Além de escolher fornecedor, elas poderão discutir preço
O ano de 2024
começou com boa notícia para pequenas e médias empresas que contratam energia
em alta tensão, como padarias e outros setores, e têm contas em torno de R$ 9
mil. Esses consumidores já podem migrar para o Mercado Livre de Energia, um
ambiente de venda onde, além de escolherem o fornecedor de preferência, tem
espaço para discutir preço, quantidade necessária para uso, período de
recebimento e forma de pagamento da energia.
Até o fim do ano passado, essas empresas tinham que se
submeter ao mercado regulado, também chamado de mercado cativo, e a compra de
energia era apenas com a distribuidora local. Antes da abertura, somente os
consumidores com demanda de no mínimo 500 kilowatts podiam participar do
mercado livre.
"A partir de 2024, todos os consumidores que estiverem
ligados em alta tensão poderão ser livres, independentemente da demanda
contratada.
Antes, precisavam consumir um mínimo para ser livre,
agora basta estarem conectados na alta tensão que
são elegíveis a ser livre", informou a administradora Daniela Alcaro,
sócia da Stima Energia, empresa comercializadora de energia, em entrevista
à Agência Brasil.
Segundo ela, existem 200 mil unidades conectadas em
alta tensão. Entre elas 37 mil já são livres, as maiores
e que já vinham migrando desde 2001 como grandes fábricas de aço e
vidros. Do restante que está no mercado regulado, uma parte já instalou
sistemas de energia solar e comprou energia de geração distribuída.
"Essa parte que encontrou uma alternativa para
economizar talvez não se anime a migrar neste momento, mas há outro grupo
que não foi por esse caminho e está muito interessado na migração. Eu diria que
são 72 mil unidades. Dessas, 13 mil já denunciaram [termo usado no setor para
dizer que fez a opção de migração] seus contratos na distribuidora e já
sinalizaram que vão migrar", disse, destacando que isso comprova a demanda para
o mercado livre.
O mercado brasileiro de energia é dividido em duas
partes. Os consumidores cativos estão no Ambiente de Contratação Regulada
(ACR), onde compram energia de concessionárias de distribuição como a
Light e a Enel. Nesse caso, o cliente paga somente uma fatura de energia
mensal, concentrando o serviço de distribuição e a geração de energia.
A outra parte é o Ambiente de Contratação Livre (ACL)
no qual estão incluídos os consumidores que exercem a escolha e podem comprar a
energia diretamente dos geradores ou de comercializadores. As condições são
negociadas livremente em contratos bilaterais. O serviço de distribuição é pago
pelo cliente por meio de uma fatura a uma concessionária local com tarifa
regulada pelo governo e ainda uma ou mais faturas referentes à compra da
energia com o preço negociado no contrato.
"A empresa fará contrato com uma distribuidora e
passará a pagar duas faturas - uma à distribuidora pelo transporte e outra
para o fornecedor de energia", observou Daniela.
Segundo a administradora, no começo da venda de
energia o mercado regulado foi responsável pela expansão da geração no
Brasil, porque comprava toda a energia em contratos de 20 anos indexados à
inflação. "Era bom para o gerador, porque o preço ia subindo já que o
contrato era indexado, mas muito ruim para o consumidor. Imagina um contrato
indexado com período de 20 anos. Quando está na metade, a energia já é
extremamente cara e, no final, muito cara".
Vantagem
A vantagem da migração para o mercado livre é a redução
dos custos com a energia porque serão adquiridos contratos de geração de
energia
mais baratos do que os atuais no mercado cativo. Além disso, há
previsibilidade, porque no ato da compra já se sabe quanto será pago pela
geração. "Eu já sei qual vai ser o meu preço de geração de energia.
Não estarei suscetível às intempéries e aos ajustes dentro da energia
cativa", explicou.
De acordo com Daniela, quando o mercado livre surgiu
o consumidor questionou a permanência no mercado cativo com
tarifas mais elevadas.
"Nessa comparação começou a migrar e a ter uma demanda
muito grande para o mercado livre, ao ponto de começar a ser responsável
pela expansão. A demanda começou a ir mais para o mercado livre, mais
equilibrado para o consumidor em termos de preço. Não pesava tanto com
contratos longos e indexados", disse ela, acrescentando,que, em
sua maioria, as energias renováveis têm venda no mercado livre.
Crescimento
Outro sócio da Stima Energia, Erico Mello contou
que esse mercado começou a se movimentar a partir de 2001/2002, quando
houve a migração de grandes clientes como a Vale, Votorantim e outros
industriais. Em 2008 cerca de 20% da carga nacional era atendida pelo mercado
livre e desde aquele ano vem se desenvolvendo.
"Até por causa das renováveis - em que se tem uma
busca dos consumidores por contratos de longo prazo com geradores renováveis.
Eles querem ter certeza de que estão comprando energia numa eólica, numa
planta solar até de PCH, por exemplo, e por isso fazem contratos de longo prazo,
buscando a energia renovável no mercado livre. Esse foi um dos fatores do
crescimento do mercado nos últimos dez anos", disse à Agência Brasil, acrescentando, que embora tenha sido um
movimento gradual, a expansão do mercado livre baseada nas energias limpas se
consolidou a partir de 2016.
Para Mello, o mercado livre trouxe liquidez
ao ativo energia. Se o investidor quiser construir uma
planta atualmente não terá dúvidas porque sabe que haverá comprador para o
que for gerado. "Não precisa mais esperar um leilão do governo para fazer
a compra. Pode construir porque vai ter realmente um comprador para a energia,
pois existe liquidez no mercado", disse, comparando o investidor com um
produtor de soja ou de feijão que tem noção de venda garantida do seu produto.
Residenciais
Os consumidores residenciais ainda não têm permissão
para migrar para o mercado livre. Daniela Alcaro comentou que existem várias
associações e agentes do mercado de energia em frequente contato com o
Ministério de Minas e Energia reivindicando a abertura total do Livre, para que
todos possam se beneficiar da redução de custos.
A função da comercializadora é fazer todo o processo de
migração desse consumidor, que tem que comunicar à distribuidora, apresentar
uma série de documentos, estar ligado à comercializadora para que ela saiba o
consumo dele e informe à Câmara de Comercialização de Energia. Então, há
um processo para a contabilidade da medição da fatura e dos contratos,
feito por uma comercializadora varejista responsável por passar todas as
informações. Haverá um relógio medidor de energia para dizer quanto
ele está consumindo, o que poderá ser conferido junto com a fatura
da varejista.
,Segundo Daniela, quando o mercado livre começou a
crescer os consumidores questionaram porque permanecer no mercado regulado com
indexação tão forte e, por isso, custo elevado, no lugar de migar para o livre.
com contratos mais curtos e, portanto, com uma indexação de menor peso.
"Nessa comparação começou a migrar e a ter uma demanda
muito grande para o mercado livre ao ponto desse mercado ser responsável
pela expansão. A demanda começou a vir muito mais do mercado livre, muito mais
equilibrado em termos de preços para o consumidor, que os indexados",
afirmou, acrescentando que inicialmente todo tipo de energia era vendida
no regulado.
"Mais recentemente, a gente tem visto a geração crescer
em renováveis, com parques até mais baratos se pensar em uma usina hidrelétrica
ou estruturante como Belo Monte, que muito cara se comparada à solar,
eólica ou mesmo térmicas de biomassa, que são energias limpas e mais acessíveis
do ponto de vista de investimentos".
CCEE
O presidente do Conselho de Administração da Câmara de
Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), Alexandre Ramos, informou que
visando atender à Portaria nº 50/2023, do MME, e os requisitos aprovados
pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em reunião pública de
diretoria, o órgão "prontamente tomou e continuará tomando todas as ações
necessárias para garantir a realização da abertura do mercado livre de energia
para os clientes conectados em alta tensão, vigente desde o dia 1º de janeiro
de 2024".
Ele disse que com a abertura foi dado um passo
importante e defendeu a expansão permanente do mercado. "Entendemos que um
importante passo foi dado. Entretanto, propomos que a abertura do mercado, que
tanto defendemos, deverá, obrigatoriamente, ser realizada de forma contínua,
previsível e, principalmente, de maneira sustentável para o setor elétrico
nacional".
"A CCEE, em trabalho conjunto com o Ministério de
Minas e Energia, a Aneel e os agentes de mercado, se empenhou e continuará
trabalhando para que a migração das empresas abarcadas pela portaria ao mercado
livre ocorra de forma simples, eficiente e segura", completou.
A câmara foi criada em 2004, por meio de
lei federal, para viabilizar o comércio de energia elétrica no mercado livre do
Brasil.
Fonte: Agência Brasil / Fenacon