Todos os meses, o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) divulga os dados da inflação oficial do país.
Junto com os números, que mostram a variação média do custo da cesta de compras
dos consumidores brasileiros, sempre aparecem termos como deflação, aceleração,
impacto e siglas como IPCA, INPC e IPCA-15, entre outros.
Para ajudar o leitor a compreender melhor
as informações divulgadas sobre esse assunto que afeta o orçamento de milhões
de pessoas, explicamos alguns termos que são usados por economistas e
jornalistas e também como esses índices são calculados.
O primeiro passo para entender de que forma
essas informações atingem o bolso dos brasileiros é compreender o conceito de
inflação, que nada mais é do que um aumento de preços.
Para adquirir determinado produto ou serviço,
é preciso pagar um valor, que muda com o passar do tempo. O preço de um pacote
de arroz, por exemplo, pode subir ou cair, dependendo de uma série de fatores,
como escassez do item ou aumento da procura.
Se o preço de um produto qualquer subiu de
R$ 10, em abril, para R$ 12 em maio, por exemplo, houve aumento de R$ 2, ou
seja, de 20%. Isto significa que houve inflação de 20% nesse produto
específico, no período de um mês (maio em relação abril).
Se, em junho, o preço do mesmo produto sobe
para R$ 17, percebe-se que houve aumento de R$ 5 em relação ao valor cobrado em
maio (R$ 12), ou seja, alta de 41,67%. Em junho, então, a inflação do item
chegou a 41,67%.
"Inflação é, na verdade, um aumento de
preços expresso em variação percentual. Se vamos ao supermercado e
identificamos que os produtos que compra subiram de preço, estamos pagando mais
caro por esses produtos, isso significa que a variação percentual dos preços
subiu", explica o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) Andre Braz, que
coordena os levantamentos de preços feitos pela instituição.
Aceleração
A cada mês, no entanto, os produtos
apresentam uma variação diferente. No caso do produto fictício citado acima, em
maio, a inflação ficou em 20%, enquanto em junho, a diferença em relação ao preço
do mês anterior foi 41,67%.
Nesta situação específica, houve aumento de
preços tanto em maio quanto em junho. Além disso, o percentual de aumento foi
maior em junho do que em maio. Nesse caso, dizemos que "a inflação acelerou",
"a inflação aumentou" ou "a inflação subiu" 21,67 pontos percentuais, ao passar
de 20% em um mês para 41,67% no mês seguinte, acrescenta o economista.
Ou seja, diz-se que a inflação aumentou ou
acelerou quando se comparam duas taxas de inflação de diferentes períodos. A
comparação é expressa em pontos percentuais porque mostra a diferença de uma
porcentagem em relação a outra porcentagem. Quando se calcula a diferença entre
41,67% e 20%, encontra-se 21,67 pontos percentuais.
Desaceleração
Em outra situação, destaca-se um produto,
cujo quilo custava R$ 30 em abril e passou a custar R$ 35 em maio e, depois, R$
36 em junho, as taxas de inflação seriam as seguintes: 16,67% em maio (já que o
preço subiu R$ 5 de abril para maio) e 2,86% em junho (já que aumentou R$ 1).
Nesse caso, o preço subiu nos dois meses,
mas a inflação apresentou um percentual menor em junho (2,86%) do que em maio
(16,67%). Por isso, dizemos que ela "desacelerou", "caiu" ou "diminuiu" 13,81
pontos percentuais entre os dois meses.
Dizer que a inflação desacelerou, diminuiu,
ou caiu, não significa dizer que os preços caíram. Pelo contrário, eles
continuaram subindo, por isso, registraram inflação. No entanto, apresentaram
em junho, aumento de preço (R$ 1) menor do que em maio (R$ 5).
"É um conceito básico. A inflação é um
aumento de preços." Quando a inflação cai, significa que os preços
aumentaram menos, mas continuaram aumentando. "Inflação menor não é queda
de preços, é aumento menor", ressalta o professor de economia do Instituto
Brasileiro de Mercado de Capitais
(Ibmec) Gilberto Braga.
Deflação
Se, em vez de aumento de preços de maio
para junho, houvesse queda de preços, isso significaria que houve deflação, ou
seja, um movimento inverso ao da inflação (alta de preços).
Por exemplo, caso o preço de um item
passasse de R$ 15 em maio para R$ 10 em junho, teria havido deflação de 33,33%.
Portanto, queda de inflação é diferente de
queda de preços (deflação). No caso da deflação, houve queda de preços em um
período na comparação com o período anterior. No caso da queda da inflação,
houve aumento de preços em um período, mas o crescimento foi menor ou menos
acelerado que no período anterior.
Impacto
Para calcular a variação de preços, os
pesquisadores consultam os valores cobrados em diversos estabelecimentos nas
principais cidades do país, durante um período naquele mês. É então calculado o
preço médio, com base nos valores apurados junto aos estabelecimentos, o qual é
comparado com aquele praticado no mês anterior.
"A gente sempre pesquisa os mesmos
produtos, as mesmas marcas e as mesmas unidades de medida, nos mesmos locais",
informa André Braz. "Fazendo uma média de todos os produtos pesquisados, a
gente consegue responder o quanto, em média, os alimentos, por exemplo, ficaram
mais caros ou mais baratos. E repete esse exercício para outras despesas que
vão além de alimentação, como gastos com habitação, com vestuário, com saúde,
com transporte. Tudo isso faz parte da cesta de consumo das famílias e também é
analisado.
Centenas de produtos e serviços são
pesquisados. Os itens a serem analisados são definidos a partir de outras
pesquisas, como a POF, a Pesquisa de Orçamentos Familiares, que estima o quanto
as famílias brasileiras gastam mensalmente, em média, com cada produto ou
serviço.
Com base nesse conhecimento, é possível
definir o quanto cada item, como feijão, escola do filho, gasolina, passagens
de ônibus, roupas, remédios e planos de saúde, entre outros produtos e
serviços, pesam no orçamento das famílias. A partir do peso de cada item e da
variação de preços, calcula-se o índice de inflação.
"É um cálculo estatístico que leva em
consideração hábitos de consumo da população. Ou seja, os itens têm graus de
importância diferentes dentro de uma fórmula estatística", explica Braga.
Quando se diz que a inflação em junho foi
0,5%, por exemplo, significa que o instituto de pesquisa fez um cálculo que
considerou as variações de preço de cada item e o peso que cada um deles tem no
orçamento das famílias.
O "impacto" de cada produto na taxa de
inflação avalia o quanto o preço variou e considera, ao mesmo tempo, o peso que
ele tem no orçamento das famílias. Por exemplo, um produto pode ter variado
20%, mas ter tido impacto quase nulo na inflação, porque seu peso é
irrelevante.
Por outro lado, um item pode ter variado 1%
e ter causado impacto considerável na inflação, porque tem peso importante na
cesta de compras das famílias.
Diferentes siglas
No Brasil, os principais institutos de
pesquisa que calculam a variação de preços periodicamente são o IBGE e a FGV. Ambos
têm diferentes índices de inflação, que variam de acordo com metodologias
e cestas de produtos/serviços pesquisadas.
O principal índice brasileiro é o Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), também chamado de inflação
oficial, calculado pelo IBGE, com base na cesta de compras de famílias com
renda entre um e 40 salários mínimos, e usado como referência para os governos
e economistas para definição de políticas econômicas, como o estabelecimento da
taxa básica de juros e o reajuste do salário mínimo.
Tem ainda o Índice Nacional de Preços ao
Consumidor (INPC), que considera a cesta de compras de famílias com renda entre
um e cinco salários mínimos. Determinados produtos têm mais peso no INPC que no
IPCA, como alguns itens alimentícios, enquanto outros têm menos peso.
Além deste, o IBGE divulga o IPCA-15, que é
uma prévia da inflação oficial, calculada com base em preços coletados até o
meio do mês, o Índice de Preços ao Produtor (IPP), que calcula o preço dos
produtos na saída das fábricas, e o Sinapi, que mede a variação do custo da
construção civil no país.
Já a FGV divulga indicadores como Índice de
Preços ao Consumidor Semanal (IPCS), que mede a variação de preços no varejo
semanalmente, e o Índice Geral de Preços (IGP), que inclui preços no atacado,
no varejo e na construção.
Fonte:
Agência Brasil