A Frente
Parlamentar Agropecuária (FPA) e a Frente Parlamentar do Empreendedorismo
(FPE) lideram um movimento para derrubar o veto do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva na lei que regulamentação a reforma
tributária, e que abre caminho para a tributação dos Fundos de
Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro).
"Vamos trabalhar para derrubar esse veto. Precisamos aguardar a eleição da
presidência da Câmara e do Senado [em fevereiro/2025]. Em seguida, vamos
solicitar uma sessão no Congresso para que esse e outros vetos sejam pautados e
analisados", afirma à EXAME o deputado Arnaldo Jardim
(Cidadania-SP), um dos idealizadores do Fiagro.
Segundo Jardim, as
articulações entre a bancada do agro e outras frentes já começaram,
mas ainda não há prazo definido para a votação do veto. "Ainda temos tempo
para tratar essa questão com calma", diz o parlamentar.
Em nota nesta
sexta-feira, 17/01/2025, a FPA afirmou que trabalhará no Congresso Nacional
para derrubar o veto presidencial, "assegurando o tratamento adequado aos
fundos, promovendo a inclusão de pequenos investidores e fortalecendo o
desenvolvimento econômico sustentável do Brasil".
Reação da
bancada do agro
A reação da bancada
agropecuária ocorre um dia após o presidente Lula sancionar a
regulamentação da reforma tributária. Na quinta-feira, 16/01/2025, Lula vetou a
isenção de tributos para fundos de investimento e patrimoniais, como os
Fiagros, que agora deixam de ser isentos dos novos impostos Contribuição
sobre Bens e Serviços (CBS) e Imposto sobre
Bens e Serviços (IBS).
Segundo
o governo, a decisão foi tomada com base em critérios jurídicos. "O que
exorbitou da esfera constitucional, que seria de benefício fiscal ou não, foi
vetado. Não havia amparo constitucional expresso para que fundos de
investimento e fundos patrimoniais fossem considerados como beneficiados pelo
IBS e CBS", diz Cesar Carrijo Capi, representante da Advocacia-Geral da
União (AGU).
O
entendimento da AGU, porém, não é unânime entre os especialistas. Para Douglas
Mota, sócio da área tributária do Demarest Advogados, a questão depende de
como a Constituição será interpretada. "Esse não é um assunto totalmente
novo, mas ainda não foi testado no Judiciário, então não dá para dizer
exatamente como isso será encaminhado", afirma.
A
alíquota para a tributação dos fundos ainda não foi definida e pode variar
entre 26,5%, como previsto na lei, e 28%.
Tributação de
Fiagros
A
decisão do governo de vetar a isenção tributária para os Fiagros
também repercutiu na Faria Lima, mercado financeiro do país, que considera o
fundo uma ferramenta essencial para o investimento e financiamento das cadeias
produtivas.
Em
um cenário de escassez de crédito, muitos acreditam que o veto agrava ainda
mais a situação, especialmente porque consideram as medidas do Plano Safra
insuficientes para atender à demanda do setor.
"Se
o papel se torna menos rentável por conta dos impostos, o investidor pode optar
por outras alternativas. Para atrair interessados, será necessário oferecer uma
remuneração maior, mas, ao fazer isso, o custo adicional recairá sobre quem
está empreendendo", diz David Télio, diretor de Novas Estruturas
Financeiras da TerraMagna.
Télio
também ressalta que o impacto da tributação será direto. "Tudo que o fundo
paga em impostos impacta diretamente a rentabilidade das cotas. É automático:
se o fundo paga imposto sobre sua receita, sobra menos margem para remunerar o
investidor", afirma.
Na
avaliação de Octaciano Neto, sócio e fundador da Avra, a
tributação pode reforçar o impacto de uma eventual alta na taxa básica de juros
(Selic), comprometendo ainda mais a atividade econômica do país. "O
governo dá mais um tiro no pé da economia, interrompendo o crescimento do
mercado de capitais como ferramenta de financiamento de longo prazo para a
economia nacional", afirma.
Apesar
das preocupações, a tributação dos Fiagros não entrará em vigor imediatamente.
O início da cobrança - se mantido - será gradual, a partir de 2027, com
previsão de se estender até 2033. Esse intervalo ainda permite margem para
negociações e ajustes, o que pode se tornar uma oportunidade para o setor.
O que muda
com a regulamentação
O presidente
Lula sancionou o principal projeto de lei de regulamentação da reforma
tributária. Apesar de aplicar vetos considerados "pontuais" por
questões técnicas, Lula manteve trechos que atendem a interesses de setores
econômicos específicos, como o polo industrial da Zona Franca de Manaus (ZFM).
Os
vetos da agora Lei Complementar 214 serão analisados pelo Congresso, que pode
mantê-los ou derrubá-los.
Entre
os pedidos não atendidos, está o das entidades dos setores de energia, petróleo
e gás, como o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), que pressionavam
pelo veto integral do artigo 441 do Projeto de Lei Complementar (PLP) 68/2024.
Lula
reuniu sua equipe na quarta-feira, 15/01/2025, para discutir os detalhes da
sanção e os vetos. O texto havia sido aprovado pelo Congresso no final de
dezembro/2024, pouco antes do recesso parlamentar. Agora, com a sanção
presidencial, a reforma tributária avança para uma nova etapa, mas os vetos
prometem ser alvo de debate intenso no Congresso Nacional.
Saiba mais sobre a
Reforma Tributária. Acesse:
https://www.mmcontabilidade.com.br/Materia.aspx?id=23939
Fonte:
Exame, com edição do texto pela M&M
Assessoria Contábil