Reformulação do sistema de tributos atravessa
momento crucial de detalhamento das novas regras. Setor produtivo começa a se
articular para participar da regulamentação
Com a retomada dos trabalhos no Congresso Nacional, a reforma tributária
volta a ocupar espaço importante na agenda política e econômica. Promulgada no
final do ano passado, a Emenda Constitucional nº 132 estabelece as diretrizes
do novo sistema tributário. Cerca de 70 pontos ainda dependem de regulamentação
por meio de leis complementares.
Portaria publicada
recentemente pelo Ministério da Fazenda, MP 34/2004, cria o PAT-RTC (Programa
de Assessoramento Técnico à Implementação da Reforma da tributação sobre o
Consumo), responsável pela elaboração de anteprojetos de lei para regulamentar
a tributação do consumo.
De acordo com a Portaria 34,
uma comissão de sistematização será composta por um grupo de análise jurídica e
19 grupos técnicos, sendo 15 voltados à regulamentação do IBS (Imposto sobre
Bens e Serviços) e da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), o novos
tributos que serão criados.
Em paralelo às estratégias
do governo para tirar do papel a reforma que altera a tributação sobre o
consumo, o setor privado tem se articulado para participar das discussões e
contribuir com sugestões no momento da regulamentação.
No último dia 15, a
Associação Comercial de São Paulo (ACSP) convocou reunião com representantes do
Sescon-SP, Cebrasse (Central Brasileira do Setor de Serviços) e Sinfac-SP
(Sindicato das Sociedades de Fomento Mercantil Factoring) e outras entidades do
setor de serviços com o objetivo de acompanhar, monitorar e contribuir com o
processo de regulamentação da reforma tributária.
"A ideia é canalizar
esforços para minimizar, na regulamentação, os efeitos negativos da reforma,
como a transferência de carga tributária para o setor de serviços e o aumento
da burocracia gerado na transição entre os sistemas", disse o economista da
ACSP, Marcel Solimeo.
Até março, pelo menos três
projetos de lei devem ser enviados pelo governo ao Congresso Nacional. As
proposições vão tratar da regulamentação geral dos novos tributos, dentre
outros temas. Confira 10 pontos importantes da reforma que requerem
regulamentação
1 - Alíquotas do IVA
Precisam ser definidas as
alíquotas do novo IVA (Imposto sobre o Valor Agregado), composto pela CBS
(Contribuição sobre Bens e Serviços), federal, e pelo IBS (Imposto sobre Bens e
Serviços), estadual e municipal.
Durante o período de
transição, as alíquotas de referência serão estabelecidas e revisadas
anualmente pelo Senado Federal de modo a manter os mesmos níveis de arrecadação
dos atuais tributos.
2-Cesta básica
O texto da reforma
tributária cria uma cesta básica nacional de alimentos, que terá alíquota zero
de CBS e IBS. Os itens que comporão esta cesta serão detalhados em lei
complementar. Já há a definição de que produtos hortícolas, frutas e ovos terão
alíquota zero.
3-Cashback
A reforma prevê a devolução
de parte do imposto pago para as famílias de baixa renda. O modelo de cashback
poderá ser adotado mesmo com a desoneração da cesta básica e ainda será
detalhado em relação aos beneficiários, ao limite para devolução, vinculação ou
não a um tipo de consumo específico e também à forma como será feita a
devolução do tributo.
4-Alíquotas reduzidas
A reforma prevê reduções de
30% e 60% da alíquota padrão para setores e atividades específicas, como
aqueles ligados à saúde, educação e serviços prestados por profissionais
autônomos. É preciso detalhar quais categorias de produtos e serviços serão
beneficiados com a aplicação das alíquotas reduzidas.
5-Imposto Seletivo
Apelidado de Imposto do
Pecado, esse tributo foi criado para desestimular o consumo de produtos nocivos
à saúde e ao meio ambiente.
É necessário definir a lista
de produtos que estarão sujeitos a percentuais maiores de tributação.
6-Setor financeiro
A reforma estabelece a
instituição de um regime específico de tributação para os serviços financeiros,
dentre outros, que será estabelecido por meio de uma lei complementar.
Há possibilidade de mudanças
nas alíquotas, nas regras de creditamento e hipóteses de tributação com base na
receita ou faturamento.
7-Fundo de Desenvolvimento
Deve ser regulamentado por
lei complementar o Fundo de Desenvolvimento Sustentável dos Estados da Amazônia
e do Amapá.
O Fundo será constituído com
recursos da União, com a participação desses estados na definição de políticas
com o objetivo de fomentar o desenvolvimento e a diversificação das suas
atividades econômicas.
8-Regime fiscal da 'Pauta Verde'
Também requer aprovação de
lei complementar a criação de um regime fiscal favorecido para os
biocombustíveis e para o hidrogênio de baixa emissão de carbono, denominado
regime fiscal da 'Pauta Verde', de modo que tenham tributação menor que a de
combustíveis fósseis.
9-Imunidades
Os critérios da imunidade de
entidades filantrópicas e dos livros serão mantidos no IBS e estendidos para a
CBS. Uma lei complementar deverá detalhar como será essa sistemática.
10- Importação
As regras relacionadas à
tributação das importações e aos regimes aduaneiros considerados especiais
também serão definidas por meio de lei complementar. A reforma estabelece
que as mercadorias e os serviços importados, inclusive os digitais, terão
a mesma tributação aplicável aos nacionais.
Fonte: Diário do Comércio
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