Com previsão de implementação total em 2033, mudança já
mobiliza empresários, que estão de olho em adaptações durante "período de
transição"
A reforma
tributária promete impactar negócios de diversos segmentos e tamanhos, e
não é diferente com as pequenas e micro empresas (PMEs).
Com previsão
de implementação total em 2033, a mudança já mobiliza empresários que
estão de olho em adaptações durante o chamado "período de transição", que
compreende os meses de janeiro a dezembro de 2026.
Para grande parte
dos empreendedores, porém, o tema já é imperativo. Segundo dados da Sondagem
Omie das Pequenas Empresas, pesquisa da plataforma de gestão (ERP) na nuvem
Omie, 65% dos líderes, entre CEOs, diretores, sócios, gerentes e
empresários, acreditam que as novas regras afetarão diretamente os seus
negócios.
Dentre as mudanças
mais sensíveis está a unificação de cinco diferentes impostos em dois
novos tributos que irão compor o Imposto sobre Valor Agregado (IVA).
Como a reforma
tributária afeta as PMEs
Embora
a reforma tributária isente pequenos empreendimentos e
microempreendedores individuais (MEIs) de novos encargos e se limite a empresas
que fazem parte dos regimes Lucro Real e Lucro Presumido, é possível que as
mudanças forcem as PMEs a se adaptarem de forma compulsória, uma vez que
precisam se adequar ao contexto geral do mercado.
Um exemplo desses
impactos é o aumento da complexidade fiscal, já que os dois regimes (antigo e
atual) coexistirão de forma simultânea durante o período de transição.
"A convivência entre
os dois regimes tende a aumentar a complexidade da gestão fiscal, impactando
especialmente as pequenas empresas, que geralmente possuem menos recursos para
lidar com mudanças estruturais", diz Felipe Beraldi, economista e gerente de
Indicadores e Estudos Econômicos da Omie.
Para além da
unificação da arrecadação, a criação do IVA também serve de alerta
para empresas que hoje se apoiam no sistema de créditos para o cálculo de suas
isenções tributárias.
Na prática, o novo
sistema não mais permitirá o acúmulo de pontos, ou "créditos" cumulativos a
cada etapa da cadeia.
Grandes empresas
passaram a ser tributadas pela diferença entre o valor de vendas e gastos.
Já empresas
do Simples Nacional interessadas em acumular créditos tributários em
totalidade deverão recolher o IVA separadamente.
Para empreendedores,
isso exigirá ainda mais planejamento, pontua o especialista.
"Isso exigirá uma
organização estruturada para gerenciar esse processo de forma adequada, com o
objetivo de que seja tomada a melhor decisão para o negócio", diz.
"A capacidade de
adaptação será essencial para garantir competitividade e sustentabilidade
financeira".
Por fim, além da
criação do IVA, alguns setores ficarão expostos ao Imposto Seletivo (IS),
também conhecido como "Imposto do Pecado", uma tributação extra e de
competência federal que tem como objetivo desestimular o consumo de produtos
considerados prejudiciais à saúde e ao meio ambiente.
Impacto no B2B
O especialista
também aborda os impactos para as PMEs que integram as cadeias produtivas de
outras empresas, ou seja, que atuam no B2B.
Para esses negócios,
explica, o impacto será sentido indiretamente graças ao novo sistema de
créditos.
A análise geral é de
que muitas delas serão prejudicadas e terão seus contratos revistos por seus
compradores, caso não se adequem ao novo sistema, já que não poderão oferecer
créditos em cada etapa da cadeia, como é atualmente - e, assim, deixem de ser
fornecedoras vantajosas para as grandes empresas.
De acordo com Liêda
Amaral, sócia da BSSP Consulting, consultoria tributária voltada a pequenas e
médias empresas, a dinâmica também pode impactar o caixa das empresas de
pequeno porte.
"As grandes empresas
frequentemente pressionam seus fornecedores, incluindo PMEs, a reduzir custos e
manter algum grau de conformidade com todas as regulamentações fiscais. Com a
reforma tributária, se as PMEs não possuírem uma boa gestão dos créditos
tributários, podem acabar absorvendo mais custos, reduzindo sua lucratividade",
diz.
Já Anderson Trautman
Cardoso, sócio da área Tributária do Souto Correa Advogados, a reforma
tributária traz mudanças significativas para empresas de todos os portes,
incluindo optantes do Simples Nacional.
Segundo ele,
a simplificação da tributação representa um avanço importante, mas a
possibilidade de aproveitamento de créditos será o grande diferencial do novo
sistema.
"Nesse ponto, os
negócios de menor porte, optantes pelo Simples Nacional, tiveram sua competitividade
afetada, pois não poderão gerar crédito integral de IBS e CBS, sendo
possibilitado o crédito apenas do montante recolhido no regime optativo",
explica.
De acordo com
Cardoso, o novo sistema permite que essas empresas possam aderir ao regime geral
de tributação do consumo.
"Ou seja, apenas do
IBS e da CBS, podendo beneficiar seus clientes com os créditos integrais, o que
assegura alternativa para manutenção de sua competitividade".
Dicas para PMEs se
adaptarem
Para estarem aptos a
encarar as mudanças aplicadas, ainda que de forma gradual, antes das novas
normas entrarem em vigor, muitos empreendedores devem aproveitar o ano de 2025
para implementar mudanças sutis na gestão fiscal e tributária de seus negócios.
Beraldi afirma que é
preciso atenção redobrada ao cronograma final da implementação da reforma,
que se inicia gradualmente em 2026 e vai até 2033, além das alterações
da carga tributária final.
"Será uma longa
transição, que deve começar o quanto antes, uma vez que as mudanças podem
afetar, além da carga tributária, a competitividade e, até mesmo, a
sustentabilidade financeira das empresas", afirma.
De acordo com o
economista, a falta de preparação pode causar um controle inadequado do fluxo
financeiro do negócio, o que leva a riscos de auditorias fiscais e
investigações por parte da Receita Federal.
Os especialistas
também elencam dicas gerais para empresas que estão decididas a aproveitar o
ano de 2025 para preparar-se para a mudança e seus respectivos impactos que
virão. Veja abaixo:
Prepare-se com
antecedência
A proposta da nova
reforma tributária é trazer simplificação. Contudo, para aproveitar as
oportunidades de negócios que as novas regras podem oferecer, é necessário
preparação antecipada, o que começa pela atenção às discussões legislativas e
também por uma adaptação voluntária e antecipada, avalia Beraldi.
"Deixar para a
última hora pode ser um risco significativo para a competitividade, fluxo de
caixa e relação com fornecedores e clientes", diz Beraldi, da Omie.
Repense o preço de produtos
e serviços
Os impactos
da nova carga tributária podem forçar muitos estabelecimentos a
reajustar preços de produtos e serviços. Essa adequação, se feita de maneira
brusca, pode comprometer o relacionamento com clientes e fornecedores.
O recomendado,
segundo Beraldi, é acompanhar de perto os possíveis impactos da reforma e,
assim, antecipar ajustes graduais para que relações comerciais de longo prazo
não sejam afetadas.
Conheça mais sobre
os novos encargos
O desconhecimento de
empreendedores sobre a existência e função de alguns encargos e tributações
pode causar problemas de gestão em muitas empresas.
É o caso do IVA, mas
também do "Imposto do Pecado", que recai especificamente a empresas que
comercializam produtos considerados danosos à saúde e ao meio ambiente, como
cigarros, bebidas alcoólicas, entre outros.
Considere o regime
tributário atual
A mudança de regime
tributário para o Lucro Presumido ou Lucro Real passa a ser uma opção para
empresas que desejam acumular crédito em totalidade, o que traz consigo um
desafio estrutural.
Ao escolher deixar o
Simples Nacional, que presume uma dinâmica mais simples de tributação - como
bem sugere o nome - as PMEs podem encarar uma maior complexidade fiscal e a
exigência por um controle ainda mais rigoroso das finanças.
Já para empresas que
decidirem permanecer no Simples, mas passem a recolher o IVA de maneira isolada
para o acúmulo de créditos, é possível que haja uma maior tributação final.
Busque apoio
profissional
A adaptação lenta e
gradual e os desafios envolvendo sua complexidade fazem da associação com
parceiros de negócio especializados um dos caminhos mais promissores durante o
período de transição.
Amaral destaca a
importância de empreendedores considerarem a contratação de consultorias
especializadas, além de investir em tecnologia e capacitação contínua da sua
equipe.
"Superar os desafios
da gestão financeira e tributária exige planejamento, uso de tecnologia e busca
constante por conhecimento", diz.
"Investir em
conhecimento, tecnologia e consultoria especializada durante o período de
transição pode garantir uma adaptação mais tranquila e vantajosa."
Para além da
capacitação dos funcionários, a adoção de tecnologia pode ser um caminho
promissor ao longo dos próximos dois anos.
Enquanto a longo
prazo, o uso de ferramentas de gestão e controle fiscal e a familiaridade com
as novas normas da reforma, haverá uma redução significativa de erros e também
mais agilidade na gestão de pequenos negócios.
Aprenda a lidar com
dados
Com as alterações
legislativas, as pequenas empresas serão forçadas a lidar com um volume ainda
maior de dados, além de conhecer os indicadores financeiros que conduzem o
negócio.
Para isso, Beraldi
indica que é necessário se apoiar em softwares de gestão (ERPs) que tragam mais
autonomia e eficiência aos empresários.
"Quanto antes essas
ferramentas forem adotadas nas operações, mais preparados e municiados os
empreendedores estarão para tomar as melhores decisões em seu planejamento
tributário", conclui.
Saiba mais sobre a
Reforma Tributária acessando: https://www.mmcontabilidade.com.br/Materia.aspx?id=23939
Fonte: CNN