicar uma análise
mais cuidadosa sobre as demonstrações financeiras.
O problema é que os balanços ficaram limitados a um modelo de publicação em que
só são apresentadas as contas patrimoniais. Isso impede que algumas contas de
resultado sejam apresentadas nas demonstrações financeiras, distorcendo as
análises dessas contas que ficam ocultas no Ativo.
Meu propósito com este artigo é provocar uma reflexão importante sobre
divulgação das demonstrações financeiras e a forma como devemos analisar os
principais índices de liquidez de uma empresa, a exemplo do índice de liquidez
corrente.
É pertinente afirmar que utilizar apenas as demonstrações financeiras para fins
de apuração dos índices gerais de uma empresa não é o bastante para uma análise
segura e confiável. Daí a necessidade de verificar quais foram as contas
analíticas, constantes no balancete, que deram origem às demonstrações
financeiras publicadas.
Essas contas analíticas podem revelar informações importantes para quem estiver
fazendo a leitura dos relatórios contábeis e financeiros de uma empresa.
Autor:
EDSON OLIVEIRA DOS SANTOS
Consultoria
para implantação de sistemas integrados de controles internos e para elaboração
de relatórios gerenciais específicos. Consultoria contábil e
financeira.