FecomercioSP defende a Reforma Administrativa na Comissão de Assuntos
Econômicos do Senado e alerta acerca dos impactos que as empresas do regime
sofrerão
Desde o início das discussões sobre a Reforma
Tributária, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e
Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) defende a Reforma Administrativa para equilibrar as contas
públicas e diminuir a necessidade de aumentar a já exacerbada carga tributária
nacional.
Na última
semana, Sarina Sasaki Manata, assessora da Entidade, esteve presente por duas
vezes (1º e 3 de outubro de 2024) nas audiências públicas da Comissão de
Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal para expor os impactos que as
empresas do Simples Nacional sofrerão se o texto do Projeto de Lei Complementar
(PLP) 68/2024, aprovado na Câmara dos Deputados, for mantido.
Na explanação inicial, Sarina chamou a atenção para
o fato de o regime especial ser utilizado para sanear as contas públicas, que
deveriam ser revistas em uma reforma propícia. "Enquanto discutimos formas de
manter o Simples Nacional competitivo na Reforma Tributária, vemos notícias no jornal falando que o Ministério do Planejamento quer
reestruturá-lo para equilibrar as contas. O governo deveria
restringir o regime ou reestruturar os próprias gastos para conter essa ânsia
arrecadatória?", provocou a assessora.
Na visão da
FecomercioSP, com menos burocracia, um funcionalismo público otimizado e despesas
racionalizadas, o Estado contribuiria para atrair investimentos ao ambiente de
negócios e elaborar políticas públicas em áreas prioritárias - como Segurança
Pública, Educação e Saúde -, bem como poderia investir e promover mudanças
estratégicas em setores como Infraestrutura e Comércio Exterior, além da
digitalização de serviços públicos.
Defesa
do Simples Nacional
As preocupações
dos representantes das micro e pequenas empresas, desde o início das discussões
da regulamentação da Emenda Constitucional (EC) 132/2023, não são setoriais ou
oriundas de um nicho específico que busca algum benefício fiscal. Os prejuízos
da Reforma Tributária afetarão 74% das empresas brasileiras, que são optantes pelo Simples Nacional e perderão competitividade,
se o texto do PLP 68/2024 não sofrer alterações no Senado.
Hoje, a
legislação permite que esses negócios possam transferir integralmente os
créditos de PIS/Cofins no montante de 9,25%. Trata-se de um dispositivo que
garante competitividade e tratamentos diferenciado e favorecido, assim como
determina a Constituição Federal.
Com a reforma, as Pequenas e Médias Empresas (PMEs)
somente poderão transferir crédito do IBS e da CBS sob o tributo pago no regime
único, ou seja, um retrocesso quanto às regras atuais, que permitem a
transferência igual a uma empresa de grande porte. "Fala-se, a todo momento,
que o tratamento diferenciado do Simples Nacional será mantido na Reforma
Tributária, que é um direito garantido pela Constituição Federal, mas
testemunhamos o sistema diferenciado sendo tolhido constantemente", apontou
Sarina.
Se um fornecedor
permite um crédito integral (28%), e outro um porcentual bem inferior (de 4% ou
7%, nos exemplos apresentados), é fácil prever o resultado: a pequena empresa
vai perder negócios. "Os negócios atuantes no meio da cadeia produtiva serão
duramente impactados pela não transferência integral do crédito", salientou a
assessora da FecomercioSP.
A nova
legislação permite que empresas do Simples Nacional que desejem ofertar o
crédito integral nas operações optem pela exclusão dos novos tributos no regime
único. Isso significa que as Pequenas e Médias Empresas deixarão de arcar com
uma carga tributária reduzida para assumir a alíquota de 28%, assim como fazem
as grandes. Em termos práticos, haverá um esvaziamento do regime único, já que
restarão apenas o IRPJ e a CSLL, além da contribuição previdenciária patronal,
conforme o caso.
"Essa opção
seria desastrosa para diversos negócios, levando muitos deles a fecharem as
portas. O Comércio atacadista e o setor de Serviços serão
os mais prejudicados, pois não terão direito à transferência de crédito
integral. Para o segundo, o impacto ainda é mais significativo - uma vez que
grande parte dos seus gastos é oriunda da folha de pagamentos -, com enorme
elevação da carga tributária caso essas empresas escolham excluir o IBS e a CBS
da base de cálculo", afirmou.
Em uma simulação
de cenários, Sarina demonstrou que uma Microempresa (ME) e uma Empresa de
Pequeno Porte (EPP) terão aumentos de 228,13% e 146,64%, respectivamente, com o
novo sistema.
Desestímulo a 74% das empresas,
responsáveis por 29,2% dos empregos
Deixar o
empresário optante pelo Simples Nacional entre a "cruz e a espada", ou seja,
numa situação de ter que escolher entre permanecer no regime e perder negócios
ou calcular o IBS e a CBS como uma empresa de grande porte e ter aumento da
carga tributária, tornará o modelo pouco atrativo para muitos setores.
Além disso, "o
contribuinte do Simples Nacional somente aproveitará a desoneração da cesta
básica ou outras alíquotas reduzidas do novo sistema, inclusive a incidência
monofásica de combustíveis, se optar por recolher IBS/CBS pelo regime normal",
afirmou José Clovis Cabrera, representante da Confederação das Associações
Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB).
Segundo ele, que
também é membro do Conselho de Assuntos Tributários da
FecomercioSP, as empresas que comercializam diversos tipos de produtos, como o
varejo, perceberão que o Simples Nacional será desvantajoso e migrarão para
outros regimes.
De acordo com
Edgard Vicente Fernandes Júnior, coordenador do Núcleo de Assessoria
Legislativa do Sebrae Nacional, o Simples é indispensável para a sobrevivência
dos negócios, principalmente nos primeiros dois anos de atividades. "Sem esse
regime, muitas empresas não passariam pelas adversidades dos primeiros anos de
mercado. Por isso, qualquer mudança deve considerar que 96% das empresas
formais do País estão nesse grupo, responsáveis por 80% dos empregos com
carteira assinada", ponderou.
Fantasia
do imposto neutro
Outra questão importante
levantada durante a audiência pública foi a desmistificação da tese do imposto
neutro. Na visão de Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, representante da
Federação Nacional das Empresas Prestadoras de Serviços de Limpeza e
Conservação (Febrac), a Reforma Tributária, na prática, vai elevar o preço
final dos contratos, diminuindo a demanda por serviços.
"A
alegação do governo é de que isso não vai afetar a margem de lucro da empresa,
porque terá o crédito de todo o imposto que paga. Mas é uma situação imaginária
que passou para o debate público. A situação real é que, à medida que o preço
sobe, a demanda cai. O imposto nunca é neutro. Com ou sem creditamento",
afirmou o ex-secretário Especial da Receita Federal do Brasil.
Luta
pela isonomia
A FecomercioSP e
os sindicatos filiados defendem uma reforma equilibrada, sem o aumento de carga
e que promova a simplificação, a modernização e a desburocratização do sistema
tributário. A legislação atual, fruto de debates há três décadas, penaliza o
empresariado e prejudica o ambiente de negócios. É importante que essa mudança
aconteça preservando os pilares da economia nacional, e não os enfraquecendo.
A Entidade continuará participando do debate da regulamentação da
Reforma Tributária no Congresso para garantir a isonomia fiscal
entre os setores produtivos e a manutenção da carga tributária atual, bem como
mobilizando o Poder Público sobre a necessidade de o governo avançar em medidas
para reduzir os próprios gastos.
Fonte:
FecomércioSP, com edição do texto pela M&M
Assessoria Contábil