Decisão vem após onda de fake news e
repercussão negativa; governo irá editar MP para garantir que sistema de
pagamentos não será taxado
O
governo federal recuou e decidiu revogar a norma da Receita Federal sobre
monitoramento das movimentações financeiras, incluindo o Pix e outros
meios como cartão de crédito, após repercussão negativa e uma onda de fake
news. A informação foi confirmada pelo secretário da Receita Federal, Robison
Barreirinhas. As declarações foram feitas após reunião com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, na tarde desta
quarta-feira.
Levantamento: Número
de transações de Pix tem maior queda desde implementação do sistema após fake
news sobre taxação Pix acima de R$ 5 mil: em meio a disseminação de
informações falsas, confira mitos e verdades
-
Nos últimos dias pessoas inescrupulosas distorceram um ato da Receita, causando
pânico. Apesar de todo nosso trabalho, esse dano é continuado. Por isso, decidi
revogar esse ato - disse o secretário, ao lado dos ministros Fernando
Haddad (Fazenda) e Jorge Messias (Advocacia-Geral da União)
A
Receita passou a receber dados transações das operadoras de cartão de crédito
(carteiras digitais) e das fintechs para movimentações acumuladas acima de R$ 5
ml por mês para pessoas físicas. Isso vale tanto para o Pix como para outras
formas de transferência de recursos. Antes, apenas bancos tradicionais eram
obrigados a informar os dados (leia mais abaixo).
Além
das fake news, golpistas aproveitaram o momento para tentar tirar dinheiro
de quem usa o Pix. O governo federal já anunciou que pretende acionar a Justiça
contra esses criminosos.
Governo
editará MP
Além da revoação da Instrução Normativa (IN) da Receita Federal, o ministro da
Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo irá editar uma medida provisória
(MP) para garantir que o Pix não será taxado.
- A
revogação do ato (da Receita) é para dar forca para uma medida provisória que
irá reforçar os princípios tanto da não oneração do Pix, quanto das cláusulas
de sigilo bancário - disse Haddad. - A MP equipara pagamento com PIX a
pagamento em dinheiro. Lula está para assinar uma MP para reforçar gratuidade e
sigilo do Pix.
Haddad
disse que a MP vedará cobrança de valor diferente entre dinheiro vivo e Pix.
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Nós não queremos contaminação de fake news para discutir o que está na lei.
Quer discutir o texto de lei, vamos discutir. Mas inventar pretexto para querer
mais uma vez manipular a opinião pública e deixar dúvida no ar enquanto tramita
a medida provisória - disse o ministro da Fazenda. - O estrago está feito por
esses inescrupulosos, inclusive senador e deputado federal agindo contra o
estado brasileiro.
O
ministro disse que a revogação da norma foi feita para "evitar
distorção". Ele reforçou que o governo irá buscar responsabilização
judicial contra aqueles que espalharam fake news ou promoveram golpes a partir
das mudanças.
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Essas pessoas vão ter que responder pelo que fizeram, mas não queremos
contaminar a tramitação da MP, até que de fato se esclareça no Congresso o que
aconteceu nos últimos dias sobre uma coisa séria que a Receita está fazendo.
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não cobra imposto, mas amplia radar da Receita: veja perguntas e respostas
sobre o que realmente mudou
O ministro da Fazenda disse que existe uma lei de 2001 que garante à Receita
Federal e às eceitas estaduais uma série d einformações.
Blindar
o Pix, diz AGU
- Mas a IN (instrução normativa) para não dar força às fake news sai de cena
para reforçar a gratuidade e o sigilo do Pix - disse Haddad. - Vamos dialogar
com os governos estaduais para ter um regramento que atenda o país, não a esse
ou aquele governo.
O
advogado-geral da União, Jorge Messias, acrescentou que o objetivo da MP é
"blindar o Pix de mentiras":
-
Em razão desses crimes e golpes, determinamos que a AGU ainda hoje notifique a
PF para a abertura de inquérito. Para investigar os autores da desordem da
informação. É crime contra a economia popular. Estamos notificando também a
Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor.
Haddad
fala em diálogo
O ministro da Fazenda disse que irá dialogar para chegar a um "denominador
comum" sobre o tema por meio da medida provisória.
-
Queremos combater o crime organizado, o tráfico, os crimes cibernéticos?
Precisamos de informações. Quais são as informações relevantes para combater o
crime? Vamos chegar (nelas) - afirmou,
Para
Haddad, isso precisa ser um projeto de Estado, e não de um governo.
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Tem que ser um projeto de Estado. Não pode acusar o governo A, B ou C.
O
ministro reforçou a necessidade de combater crimes e golpes.
Haddad
lembrou que, desde 2001, tem um regramento sobre as operações e que as chamadas
fintechs fornecem as informações voluntariamente. Essas empresas, segundo
Haddad, pediram para estar dentro do guarda-chuva institucional da Receita e
vão continuar fornecendo os dados.
-
Se queremos combater o crime, precisamos informações. No mundo inteiro, se
combate o crime com inteligência - disse o ministro. - A medida foi feita em
colaboração com as fintechs. Nenhuma empresa séria quer contribuir com o crime
organizado.
O
que dizia a norma
Toda a polêmica surgiu após a forte repercussão da norma da Receita Federal que
ampliou a fiscalização sobre as movimentações financeiras de consumidores e
empresas. Há um temor disseminado na população de que as garras do leão
alcancem mais pessoas e empresas, principalmente aquelas que atuam como
autônomos e informais. A Receita nega que o objetivo seja pegar os pequenos.
O
órgão passou a exigir das chamadas fintechs algo que já era cobrado dos bancos
tradicionais: notificar movimentações globais a partir de um determinado valor.
Movimentações
acima de R$ 5 mil para pessoas físicas em Pix ou em outras transações
financeiras, como TED e cartão de débito serão informadas à Receita.
A
diferença é que agora instituições de pagamento, como fintechs, também deverão
prestar essas informações. Como nos últimos anos, elas conquistaram fatia
relevante do mercado, isso aumenta a abrangência de operações às quais a
Receita terá acesso.
O
órgão garante, porém, que a coleta de informações é direcionada ao combate de
operações suspeitas, de grandes sonegadores, não ao monitoramento de
trabalhadores informais ou pequenos empreendedores.
No
caso dos clientes dos bancos tradicionais, que já tinham movimentações
informadas, o limite foi alterado de R$ 2 mil para R$ 5 mil, que será o valor
uniforme para todas as instituições financeiras. No caso de pessoa jurídica, o
patamar foi elevado de R$ 5 mil para R$ 15 mil.
A
Receita só recebe os valores totais movimentados mensalmente e proíbe que sejam
informados detalhes de transações, como origem ou destino dos pagamentos.
Vídeo
de deputado pressionou governo
Em vídeo que ultrapassou 100 milhões de visualizações no Instagram, o deputado
Nikolas Ferreira (PL-MG) sugere que o aumento da fiscalização das transações
poderia representar no futuro a taxação das movimentações via Pix.
- O
governo Lula vai monitorar seus gastos. E o Pix não será taxado, mas é sempre
bom lembrar. A comprinha da China não seria taxada, mas foi. Não ia ter sigilo,
mas teve. Você ia ser isento do imposto de renda, não vai. O Pix não será
taxado, mas não duvido que possa sim. Quem mais será afetado por esta medida
serão os trabalhadores, que serão monitorados como se fossem grandes
sonegadores - diz Nikolas no vídeo.
O
impacto do vídeo provocou preocupação no Palácio do Planalto e motivou a
convocação de uma reunião com ministros e outros integrantes do governo para
debater o assunto. O presidente Lula mudou a chefia da Comunicação Social e
escalou o publicitário Sidônio Pereira justamente por avaliar que a gestão
petista vem perdendo a batalha nas redes sociais para a oposição.
Fonte: G1